Há inúmeras gravações e comentários da ministra situando que o Brasil estava livre de prováveis apagões dando conta de que o país mantém investimentos adequados ao setor, contestando, às vezes, argumentos técnicos de cientistas e especialistas nessa seara. Com convicção plena, a ministra sequer tinha a preocupação de colocar o anteparo "salvo diante de situações meteorológicas adversas" e outros que são previsíveis, passando a impressão de que isso jamais ocorreria e era coisa do passado, da era FHC.
O problema é que o apagão aconteceu e foi mais grave do que se imaginava. Daí a preocupação dos estrategistas do governo em tentar blindar a ministra Dilma para que novas faíscas não queimem seu filme eleitoral, em 2010. É claro que ainda é cedo para se fazer uma análise dos reflexos desse movimento, uma vez que o Brasil não está imune a novos apagões, e os debates se seguirão com situação x oposição apresentando seus argumentos à sociedade.
Em primeira instância quem está no poder sofre mais porque a população encarna os acontecimentos do dia-a-dia. O que aconteceu há oito anos tende ao esquecimento, assim como, se nada ocorrer até às próximas eleições, o que se registrou neste novembro será uma página virada na história e na campanha. A população, de uma forma geral, tem uma memória fraquíssima e adota a proximidade da época do registro do voto como prioritário. E isso ainda acontecerá daqui a 12 meses.
O governo do presidente Lula tem um conjunto de realizações que, ao ser apresentado durante a campanha propriamente dita, em 2010, poderá até fazer a diferença. Mas, ainda assim, não se deve brincar com raios e trovões. A fragilidade de conhecimento do setor expressa pelo ministro Edison Lobão, em entrevistas na TV, e a rede do dirigismo sindical de Itaipu revela o quanto um setor tão importante para um país, ainda sem uma smart grid computadorizado competente e carente de investimentos, poderão ser fatais.
Haja polêmica nos próximos meses nesse horário de verão, época de aquecimento da economia e de consumo maior de energia. A ministra Dilma Rousseff, de fato, precisa ser bem blindada. E também acreditar que além de conhecimento pleno de uma causa, quase arrogância, há espaço para bom senso e humildade.