O "Tempo Glauber", fundado por sua mãe, Lúcia Rocha, vinha enfrentando dificuldades para prosseguir com suas atividades e manter o acervo intelectual do cineasta. O aval da ministra da Cultura vai permitir a continuidade da catalogação de mais de 50 mil documentos deixados por Glauber, assim como cursos de capacitação voltados para a produção audiovisual.
A homenagem a Glauber foi proposta pela senadora Lídice da Mata (PSB-BA) que, durante a sessão solene, ressaltou o perfil de pesquisador do cineasta. De acordo com a senadora, ele saiu em campo para ver de perto o sofrimento das famílias no interior do Brasil. Foi presenciar a opressão política e climática que foram matéria prima para diversos filmes seus. Foi também, segundo ela, um consumidor voraz de livros de autores brasileiros, entre eles Jorge Amado e, principalmente, José Lins do Rego.
"Ao lado das lições da ficção nordestina, Glauber mergulhou também na sociologia de Gilberto Freire, antes de se aventurar pelas terras ásperas e longínquas que desejava pesquisar, para completar o conhecimento da terra iniciado em Vitória da Conquista", afirmou Lídice.
JUSTA HOMENAGEM
Para o Senador Walter Pinheiro(PT/BA) que também participou da sessão, parabenizou a senadora Lidice pela iniciativa assinalando tratar-se de uma justa homenagem a alguém que sabia, com a sutileza do sertanejo, do caatingueiro, tocar nessas questões da cultura local, transformando-a em ferramenta capaz de sacudir um país, uma nação, rompendo os costumes.
A homenagem ao diretor envolveu todos os órgãos de comunicação do Senado. Os três principais filmes de Glauber - Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade contra o Santo Guereiro - foram exibidos pela TV Senado aos domingos durante o mês de agosto. A Rádio Senado produziu um programa sobre as trilhas sonoras dos filmes de Glauber e a Agência e Jornal do Senado fizeram matérias especiais sobre os 30 anos de seu falecimento.
Nascido em 1939, em Vitória da Conquista (BA), Glauber Rocha aos 13 anos fazia já críticas de cinema, no programa Close-up, da rádio sociedade da Bahia. Aos 19, realizou Barravento e estreou na direção de longa-metragem, com o qual ganhou o Prêmio Opera Prima no Festival Internacional de Cinema de Karlovy-Vary, na Tchecoslováquia. Com Deus e o Diabo na Terra do Sol, de 1963, um épico sobre violência e religiosidade no sertão, conquistou o sucesso de crítica e público e passou a ser reconhecido internacionalmente como um gênio do cinema mundial. Ao morrer precocemente em 1981, aos 42 anos, deixou 10 longas-metragens, além de documentários, poesias, roteiros, artigos e livros sobre cinema.