Além disso, Brenda era acusada de fornecer drogas para o governador, que renunciou ao cargo após o escândalo envolvendo seu nome.
O apartamento de Brenda foi incendiado; além disso, o computador da transsexual foi encontrado na água da máquina de lavar. A polícia suspeita de queima de arquivo.
Em depoimento, o namorado de Brenda atribuiu a preferência de Marrazzo por Brenda à honestidade. "Pagava muito bem porque ela não roubava nada do cliente", disse.
CASO DO GOVERNADOR
Natália e Brenda - duas travestis brasileiras que moram em Roma - são os protagonistas do escândalo que colocou fim à carreira política de Piero Marrazzo, governador da região (estado) italiana Lazio e que tem Roma como capital.
Em entrevista ao Corriere della Sera, com direito a fotografia, a brasileira Natália disse : "Com Marrazzo sai algumas vezes, mas ele nunca entrou no meu apartamento. Assim, não sou eu aquela que aparece no vídeo divulgado": o mostrado no YouTube é falso, conforme avisa a polícia italiana.
Para a trans-brasileira, a filmagem teria sido realizada no apartamento da travesti brasileira Brenda, que divide morada com a francesa Michelle. Uma filmagem com celular e feita por pessoa que estava no quarto, mas não percebida pelo governador Marrazzo.
Sobre a acusação, Brenda mantém-se em silêncio. Só que ela tem uma porta-voz, que disparou ataque verbal contra Natália: "Natália é má e invejosa".
A porta-voz de Brenda é a transexual conhecido por Thayanna e seria, como escreveu a imprensa italiana, "um veado, como a brasileira Brenda" .
Marrazzo, em fim de mandato, se autossuspendeu do cargo e deu posse ao vice-governador.
Como as eleições estão marcadas para 28 e 29 de março de 2010, Marrazzo - que disse estar envergonhado e querer sumir - foi orientado pelo seu partido (PD-Partido Democrático) a não renunciar.
A renúncia levaria à imediata eleição, ou seja, antecipação eleitoral. E isso é tudo que Berlusconi, do PDL, deseja: ele já elegeu o prefeito de Roma, um ex-membro da juventude fascista. Agora, quer um governador direitista para a região (estado).
Tudo começou quando policiais do Raggruppamento Operativo Speciale (ROS ) investigavam a potente Camorra napolitana. Mais especificamente, a facção camorrista de Casal di Principe: a camorra casalese (Casal di Principe) é objeto do primeiro capítulo do meu modesto livro A Criminalidade dos Potentes, já esgotado nas livrarias.
Numa das interceptações telefônicas realizadas com autorização judicial, colheu-se o relato de que quatro carabineiros (policiais militares) estavam a chantagear o governador Marrazzo e usavam uma filmagem de encontro sexual dele com travestis, em quarto onde havia carreiras de cocaína em cima de uma mesa.
Para os quatro policiais militares (carabinieri), conforme investigação do ROS e da magistratura do Ministério Público, Marrazzo forneceu três cheques de 20 mil euros (R$ 50 mil). Era o primeiro preço de uma chantagem sem fim.
Os quatro policiais militares - já presos preventivamente - tentavam negociar os vídeos com a revista italiana Chi (Quem) e com o grupo Mondadori, de propriedade do premier Silvio Berlusconi.
Marrazzo é casado com uma jornalista e pai de duas filhas dessa união - não foi perdoado pela esposa, fato que aumenta a dramaticidade e o coloca no "fundo do poço". Ele teve a dignidade de assumir a transgressão.
O escândalo em questão, pois houve vazamento e os jornais noticiaram, abalou Roma. Mais do que os escândalos imperiais e os contos e pinturas eróticas com ninfas e faunos.
Pelo que se percebe, o problema é que o ocorrido não é visto apenas como algo pertencente à esfera privada.