Neste momento de crise pela qual passa a nossa Municipalidade, manifesto primariamente que a enxurrada de notícias veiculadas nos últimos dias e que atingem fortemente a imagem da Câmara de Vereadores de Salvador tem me deixado abismado. Não apenas pelas notícias, até porque veste a carapuça quem lhe cabe, mas pelo contexto, pela dimensão e principalmente pelos caminhos que tudo isso pode nos levar.
Primariamente, uma das coisas que tem me deixado intrigado é a parcimônia do presidente recém eleito. Enquanto a Câmara Municipal de Salvador está sendo alvejada de todos os lados, o "nosso" excelentíssimo presidente, que deveria ter como uma de suas atribuições precípuas, zelar pela imagem do legislativo municipal se calou, sumiu, ninguém viu.
Aliás, viu sim, está a fazer visitas de cortesia a instituições outras, como se nada estivesse acontecendo, quando "teria sido de bom tom" atender a solicitação dos demais representantes da mesa diretora, para que uma reunião extraordinária fosse realizada ainda na quarta-feira, bem como se pronunciar perante a opinião pública em defesa da reputação da instituição que lhe é imputada a prerrogativa de representar.
Não obstante, se tem gente aceitando de bom grado o que tem sido dito por aí, este vereador que vos fala está, na verdade, profundamente constrangido e morrendo de vergonha (até porque, aos 63 anos, isto eu ainda tenho de sobra) com tudo que está sendo bradado aos quatro cantos.
Por esse motivo, sem ter a pretensão de representar os meus pares, tarefa que não me foi delegada, mas fazendo jus ao exercício do meu mandato, faço as seguintes considerações.
Uma das notícias mais comentadas menciona que a recente reforma do secretariado municipal, supostamente, seria para "agradar" a Câmara Municipal e fortalecer a base aliada?! Das duas, uma: ou esta foi a forma mais interessante de comentar o assunto, ou foi mais uma das "hábeis articulações" que tem ocorrido nos últimos tempos. Digo isso porque se alguém quis prestigiar os vereadores....a pergunta que nós, os vereadores, estamos a nos fazer é a seguinte: de que forma estas mudanças no secretariado nos afeta?
Afirmo isso pelo seguinte. A nossa bancada de vereadores não foi consultada para indicar ninguém. A nossa bancada de vereadores nem sequer sabia do que estava ocorrendo e foi surpreendida da mesma forma que toda a sociedade soteropolitana. A nossa bancada de vereadores ficou sabendo da notícia da reforma do secretariado pela imprensa e passamos a noite de segunda-feira ao telefone em busca de informações, perdidos neste samba das cadeiras como cego em tiroteio. Por isso, neste ponto, temos que separar o joio do trigo, fazendo o seguinte raciocínio lógico.
O fato de dois vereadores terem sido convidados pelo Prefeito para integrar o primeiro escalão do governo não significa, obrigatoriamente, que os demais vereadores estejam contemplados com estas nomeações. Se Gilberto José foi convidado para a Saúde é porque é médico, de reputação ilibada e conhecedor da área (é um político sim, mas não se esqueçam que pela formação é antes de tudo um técnico).
Já o estimado colega Alfredo Mangueira sempre foi um dos principais interlocutores entre a Prefeitura e o Legislativo, com excelente trânsito entre os diferentes partidos, atributos mais do que suficientes para justificar, tecnicamente, a indicação para a Secretaria de Governo. E neste particular, cabe outro importante registro, no que diz respeito ao antecessor de Mangueira na Casa Civil: não há um único vereador que tenha uma ressalva que seja sobre a cordialidade, a decência e a seriedade do Dr. João Cavalcanti no trato diário com a Câmara.
Ou seja, se o antecessor do Vereador Alfredo Mangueira fosse um secretário com uma relação espinhosa, complicada e desgastada com os vereadores, aí todo mundo estaria coberto de razão em afirmar que a ida de Mangueira para a Secretaria seria uma grande benfeitoria para os demais vereadores.
Mas esta não é a realidade! A presença de Mangueira não aumentaria nem diminuiria em nada o trânsito dos vereadores na Casa Civil, na medida em que o Dr. João Cavalcanti já mantinha, diuturnamente, as portas abertas para todos os edis, exercendo igualmente um importantíssimo papel na interlocução entre a Prefeitura e a Câmara de Vereadores.
Desta forma, concluo reiterando que da minha parte e certamente de muitos dos meus pares (mais uma vez afirmo que não tenho a incumbência de representar ninguém, trata-se apenas de uma opinião) estas mudanças no secretariado não tem nada a ver conosco no sentido de maior ou menor participação no governo. Em contrapartida, essas alterações no primeiro escalão da Prefeitura nos dizem respeito, e muito, no que tange fiscalizar, cobrar e acompanhar se essas medidas serão suficientes para estancar a grave crise financeira que assola a Prefeitura Municipal de Salvador.
Aí meu amigo, vereador ou não, quem sentou na cadeira vai ter que mostrar para a população da nossa cidade que está cumprindo com o seu papel, e a nós vereadores caberá reverberar no plenário da Câmara o som que vem das ruas.
Dr. Pitangueira
Vereador de Salvador