Segundo integrantes da sigla, Temer foi publicamente preterido apenas dias depois de ser citado em uma planilha encontrada pela Polícia Federal na casa do diretor da construtora Camargo Corrêa e da suspeita de envolvimento no suposto esquema de pagamento de propina do governo de José Roberto Arruda (ex-DEM).
"A leitura é de que eles (governo) estão afastando o Temer, sinalizando o afastamento dele como o nome natural do partido para assumir a vaga de vice", disse uma fonte do PMDB. "Lista tríplice? O que é isso, eleição para reitor de universidade?", afirmou a mesma fonte.
Temer é o principal articulador da aliança com o PT e vem afirmando nunca ter colocado seu nome na posição de vice para viabilizar o casamento, mas que o posto preferencial é do PMDB. O Planalto ficou preocupado com a repercussão negativa e iniciou uma operação para reverter a situação. O ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social, telefonou para Temer e prometeu uma ligação do próprio Lula nas próximas horas.
Berzoini: Lula
não falou pelo PT
Em um sinal de que o problema atingiu as negociações para a formação da chapa, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), tentou reduzir o constrangimento gerado no PMDB e disse que Lula não falou pelo PT. "Não houve nenhum tipo de encaminhamento nesse sentido (de lista tríplice) e quem está conduzindo as conversas com o PMDB é o PT. Eu já liguei para o Michel Temer e para o Henrique Eduardo Alves (líder do PMDB na Câmara) e já disse que isso não corresponde à posição do PT", afirmou.
"Chapa se compõe sempre pelo entendimento de dois lados. Nós estamos indicando a Dilma. Se eles tiverem alguma opinião em relação à Dilma, eles têm que dizer e vice-versa. Até agora, todas as conversas são o seguinte: quem indica o vice é o PMDB", acrescentou. Berzoini disse acreditar que a operação realizada nesta sexta-feira tenha contornado a situação.
Para os peemedebistas, entretanto, o assunto não foi encerrado. Nenhum integrante da cúpula comandada por Temer diz que o atual capítulo da crise se encerra com "um telefonema". "É preciso mais que isso, pois não resolve a questão. É preciso ver ao longo do tempo se muda o comportamento", disse um dos peemedebistas consultados.
Definição em junho
A questão só deve ser definida após a convenção nacional peemedebista, em junho. Por meio de comunicado divulgado nesta sexta, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, disse que a declaração do presidente "não bate à porta do PMDB" e fica nos "imprevisíveis caminhos que levarão à eleição presidencial".
"É o debate, é a decisão democrática e soberana da convenção nacional que escolherá, se for aprovada a aliança, o seu único candidato à vice-presidência da República. Essa prerrogativa, esse direito, por favor, ninguém tente restringir. Em respeito ao PMDB", diz a nota.
"Fará a vice quem trouxer a maior parte do partido e quem tiver a aclamada afinidade com a candidata", disse um auxiliar do presidente Lula. "A vice não pode ser definida sete meses antes da convenção. E se muda a correlação de forças?", completou.