Veja
A entrevista de Zezéu foi dada ao Jornal Bahia On Line um dos parceiros do Bahia Já
Foto: Cultura.gov.ba
O deputado federal Zezéu Ribeiro (PT), está no centro de uma polêmica, construída no decorrer da semana, quando, num encontro informal, ao lado de mais cinco parlamentares baianos, sugeriu a candidatura do ex-governador Waldir Pires para o senado, em 2010.
Nesta entrevista exclusiva concedida ao editor do
Jornal Bahia Online, jornalista Maurício Maron, o deputado Zezéu Ribeiro explica como ocorreu a proposta de apoio a Waldir. Trata o assunto com naturalidade e diz nas entrelinhas que apesar de ter sido uma brincadeira, a Bahia e os partidos de esquerda têm esta dívida com Waldir Pires.
Na entrevista ao JBO, ele também faz críticas as alianças construídas pelo governo da Bahia, fala em projetos e dá o seu modelo de gestão para que a Bahia divida melhor as suas riquezas e construa uma cidadania onde todos tenham oportunidade de trabalho, educação e desenvolvimento social com justiça. Confira.
O senhor e mais um grupo de deputados baianos acabaram, esta semana, criando o fato político mais marcante dos últimos meses: uma possível candidatura de Waldir Pires ao senado. Que terminou causando polêmica na Bahia inteira. Waldir é uma reserva política e moral como pessoa física e político. Aprendi a admirá-lo ainda governador quando eu era candidato a prefeito (de Salvador). Depois quando fomos juntos candidatos ao senado, em 94. Ele me ensinou a compreender o mundo, a política e a Bahia. E a Bahia tem uma dívida com Waldir. Ele foi garfado por um tal de "Fraudeck" (referindo-se ao senador eleito Waldeck Ornelas) na eleição de 94, com o carlismo dominando a Justiça Eleitoral e o poder da Bahia e fraudou aquela eleição. Então seria uma honra para a Bahia ter Waldir no Senado. Agora nós não nos reunimos com esta finalidade.
Foi para um congraçamento com Waldir, um homem que completa 82 anos de idade e entre amigos, um grupo de cinco deputados federais, conversando, surgiu uma brincadeira do Joseph Bandeira relembrando uma frase que a gente usava na eleição de 86 que dizia: já comi, já bebi, agora vou votar no Waldir. E aí isso gerou um papo descontraído e informal. Mas mostrando a importância de Waldir e o sentimento que temos por ele. E o nome de Waldir numa chapa não resta dúvida que moveria com a política baiana.
"Na região de Juazeiro temos a irrigação do São Francisco e a miséria do lado. No oeste, a agro-indústria e a miséria do lado. O Pólo de Papel e Celulose no extremo sul e a miséria do lado... É preciso inverter este processo criando pólos com outros perfis para auxiliar nesta transformação." A brincadeira tende a virar coisa séria? Vocês vão trabalhar por esta candidatura? Isso não pode ser feito do dia pra noite. E tem que ser feito com muita responsabilidade. Eu sei que criou um
frisson interessante e serviu de isca. Tem muito peixe graúdo que mordeu a isca.
Mas o nome de Waldir divide o próprio PT. Isso ficou claro nas reações e nas respostas dadas à "provocação" que vocês fizeram. Não. No PT não há nenhuma resistência. Para uma composição desta é preciso apenas ver a disposição de Waldir de iniciar um mandato com 83 anos de idade. Essa era a tarefa que caberia a ele e a gente tem que ter a correção na amizade e na política. Não podemos fazer disso uma brincadeira.
"O presidente Lula é respeitado. É o reconhecimento do mundo sobre a política externa brasileira. E eles ficam apavorados com isso. Não foi preciso um príncipe movido pela sociologia, que fala francês, para fazer isso." O PT da Bahia hoje pensa diferente do governo petista da Bahia? Há interesses completamente opostos entre o partido e o governo?
(O governador Jaques) Wagner vai para a reeleição e vai ganhar a reeleição. Entendo que ele está fazendo um esforço enorme, tem conseguido algumas vitórias no sentido de mudar a cultura política. Fazer a obra é importante mas não é tudo. A Bahia sai de 40 anos das mãos dos mesmos e 16 anos de um mesmo grupo. Ou seja: um mesmo grupo, as mesmas pessoas, sempre. Pessoas que foram secretários de estado por 12, 16 anos e que moldaram o serviço público não pelas regras republicanas. Mas sim pelas relações pessoais pondo o estado a seu serviço. Mudança disso não é fácil. É um trabalho também que precisa de tempo e a gente tem ainda dentro da máquina quem queira boicotar esse processo.
Mas, sob o seu ponto de vista, alguma coisa já mudou? Acho que cada vez mais as políticas públicas vão se materializando também em conquistas do bem estar e da melhoria do padrão de vida da população. Então não tenho dúvida de que estamos avançando neste sentido. Agora: na gestão da política nós temos, às vezes, dificuldades. O PT aprendeu a fazer as alianças eleitorais mas tem errado muito nas alianças governamentais, na governabilidade, no estabelecimento de uma base concreta que articule a política institucional com a base social do partido. E isso cria dificuldades para a gente.
"Waldir foi garfado por um tal de "Fraudeck" na eleição de 94, com o carlismo dominando a Justiça Eleitoral e o poder da Bahia." Essa crítica é endereçada ao secretário Rui Costa? É uma crítica ao governo Wagner. Não gosto de personalizar. Tenho dito isso com muita clareza. Não faço crítica ao secretário de Relações Institucionais. Faço críticas ao governador.
Como o senhor vê a aliança com setores tradicionais do carlismo construída pelo governador para garantir a governabilidade e a reeleição em 2010? Não gosto e manifestei isso. Tenho tido o cuidado de não levar as críticas que faço ao domínio público porque acho que a gente tem que tratar isso como uma economia interna. Mas tem momentos em que a gente precisa explicitar e chamar à reflexão do governo sobre estes caminhos. Neste sentido fiz um alerta e me proponho a discutir com o governador e a sociedade. O governo tem se submetido a chantagem de uma direita retrógrada que não vai ficar com a gente e que tem estado pela vantagem pessoal pelo cargo, pela obra, pela facilidade de sobrevida da política passada.
Vai haver traição antes mesmo de 2010? O governador falou que só é traído uma vez. Mas ele tá arriscando muito.
O senhor acha que o governador demorou para romper com o ministro Geddel e o PMDB da Bahia? Não. Concordo com a estratégia do governador com relação ao PMDB. O que discordo é que o PMDB saiu do governo e os cargos ocupados pelo partido estão preenchidos pelos mesmos. O Geddel achou que iria dar um golpe de mestre e caiu no isolamento. Queria estabelecer um estado paralelo na Bahia e sair vitimizado. Terminou saindo como traidor de um projeto. Sozinho. Não conseguiu levar ninguém. Terminou carta fora do baralho e Wagner teve a paciência de compreender isso para superar.
"Tenho dito isso com muita clareza. Não faço crítica ao secretário de Relações Institucionais. Faço críticas ao governador." A eleição na Bahia e no Brasil será polarizada? Na Bahia com Wagner e Paulo Souto. E no Brasil, com o candidato de Lula e o candidato do PSDB? Sim. O projeto que estamos fazendo no Brasil e na Bahia se diferencia profundamente do que existia antes. Tínhamos um processo de inserção subalterna no Brasil. E um processo de crescimento excludente, com segregação do poder, em termos sociais e territoriais. E a gente modificou isso. Buscamos uma integração de maneira soberana, assumimos uma liderança na política internacional e somos hoje ouvidos pelo mundo. O presidente Lula é respeitado. É o reconhecimento do mundo sobre a política externa brasileira. E eles ficam apavorados com isso. Não foi preciso um príncipe movido pela sociologia, que fala francês, para fazer isso. Lula fala no exterior a língua do seu próprio povo. Tem uma passagem fantástica sobre este assunto. Perguntaram a Lula se ele precisaria de intérprete para falar com a Rainha da Inglaterra. Ele respondeu: ela é quem precisa, por que é ela que não fala português. Isso dá a dimensão de como uma nação se afirma no mundo. Claro que foi uma caricatura de um processo. Mas de uma sapiência enorme.
"A gente tem ainda dentro da máquina quem queira boicotar o governo." E internamente? No plano interno também olhamos para o Brasil. Milton Nascimento tem uma composição que chama "Notícias do Brasil" em que ele diz que "Ficar no litoral, olhando para o mar e de costas pro Brasil não vai fazer deste lugar um bom País". E é esta mudança que estamos fazendo. Que é menor do que a gente esperava, do que a gente quer. Mas mudou profundamente a realidade do Brasil.
No caso específico da Bahia, que tem um Uruguai inteiro de analfabetos, como promover estas transformações?
Sabendo priorizar as políticas públicas. Educação tem que estar nesta prioridade. Tanto que estamos fazendo um esforço enorme com o Topa (Todos pela Alfabetização, programa do governo do Estado). Mas só que esta é uma superação que se dará não só pelo estado. É preciso também que a sociedade se mobilize nisso. Há 3 anos coordeno a bancada do Nordeste. Um esforço pela recriação da Sudene que até hoje está com uma debilidade de atuação muito grande. E não conseguimos criar o Fundo Constitucional que serviria para dar infra-estrutura, capacitação e pesquisa à entidade.
Agora, na questão do Pré-sal conseguimos dar um porte regional que vai privilegiar a alocação de recursos deste fundo para políticas permanentes de superação das nossas principais dificuldades, em cima de metas bem definidas, acompanhadas e avaliadas. O governo Lula está fazendo um trabalho extraordinário pela interiorização e descentralização do ensino universitário. A Bahia tinha uma única universidade federal e os governos da Bahia achavam que não cabia criar mais. Nós hoje temos três na Bahia. Fernando Henrique Cardoso tinha proibido investimento público no ensino tecnológico no Brasil (repete três vezes esta frase). Estamos, agora, completando 100 anos do ensino tecnológico neste país e o presidente Lula está criando 300 unidades. Quer dizer: isso é uma mudança profunda!
"O governador falou que só é traído uma vez. Mas ele tá arriscando muito." Qual sua posição a respeito dos investimentos propostos pelo governo para o sul da Bahia, a exemplo do Complexo Intermodal Porto Sul. A região passou por um processo muito difícil. A decadência da cultura do cacau. E nós estamos retomando isso. Tem o PAC do Cacau, negócios já estão sendo realizados. A Zona de Processamento de Exportação estava parada e estamos retomando isso. Estamos tratando a questão do ensino universitário tecnológico que a região está sendo contemplada. E outros investimentos de grande monta: a ferrovia, o porto e o aeroporto. Estamos buscando construir um novo pólo de desenvolvimento, desconcentrando a riqueza. E fazer isso compatibilizando com a questão ambiental.
Mas deputado, a olho nu parece que falta planejamento.
Vejamos, por exemplo, a questão do Pólo de Informática de Ilhéus. A cidade produz 12 por cento dos computadores nacionais e o Parque de Desenvolvimento Tecnológico fica a 400 quilômetros daqui, em Salvador. Isso não é incoerente? Uma falta de compromisso com o interior?
Historicamente é um processo de concentração. Salvador e RMS arrecadam mais de 80 por cento dos impostos gerados na Bahia. E nós temos só 20 por cento da população. Nós somos um dos estados mais interiorizados e um dos que têm a maior concentração de renda na capital. Desenvolveu-se pólos com a miséria do lado. Na região de Juazeiro temos a irrigação do São Francisco e a miséria do lado. No oeste, a agro-indústria e a miséria do lado. O Pólo de Papel e Celulose no extremo sul e a miséria do lado... É preciso inverter este processo criando pólos com outros perfis para auxiliar nesta transformação. No sul da Bahia, a nossa expectativa é que a partir da ferrovia se traduza efetivamente num processo de desenvolvimento para o litoral sul com expressão e capacidade de promover o desenvolvimento e a distribuição da riqueza.
"Geddel achou que iria dar um golpe de mestre e caiu no isolamento. Queria estabelecer um estado paralelo na Bahia e sair vitimizado. Terminou saindo como traidor." O senhor participou da reunião em Brasília onde ficou definida a reabertura do aeroporto de Ilhéus para vôos noturnos. Agora nem prazo estão dando mais. Era ou não era para reabrir? Sim, a definição veio nesse sentido. Estou surpreso com a decisão dos técnicos da área da Infraero. Me parece até que esse pessoal está criando dificuldades nesta questão. Vou querer levar esta questão de volta. Prometo contribuir com a solução.
O senhor, hoje, veste verde. Neste momento em que muitos petistas estão indo para o PV, posso entender esta opção como coincidência ou possibilidades de mudança?
(abre um sorriso) As cores não têm partido. Os partido são quem têm cores. A provocação que você faz é para que eu fale da Marina Silva. É uma companheira da melhor qualidade. Uma história de vida extraordinária. Uma pessoa alfabetizada aos 16 anos que aos 24 se torna professora primária, que nasceu e compreendeu a vida na floresta e que tem o sentimento do povo. Como o presidente Lula. Ela está entras as pessoas que lideram não só a partir da sua inteligência, mas da sua própria vida. E que sabe expressar os anseios da população. O projeto do Partido dos Trabalhadores é o projeto da companheira Marina. Circunstâncias da vida levaram ao afastamento no plano partidário. Mas o projeto dela é o mesmo nosso.