Política

PINHEIRO DIZ QUE PT DEVE AFASTAR SOBERBA E FAZER POLÍTICA COM GRANDEZA

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| 18/03/2010 às 22:31
Exclusivo: entrevista Cara a Cara com secretário do Planejamento, Walter Pinheiro
Foto: BJÁ
  O secretário de Planejamento do Estado e deputado federal licenciado pelo PT, Walter Pinheiro, em entrevista exclusiva ao Bahia Já, disse que deixará o governo no início de abril para colocar seu nome à disposição do partido nas eleições deste ano. Tanto pode ser candidato à reeleição ou a uma vaga na chapa majoritária, embora, neste último caso não diga isso. A observação é nossa. A tese defendida por Pinheiro é majoritária no PT porque é a mesma do governador: fazer política com grandeza e sem soberba.


  Ou seja, cabe a Wagner auscultando o partido, organizar sua chapa para vencer a eleição e manter o projeto do seu governo e do presidente Lula da Silva, em seqüência, com sucesso para Dilma Rousseff. Agora, não sendo possível esse consenso (a proposta é trazer o senador César Borges para integrar a chapa), Walter também não abre o jogo, porém, deixa escapar que se é para colocar um "puro sangue" petista na chapa, estaria, pois, seu nome à disposição.


  Pinheiro obteve em 2006 o maior número de votos do PT no Brasil para deputado federal, total de 200.894 em quase todos municípios do estado. Vem da base, do chão, foi candidato a deputado estadual em 1986 (não eleito) e depois vereador na capital em 1992. Está no 4º mandato de deputado federal e foi candidato a prefeito de Salvador, em 2008, obtendo 535.402 votos no segundo turno contra João Henrique.


  Pinheiro não coloca seu nome em confronto contra ninguém. É uma alternativa. Wagner gostaria de mantê-lo no governo até o final. A proposta, também não dita pelo governador com todas as letras, mas, nas entrelinhas, é de prepará-lo para a Prefeitura do Salvador, em 2012. Pinheiro desconversa e diz que, hoje, sente mais qualificado no entendimento da cidade. Mas, não quer sofrer por antecipação e comenta que, antes de 2012 sua perspectiva é 2010. Reeleger Wagner, eleger Dilma e contribuir.



SEGUE A ENTREVISTA


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A Secretaria do Planejamento do Estado está pilotando o seminário "Pensar a Bahia". O senhor acha que o programa está tendo receptividade das forças produtivas da sociedade ou é apenas uma ação governamental isolada?


PINHEIRO: Primeiro foi o desafio assumido pela Seplan de a gente abrir novos níveis de planejamento para o Estado. Começar a apertar as coisas no Estado, começar a envolver diversos segmentos da sociedade, pensar a Bahia pra frente. Nós marcamos o ano de 2023 não por acaso é porque é o ano que a Bahia vai completar 200 anos de sua independência. É uma marca história importante, decisiva, que a gente tem um nível de relação por causa do nosso 2 de Julho. E também a gente começar a pensar a Bahia como um todo, no vetor do desenvolvimento fugindo daquela lógica antiga de só se pensar na região da capital ou na capital. A idéia é pensar a Bahia do ponto de vista da sua infraestrutura logística, dos seus problemas sociais, das suas relações com as políticas afirmativas, do ponto de vista da infraestrutura, da logística, do papel que ela desempenha no Brasil para o Nordeste, a Bahia como rota de desenvolvimento. A idéia é a gente conseguir elaborar um Plano de Desenvolvimento para a Bahia, de maneira integrada ao próprio plano de desenvolvimento nacional, aproveitando as oportunidades, enxergando é claro dois eventos importantes que teremos pela frente, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, duas janelas de oportunidades. E a idéia é trazer para este núcleo de pensamento do Estado a contribuição de todos e claro preparar uma estratégia para que a gente possa elaborar projetos de forma integrada e promover o desenvolvimento. 


Porque não há representantes da Prefeitura do Salvador e de outras gestões de administrações municipais da RMS no Pensar a Bahia?

PINHEIRO: Nós estamos mantendo nesta primeira etapa com uma participação expressiva de vários segmentos. Nós escolhermos primeiros 4 blocos por temas, mais um quinto que nós estamos chamando especial  de Pensar a Bahia com o envolvimento dos municípios. E depois dessas etapas nós vamos abrir com as Câmaras Temáticas de envolvimento com as secretarias, as entidades, o mundo empresarial, o nível de pensamento. E nas próximas etapas das Câmaras Setoriais vamos envolver as entidades, como o Fórum de Desenvolvimento de Salvador e da RMS, o CREA, IAB, OAB, enfim, aí os municípios. A partir das Câmaras Temáticas nós teremos uma participação mais amiúde, pois trataremos cada tema e também fazendo a coleta de sugestões e agregando a esse planejamento já coisas concretas que nos prepare para o futuro.


Quando isso acontecerá?

PINHEIRO: No dia 17 de março, terça-feira, nós temos um evento que é específico para prefeituras. Nessa primeira fase dividimos em temas. Trabalhamos por temas e não por áreas. No dia 17 faremos a separação por regiões, dividimos o Estado em quatro macorregiões e vamos trabalhar com 26 territórios e ai envolve as  regiões Metropolitana, Sudoeste, Litoral Sul, todo Sertão produtivo permitindo agora de forma mais detalhada nas etapas sistemáticas trabalhar em cada uma dessas 26 regiões ou territórios.



Com que base o senhor disse, recentemente, que não se faz planejamento no Estado da Bahia há 20 anos? Não seria uma frase apenas de efeito?  

PINHEIRO: Na realidade, o que a gente tem da Bahia, o último planejamento que nós temos como um acumulado com base nisso é uma experiência do Pólo, da década 1970, experiência efetiva e algumas contribuições como o Plano Nacional de Logística de Transporte, que nós tivemos uma etapa de discussões, e o PeltBahia conduzida pela própria Seplan, dos anos anteriores, que levanta pontos de convergências com algumas estruturas modais. Agora, um planejamento macro que envolva todas as atividades, todas as regiões há muitos anos a gente não vê na Bahia. Uma coisa que tem me chamado atenção e eu quero invocar a experiência de Rômulo Almeida, Pólo Petroquímico, a própria experiência do Centro Industrial de Aratu, em todas elas foram constituídos grupos de trabalhos com atividades específicas, eu não acredito muito nas coisas que você trata no genérico. Quando se pensou o Pólo se constituiu um grupo que pudesse tocar esse planejamento no sentido de sua execução. Vou lhe dar um exemplo, dessa ausência de planejamento: o Pólo Petroquímico foi falado, pensado, com planejamento correto, mas se você analisar hoje você tem que ajustar o Pólo um conjunto de coisas de logística e de transporte que não estavam no seu projeto original e nós vamos ter que fazer. Só que temos que fazer com o Pólo funcionando. Implantar um ramal ferroviário ligando Camaçari ao Porto de Aratu que não estava no planejamento. Se isso tivesse vindo lá do inicio do pólo era diferente.

Eu visitei agora uma experiência na Espanha, Ciudad Real, Central, Madri City, eles construíram um centro de logística que tem aeroporto que tem relação com ferrovia, relação com trens de passageiros, áreas para abrigar empresas e não tem nenhuma empresa funcionando. Eles construíram um centro de logística e agora vão atrair as empresas para esse lugar. Portanto, prepararam a região para com infraestrutura e logística pudesse ter atividade. Aqui no Brasil a gente faz diferente. A gente constrói o centro de logística e depois entra com a logística. O que estamos discutindo é o Porto Sul, Ferrovia Leste Oeste, Aeroporto e a BR-030 no eixo Sul. Estamos fazendo planejamento para essas áreas, Ampliação de uma zona especial envolvendo as questões de saúde, educação, formação profissional, impacto social, a questão de moradia e principalmente toda infraestrutura de distribuição, portos secos ao longo do eixo da ferrovia, relação com a mineração, relação com a produção agrícola e se você não constrói ao longo dessa estrutura modal outras estruturas de logísticas, terá que fazer mais adiante. Por isso o planejamento a longo-prazo é importante par que essas coisas nasçam com um mínimo de ordenamento para ter conseqüência.


Isso é o que o senhor chama uma nova forma de pensar a Bahia?

PINHEIRO: São fases importantes. Além do planejamento, o governo Wagner tem feito transformações profundas. No nível de investimento, na priorização com programas importantes de capilaridade como Água para Todos, sistemas de abastecimento e saneamento, programa de saúde com a descentralização. Não só a construção de hospitais, mas a modificação no nível de atendimento, inclusive de alta complexidade. Na capilarização do ensino profissional em todo estado. Na própria questão da segurança. Não só equipar, mas ao mesmo tempo dotar de condições iguais à atuação da segurança em diversas regiões da Bahia. A própria questão da geração de renda. Nós batemos recordes na geração de frentes de trabalho em janeiro. Metade dos empregos gerados em janeiro do saldo dos 7 mil dos 14 mil foram gerados nas cidades fora da RMS. Um estímulo à produção local, um estímulo à geração de trabalho e renda em cada localidade independente sua localização na RMS. 


Mas, isso já está acontecendo no Estado há anos, antes mesmo do governo Wagner. O senhor concorda?

PINHEIRO: Essa é uma coisa que você poderia ter tido uma política mais arrojada no passado. Nós estamos experimentando isso agora. Um incentivo muito adotado no início do governo Wagner e no ano da crise teve grande resultado. Vivemos 2009 no ano de crise. O governo Wagner teve a seguinte opção: vamos continuar fazendo investimentos na área de infraesturutra (ou centralizar esses investimentos em saneamento, estradas) para que a gente possa resolver os problemas sociais e na medida em que os investimentos são descentralizados eles geram empregos localmente. No programa Luz Pra Todos foi assim, na recuperação de estradas, na construção e ativação do sistema de abastecimento de água, na melhoria do sistema de saneamento. Ou seja, fazendo investimentos em todas as regiões numa atitude de melhorar a vida das pessoas e, ao mesmo tempo, em período de crise manter as economias locais com um certo nível de aquecimento.


Com planejamento programado para 2023 o senhor acredita que a Bahia, finalmente, estaria entrando num novo rumo?

PINHEIRO: Caminhando para um processo de se adequar às necessidades desse novo tempo. Por exemplo: Atraindo uma empresa que vai fabricar equipamentos para a geração de energia eólica requer você também ter no entorno dessa empresa um conjunto de facilidades, sejam elas, de modal de transporte ou política de escoamento. Nós estamos fazendo um planejamento para permitir que este estado crie as condições para se desenvolver, que este estado continue tendo uma política de atendimento ao cidadão onde quer que ele esteja. E, hoje, a questão central é começar a trabalhar um Estado para integrar às diversas regiões. A Bahia se oferecer como rota para o Centro Oeste brasileiro. A produção do Centro Oeste brasileiro caminha 3.000 km para escoamento. Nós estamos oferecendo com a Ferrovia Leste Oeste uma rota de 1.500km. Preparar o Estado pra atrair negócios e melhorar as condições de vida. Promover atividade social e distribuição de renda e atendimento para a maioria do seu povo.


A bancada da Oposição na Assembleia Legislativa diz que tudo isso que o governo fala não passa de coisas virtuais, que não existem?

PINHEIRO: A própria questão do virtual está talvez esteja batendo na cabeça das pessoas, pois, quem dirigiu este estado ao longo de anos sequer teve coragem pra olhar a necessidade da Bahia precisar de uma ferrovia de integração. E que não saiu da cabeça do governador Jaques Wagner e da nossa. Simplesmente recuperamos uma idéia de alguém que vem de lá da década de 1960 falando nisso, e provavelmente naquela época e todo mundo achava que ele era doido, o Vasco Neto. Aproveitamos essa idéia. O traçado é quase o mesmo. As diferenças são poucas. O que nós fizemos foi buscar as condições para que isso pudesse operar. Agora, em abril, a gente espera obter a licença do Ibama para que no mês de maio, junho, a gente ter a oportunidade dos primeiros editais estarem nas ruas. O presidente da República vem a Salvador no dia 23 de março e deve fazer a cobrança de agilizar o Ibama para que possamos liberar essa primeira fase. Lembrando aos membros da Oposição que deveriam vasculhar que no Orçamento da União onde nós temos recursos disponibilizados para a primeira fase da ferrovia.


Seriam, digamos, os anunciados R$1.2 bilhão?

PINHEIRO: Um pouco menos R$900 milhões. Que dificilmente você vai empreender ou investir esses R$900 milhões. Vamos ter a fase inicial de implantação, já fizemos as audiências públicas. Mas esses recursos começam a ser utilizados nas áreas que deverão ser desapropriadas, na mobilização para o processo de construção dessa ferrovia. Portanto, recursos suficientes para atender essa demanda.


O senhor acha que o governo do presidente Lula tem ajudado a Bahia na medida certa ou a Bahia é que não soube levar projetos para o governo federal, ficando atrás de Pernambuco e do Ceará.

PINHEIRO: Eu acho estranho que a Bahia está recebendo menos recursos do que Pernambuco e Ceará. Eu também aconselho que as pessoas vasculharem que vão encontrar diferença em relação a isso. Chamo a atenção para uma coisa de um passado bem recente. Se você pegar o período 1995 a 2002, anos da gestão do governo Fernando Henrique Cardoso, muitos baianos que estão dizendo que nós perdemos essa disputa ocupavam cargos chaves no governo FHC. Liderança do maior partido, liderança do segundo maior partido, presidência do Senado e do Congresso Nacional. Nossos opositores de hoje ocupavam esses postos. Será que eles perderam essa batalha para Pernambuco e Ceará e deixaram FHC jogar tudo pra lá? Permitiram que o governo FHC fizesse todo aporte de recursos para Ceará e Pernambuco em detrimento da Bahia? Se você olhar, do governo Wagner pra cá nós disputamos recursos a Ferrovia Leste Oeste, Indústria Naval, o Porto Sul, o novo Aeroporto, a Via Expressa (que está obras), tem PAC na área de mineração. Nós estamos falando de volume recursos que a Bahia deve receber ao longo de 4 anos superior a R$5 bilhões. Eu não sei onde essas pessoas estão avaliando isso. O Gasene, investimento na Petrobras. Investimentos na agricultura familiar. Recursos que superam qualquer pregação negativa. Importante fazer essa leitura desse somatório pra ver exatamente o que estão falando hoje e que no passado não fizeram. Por exemplo: Nós ficamos na Bahia durante 60 anos com uma única Universidade Federal. Volto a dizer: com presença fortíssima no governo FHC com muitas lideranças da Bahia ocupando cargos chaves. No governo Lula instalamos a Universidade Federal do Recôncavo. Nesse exato momento Lula está assinando autorização para criar mais uma Universidade no Oeste. Foi no governo Lula que instalamos a Universidade do Vale do São Francisco. Chegaram três universidades na Bahia num período muito curto. E Em 60 anos ficamos ai com apenas uma universidade federal.


Como o senhor vê o processo pré-eleitoral em curso? Acha que o governo Wagner tem saldo positivo de realizações e está bem posicionado para reeleger-se?

PINHEIRO: Tranqüilo. Nós temos todas as condições. Só não podemos ter soberba.

A soberba e a presunção, essas duas coisas não são instrumentos de quem quer fazer política com coisa grande. Na realidade, temos que trabalhar. Temos uma relação com a sociedade baiana. A partir daquilo que nós nos propusemos, a partir daquilo que, hoje, nós executamos. E mesmo num ano de crise a gente pode demonstrar a oportunidade de enfrentar. Na bonança é fácil. Vim para a Secretaria de Planejamento no olho do furacão da crise. Fui convidado exatamente no período em que a crise se instalou na Bahia, em março (2009). Estávamos com muita dificuldade. Mas, pagávamos a folha rigorosamente em dia. Tínhamos dificuldades para honrar os compromissos e os investimentos. Fomos atrás de recursos, buscamos operação junto ao BNDES, junto ao Banco Interamericano, junto ao governo federal. Conseguimos atravessar o ano pagando a todos os nossos credores e todas as linhas de investimentos prioritárias foram mantidas. E iniciamos o ano de 2010, diferente de 2009, com uma situação eu diria bem melhor. Recorde na arrecadação em janeiro, com arrecadação em fevereiro superior a fevereiro de 2009, e apostando na possibilidade de ter capacidade, mesmo em ano eleitoral, de uma realização muito maior. Temos elementos que nos coloca frente a frente pra disputar essa reeleição do governador Wagner.


O governo Wagner demorou bastante de deslanchar face à expectativa que se criou durante o processo eleitoral de 2006 ou não? O que aconteceu? A crise da economia mundial em 2009 foi fatal?

PINHEIRO: Eu diria que o governo já tinha deslanchado muito antes do desfecho da crise. O governo tinha um projeto tranqüilo. É óbvio que a crise nos atrapalhou muito no início de 2009 e tivemos um aprendizado. No processo da crise nós conseguimos superar bem e mostrar à sociedade baiana que, mesmo com crise, nós tivemos agora o resultado do PIB que saiu agora no dia 10 de março e a Bahia mesmo no cenário de crise cresceu 1.6%, diferente até do Brasil, que cresceu 0.2%. Mas, A Bahia cresceu, mesmo no período de crise. Enfrentamos a crise tivermos condições de deslanchar. O governo não só deslanchou como tem uma posição tranqüila do ponto de vista da gestão, da coisa pública, da transparência, dos aspectos dos serviços sociais. Eu diria que o governo mais do deslanchou, se consolidou enquanto gestão nesse período, apesar da crise.


O senhor entende que há uma euforia muito forte no sentido de que Wagner já estaria reeleito, pelo menos essa é a impressão que passa alguns parlamentares da base do governo na Assembleia, ou isso é balão de ensaio e poderia atrapalhar o governador?

PINHEIRO: É natural essa euforia dos membros da base do governo, que comemorem e que até possam estar trabalhando isso de outra forma em relação ao governo. Mas, continuo ainda achando que temos que continuar trabalhando muito com pés no chão, continuar o trabalho. Nós vamos enfrentar uma eleição, mas independente de enfrentar a eleição temos que trabalhar o processo de gestão política do estado, na relação com a sociedade. Não é um problema de você está trabalhando isso com presunção, nem tampouco como um fato consumado. Vamos trabalhar na linha de quem tem compromisso, obrigação a cumprir. E, óbvio que vamos disputar a eleição com todo afinco, com todo vigor. Mas, levando para esse processo eleitoral os resultados que foram colhidos e construídos ao longo desses três anos.


Na sua concepção como fica a divisão dos palanques Dilma/Lula se na Bahia existem dois candidatos da base do governo federal, o governador Wagner e o ministro Geddel?

PINHEIRO: Isso é algo que às vezes a gente fica tentando sofrer por antecipação. É aquela velha história de ver um cenário antes de acontecer. Eu acho que a gente tem que se preparar primeiro para consolidar nosso palanque no estado, fechar o leque de aliança que é possível, organizar a nossa campanha, continuar o processo de gestão. E se preparar inclusive para que, se existir esses dois palanques, trabalharmos isso com a sociedade de forma muito tranqüila entendendo que poderemos ter divergência no estado, de ter gente que diverge da nossa posição, mas que resolve dar seu apoio a Dilma Rousseff. Pra nós a prioridade é a reeleição do governador Jaques Wagner combinado com a reeleição do nosso projeto nacional que será encabeçado por Dilma Rousseff.


Quando o senhor se candidatou a prefeito de Salvador, em 2008, viveu essa dupla percepção ao lado do prefeito João Henrique que também era da base Lula. Que lições tirar dessa experiência?

PINHEIRO: Naquele momento a gente tinha até três palanques. Aprendemos uma série de coisas. Aquela experiência de Salvador foi importante. Nós tomamos a decisão de disputar a eleição já com o processo avançado, depois que o partido decidiu sair do governo municipal. Tanto é que minha candidatura saiu muito tarde. Nós fomos para a rua no mês de julho. A primeira campanha nossa de rua, estruturada, foi no dia 13 de julho. Teve certa dose de retardo e mesmo assim conseguimos chegar ao segundo turno. Fizemos um bom debate. Eu acho que é importante um olhar a partir daquela experiência e mostre como é possível conviver com dois palanques.

Agora nós vamos disputar uma eleição estadual com uma eleição presidencial. O governador vai disputar uma reeleição com ele no cargo. Tem traços diferenciados. Mas, não podemos nos distanciar do que aconteceu na eleição de em Salvador para que a gente não cometa equívocos e inclusive não se estresse com a história dos dois palanques. Não adianta ficar antecipando as coisas para sofrer por antecipação Cada dia tem sua agonia. Agora, vamos nos preparar com tranqüilidade. Para quando chegar o dia do palanque já termos ficando as nossas bandeiras, de certa forma enraizada. E tocar a campanha com muita tranqüilidade, muita firmeza e muita aplicação.


Que avaliação o senhor faz da segunda gestão do prefeito João Henrique?

PINHEIRO: Salvador, pude conhecer isso até no processo de disputa eleitoral, na medida que fiz a campanha de 2008. Hoje sou um sujeito bem mais maduro do ponto de vista desse olhar da administração e passei a aprender mais sobre Salvador aqui na Seplan. É uma cidade muito difícil de administrar. Uma cidade pobre do ponto de vista de sua arrecadação, com concentração de aglomerações. Cidade com processo de infraestrutura mal planejado. Não há relação de convivência metropolitana. Não existe esse planejamento metropolitano. O que existe é Salvador operando como se fosse a sede de grandes regiões sem ter os benefícios. Salvador é o 8º PIB per-capita da RMS se vocês pegar 10 cidades da RMS. Uma administração deveria levar em consideração esses aspectos. E acho que a passagem do primeiro mandato de João Henrique para o segundo ele, de certa forma, não faz essa transposição, de um olhar mais crítico. E, portanto a ausência de planejamento mais ajustado vai criando dificuldades. Por outro lado eu diria que João Henrique vai encontrar algumas facilidades. O governo do estado vai ter que aportar um volume de recursos expressivos à preparação da cidade para essa janela de oportunidades: Copa, Olimpíadas. Nesse período agora é importante que a gestão possa aprimorar suas intervenções. Priorizar para corrigir distorções na cidade. Melhorar a gestão pública e tentar preparar a cidade para que possa reverter esse quadro. Salvador não cabe chaminé. Mas, cabem atividades como turismo e empresas de tecnologia para a gente resolva de uma vez por todas essa crise de arrecadação que torna a cidade incapacitada de grandes vôos ou até de obtenção de grandes créditos para fazer transformações profundas. Por isso é importante que, nós, em parceria Estado, União e Município possamos aproveitar essas oportunidades melhorar Salvador para que possa ter gestão ajustada a seus interesses e voltada para atender a maioria da população.


Quais os projetos integrados ou não que destacaria?

PINHEIRO: Temos algumas áreas comuns. Por exemplo: na questão da Copa criamos um comitê com participação da Prefeitura e do Estado. Na questão do corredor de transporte da Copa temos participação. Temos várias obras que o estado está realizado na cidade: Rótula do Abacaxi, Via Expressa, Feira de São Joaquim e uma grande intervenção será feita na região do Centro Histórico. Essas parcerias estão sendo constituídas. O projeto apresentado pela Prefeitura (Cidade Mundial) será objeto de discussões entre o município e o estado. Até porque, a capacidade de endividamento do município é muito baixa. Teríamos que ter um nível de apoio de ajuste nas esferas estadual e federal na busca desses recursos ou na linha de financiamentos/investimentos ou no OGU, buscando esses entendimentos. Agora é importante que esses empreendimentos sejam mantidos muito próximo daquilo que a Prefeitura está pensando, mas, também, de como o estado pode ajudar, contribuir. O resultado desse seminário do Pensar a Bahia, parte dele pode ser absorvido pela Prefeitura para ajustar seu planejamento, ou às suas propostas de Salvador Cidade Mundial.


Em recente artigo no BJá o líder da Oposição na Câmara, vereador Gilmar Santiago, disse que as propostas do PT para a Prefeitura de Salvador continuam válidas até hoje. O senhor concorda e vai se preparar para 2012?

PINHEIRO: Eu não tenho colocado 2012 como um horizonte. Não existe chegada no futuro sem passar pelo presente. Pra chegar 2012 tenho que chegar a 2010. É importante tocar o planejamento pra frente, mas não descuidando do nosso espaço que está à nossa frente. Temos que caminhar. Hoje, enquanto cidadão e político sinto que estou muito mais preparado. Se você me perguntar qual o desejo do meu coração em relação às disputas futuras? Vou preparar-me mais ainda para contribuir como meu partido para a esfera do Executivo. Não sei se 2012. Quero contribuir para o presente e também apontando para o futuro, mas quero também entender que não se faz isso enquanto cidadão isolado. Tem uma série de coisas em volta, uma série de projetos. Eu acredito muito em sonhos, mas não podem ser sonhos egoístas. O meu sonho! O projeto da minha vida! A minha satisfação pessoal! A nossa prioridade agora é a reeleição do companheiro Jaques Wagner. Depois disso é que vamos encaixando outros planos e nossos desejos ainda que sejam pessoais.


E no plano nacional?

PINHEIRO: No plano nacional é garantir renovação do nosso projeto com Dilma. É a reeleição do projeto nacional. Lula não pode ser mais candidato. É importante que a gente dê continuidade ao projeto e renove o nome. Ter a oportunidade de manter a parceria Lula/Wagner e isso só pode acontecer com a chegada de Dilma a presidência. É importante que esse projeto seja reeleito.