Política

ERENICE PEDE DEMISSÃO CASA CIVIL DIANTE DENÚNCIAS TRÁFICO INFLUÊNCIA

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| 16/09/2010 às 15:00
Para evitar respingos políticos em Dilma, Erenice deixa o cargo na Presidência
Foto: DIV
 O porta-voz da presidência da República, Marcelo Baumbach, informou nesta quinta-feira (16) que o secretário-executivo da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, assumirá interinamente a pasta em substituição a Erenice Guerra, que pediu demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã de hoje após o agravamento das denúncias envolvendo tráfico de influência dentro do governo.


  A ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, cuja demissão deve ser publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União, encaminhou esta manhã carta de demissão ao presidente Lula em que nega as denúncias envolvendo seu nome e diz ter sido vítima de uma "sórdida campanha". "Não desejo nem para o pior inimigo que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que passei. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale tudo", resumiu.


  Na próxima semana, o governo deve confirmar o nome da subchefe de Articulação e Monitoramento da Presidência da República, Miriam Belchior, como a titular da Casa Civil, segundo fontes do Palácio do Planalto.


  Na carta de demissão encaminhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta quinta-feira (16), a ministra demissionária disse ser vítima de uma "sórdida campanha". "A sórdida campanha para descontinuação da minha imagem, do meu trabalho, e da minha família continuou implacável. Não apresentaram uma única prova sobre a minha participação em qualquer dos pretensos atos levianamente questionados, mas mesmo assim estampam diariamente manchetes cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente um clima de escândalo. Não conhecem limites", disse.

Além das novas denúncias, a situação de Erenice ficou ainda mais desgastada quando divulgou nota na qual se referia ao presidenciável tucano José Serra como "derrotado" e "aético". A estratégia da campanha de Dilma Rousseff era a de evitar o cunho eleitoral das denúncias, mas a ministra demissionária lembrou do pleito de outubro em sua própria nota.


  "Tenho respondido uma a uma, buscando esclarecer o que se publica e, principalmente, a verdade dos fatos, defrontando-me com toda sorte de afirmações, ilações ou mentiras que visam desacreditar meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo", disse Erenice na carta encaminhada ao chefe do Executivo.


Confira a íntegra da
carta de Erenice Guerra


Excelentíssimo Senhor

Luiz Inácio Lula da Silva

DD Presidente da República

Nesta Senhor Presidente,

Nos últimos dias fui surpreendida por uma série de matérias veiculadas por alguns órgãos de imprensa contendo acusações que envolvem familiares meu e um ex-servidor lotado nesta Pasta.

Tenho respondido uma a uma, buscando esclarecer o que se publica e, principalmente, a verdade dos fatos, defrontando-me com toda sorte de afirmações, ilações ou mentiras que visam desacreditar meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo.

Não posso, não devo e nem quero furtar-me à tarefa de esclarecer todas essas acusações e nem posso deixar qualquer dúvida pairando acerca da minha honradez e da seriedade com a qual me porto no serviço público. Nada fiz ou permiti que se fizesse, ao longo de 30 anos de minha trajetória pública, que não tenha sido no estrito cumprimento de meus deveres.

Prova irrefutável dessa minha postura é que já solicitei à Comissão de Ética a abertura de procedimento para esclarecimento dos fatos aleivosamente contra mim levantados, à Controladoria-Geral da União a auditagem dos atos relativos à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), dos Correios e da contratação de parecer jurídico na EPE (Empresa de Pesquisa Energética) além de solicitar ao Ministério da Justiça a abertura dos procedimentos que se fizerem necessários no âmbito daquela pasta para também esclarecer os citados fatos.

No entanto, mesmo com todas essas medidas por mim adotadas, inclusive com a abertura dos meus sigilos telefônico, bancário e fiscal, a sórdida campanha para descontinuação da minha imagem, do meu trabalho, e da minha família continuou implacável. Não apresentaram uma única prova sobre a minha participação em qualquer dos pretensos atos levianamente questionados, mas mesmo assim estampam diariamente manchetes cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente um clima de escândalo. Não conhecem limites.

Senhor presidente, por ter formação cristã não desejo nem para o pior de meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo.

Preciso agora de paz e tempo para defender a mim e a minha família, fazendo com que a verdade prevaleça, o que se torna incompatível com a carga de trabalho que tenho a honra de desempenhar na Casa Civil. Por isso, agradecendo a confiança de Vossa Excelência ao designar-me para a honrosa função de ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, solicito, em caráter irrevogável, que aceite meu pedido de demissão.

Cabe-me daqui por diante, a missão de lutar para que a verdade dos fatos seja restabelecida.

Brasília, 16 de setembro de 2010.

Erenice Guerra