Política

A RECEITA DE JOSÉ SERRA PARA IMPULSIONAR DESENVOLVIMENTO DA BAHIA

Veja e tire cópia
| 22/09/2009 às 14:17
Serra aponta caminhos para melhorar a economia baiana e assina livro da ACB
Foto: BJÁ

   Na última sexta-feira, 18, o governador de SP, José Serra, esteve em Salvador, ele que é pré-candidato a presidência da República pelo PSDB e um dos economistas mais influentes do país. Em sua fala na Associação Comercial da Bahia, Serra aponta quais são os gargalos que fazem com que a Bahia esteja estagana e os caminhos a percorrer. 

  Além disso, se diz um otimisma em relação ao Brasil porque o atual governo comete erros que são passíveis de serem corrigidos. Tire suas próprias conclusões lendo o texto de sua palestra.     

    A PALESTRA DE
    JOSÉ SERRA

    O tema que me foi apresentado é bastante vasto a respeito do desenvolvimento do Nordeste. O Nordeste é uma região que tem problemas comuns, mas é uma região muito diferenciada. Não dá pra falar com rigor do Nordeste no seu conjunto porque comporta realidades tão diferentes, às vezes, quanto as que existem no seu conjunto e o país. Mas, há sempre um tema que dá voltas o dos incentivos e estímulos à atividade econômica. Estou convencido de que se trata de uma postura ingênua aquela que acredita que correções de equilíbrios regionais podem ser feitas apenas através da operação do mercado.

   Claro que o mercado tem importância. Mas essa correção exige uma atuação do estado. E a experiência internacional na Europa, algumas décadas na Itália, e recentemente na União Européia com ações em Portugal e na Espanha mostram que políticas de incentivos são corretas embora não sejam em si, suficientes. E eu acho que essa discussão ao Nordeste não fica esgotada em todo na questão dos incentivos que vi nascer e acompanhei ao longo de minha vida mesmo antes de ser profissional de economia, a partir dos anos 1960.

    O caso da Bahia é muito ilustrativo a esse respeito. É um estado que diversificou muito sua economia. Aproveitou os incentivos. Basta dizer que a participação do produto industrial baiano no produto industrial brasileiro aumentou mais de 3 vezes desde 1970. Impressionante. Talvez o estado que mais expandiu nesse período. Disputa com Santa Catarina o 6º lugar em matéria de produção industrial no Brasil. Além de uma tremenda diversificação que envolve também as atividades não industriais.

   Há uma outra questão que é chave, que é crucial, neste momento, que deve integrar discussões e debates que é a questão da infra-estrutura. Aqui tem uma fábrica da Ford. No começo havia muito ceticismo e oposição, até o PT se opôs bastante à vinda da fábrica, hoje, mudou de posição, e se a fábrica poderia ser eficiente. E resultou uma fábrica bastante eficiente. Talvez, nas plantas da Ford, não sei como é hoje, até um tempo atrás os executivos da Ford me diziam que era a planta mais eficiente do mundo, das plantas da Ford internacionais.

  Qual o problema que tem? Não é eficiência micro-econômica que a Bahia mostrou que tem capacidade para isso, mas o que cerca o sistema de transportes desta empresa em relação ao resto do Brasil que, evidentemente, ela tem um entrelaçamento muito forte para os mercadores consumidores e também com os mercados que abastecem de produtos intermediários.

   O problema não está na eficiência micro-econômica. Nem no incentivo que aconteceu. A eficiência da fábrica mostra que ela pode sobreviver sem os incentivos. Mas por outro lato tem um problema agora. O problema está pelo lado dos custos. Há uma estimativa do Banco Interamericano de que no Brasil as exportações poderiam ser 30%, 40% maiores com uma infra-estrutura adequada. Então, nós temos que, hoje, discutirmos não apenas os incentivos, mas, investimentos.

   Esta questão é chave. Na época da Constituinte eu era relator de alguns capítulos, inclusive o capítulo tributário e o capítulo do orçamentário e do sistema financeiro. Na época sobravam no âmbito do governo federal 2% do IPI e do Imposto de Renda que o Rio de Janeiro perdeu quando fez a fusão. Agora, quando houve a fusão do Rio com a Guanabara ficaram sobrando 2 pontos do Fundo de Participação (formado por IP + Imposto de Renda) e esse dinheiro salvo engano, eu não estava no Brasil nessa época, estava no exílio, deve ter sido 1974/75, não tenho certeza, e o Rio perdeu isso e ficou no Ministério do Planejamento numa Secretaria Especial dos Municípios, se não me engano era Sarim, e o ministro do Planejamento alocava como queria. Na época, João Paulo Reis Veloso e depois Delfim Neto que fez mais uso desses recursos. E aí na Constituinte, qual era a tendência? Pegar esse dinheiro e inchar o Fundo de Participação para os estados. Eu era relator e não aceitei. Isso viria predominantemente para o Norte e para o Nordeste. Mas eu não aceitei porque iria para os governadores e aumentar o custeio. Aumentar receita, aumenta custeio.
 
  E fiz uma proposta que acabou prevalecendo e foi criada, alguém que está no Congresso sabe disso, não se faz sozinho, tem que ter apoios, etc, e foi criado o Fundo de Desenvolvimento para o Norte e Nordeste e depois através de uma jogada política puseram o Centro Oeste e aumentaram em mais 1 ponto e aí ficaram 3% para um Fundo de Desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro Oeste e pus a exigência que não fosse financiamentos só para as áreas públicas, mas só para as áreas privadas, porque como era um fundo governamental os governos pegariam e depois dariam o calote, muito fácil. Era o que se dava naquela época em relação a esses créditos públicos.
 
  Esse fundo tinha a finalidade de fomentar o investimento, impulsionar o investimento em vez de jogar toda massa de recursos no custeio. Funcionou muito bem administrado pelo Banco do Nordeste. Claro que há problemas políticos sempre para saber quem controla e tudo mais. Mas foi algo destinado a fomentar o investimento e dar sustentação a atividade privada, da qual depende o país para o desenvolvimento do conjunto do país e também da eliminação das desigualdades regionais.

  
   Essa questão está na ordem do dia em nosso país. A Bahia, na minha opinião, tem uma condição privilegiada. É um dos Estados que tem abundantes recursos naturais e a possibilidade de ter uma economia extremamente diversificada, e já tem, e ao mesmo tempo tem uma boa força de trabalho. É muito fácil treinar e preparar trabalhadores com eficiência na Bahia. E tem também um outro cacife que nem todos os estados tem. Tem uma boa tecnocracia. Tem muita gente preparada para a tarefa de governo. É um estado diferenciado nessa matéria. Nem vou entrar nessa explicação como é que isso aconteceu. Mas o fato é que tem, não chamaria uma classe, mas, um estamento de pessoas preparadas para a vida pública como poucos lugares tem. Portanto, isso para o futuro é um fator extremamente relevante.

  
  Aqui nós temos a petroquímica, minérios, celulose, produção de grãos com potencial enorme que conheci uma parte na campanha de 2002, na região Oeste, tem uma fonte inesgotável de atividades turísticas, tem indústria automobilísitca, tem informática, enfim, tem muita coisa.


  O que precisa nesse momento é romper alguns pontos de estrangulamento na minha opinião localizados fundamentalmente na infra-estrutura, como boa parte do Nordeste e eu estava conversando com o governador o que nos preocupa em manter a infra-estrutura. São coisas diferentes não há essa preocupação com a questão de estradas em SP. O Estado está praticamente pronto nessa matéria. Já tem todas as estradas que precisa em excelente situação com exceção da estrada federal a BR-101.Por sorte nós só temos duas ou três estradas federais e toda rede é estadual.

  Mas, aqui na Bahia, é um problema sumamente relevante. É pra mostrar uma diferença. Por outro lado, do ponto de vista de energia o estado não tem carência como aqui também. Mas não são relevantes. Temos um problema portuário que também é da área de transporte, mas que não chega aos pés do problema da Bahia. Interessante a gente fazer contrastes para verificar quais são as especificidades.

  Estava fazendo um mapeamento do setor produtivo baiano. Temos uma região que mencionei (Barreiras) o antigo cerrado que se desenvolveu como São Paulo, com os migrantes, atividades empresariais na soja, café e algodão. Encontrei um montão de gente do Sul. No Norte, o Rio São Francisco, Represa de Sobradinho, Vale do Salitre e agricultura irrigada; no Sul, celulose, eucalípto, mamão, minério de ferro, pólo de informática. Salvador e REcôncavo, petrouímica, petróleo e tem o turismo, música e o Carnaval. O turismo não apenas nessa região, mas no estado inteiro, que tem um potencial extraordinário e quem mais desenvolveu esse potencial, no Brasil, sem dúvida nenhuma foi a Bahia. Até minha filha tem casa aqui na Bahia passar as férias apesar da trabalheira e tudo mais não resiste a fascinação das praias da Bahia.

   Tem uma região que é a região problema, que tem um peso, embora menor em termos relativo ao restante da região Nordeste, que é o semi-árido. Tem 2/3 do território e talvez 2/5 da população. Lá já se tentou muita coisa. Não que essas coisas não deram certo. Mas não foram capazes de ativar a economia e o emprego de maneira satisfatória. Lembro da agricultura de sequeiro, mamona, ovinos, caprinos, e a água que é uma variável crucial. Também educação que é uma variável que queria tratar separadamente. Não apenas a educação básica, mas a educação para o trabalho.
   Há um fator fator positivo que existe gente preparada para a área pública e a economia diversifica me dá certa quilometragem nessa matéria. Isso nos faz olhar com otimismo para o futuro . Até porque estou convencido de que um dos problemas que o Brasil tem, hoje, são muito mais de erros de condução de política econômica, do que problemas estruturais como tem outros países na América Latina. Nós temos distorções gravíssima no funcionamento da política monetária.

  O Brasil tem a maior taxa de juros do mundo há muito tempo e continua. Você olha o mapa da América Latina e o Brasil tem, de longe, as maiores taxas de juros, a maior variação cambial do mundo o que, naturalmente é um adversário frontal da indústria, do mercado interno e de tudo mais. São erros. E o que são erros. É uma cois cometida sem que fosse necessário. Quando a gente faz algo necessário não é erro. É difícil de corrigir. Também se fosse fácil corrigir não teria problemas. E que tem conseqüências ruins. Também se não tivesse conseqüência nenhuma!
 
  Combina três atributos: desnecessidade, efeitos ruins e dificuldades de corrigir. Isso mostra ao mesmo tempo um potencial grande porque o Brasil bem administrado poderia estar tendo desempenho muito melhor do que está tendo e não temos razões pra estar bem atrás da economia da China, da Índia, mesmo com impacto da crise. Nós temos uma economia protegida, mas, pouco competitiva no coeficiente de exportação brasileira. Ou seja, a parte do PIB que é exportada é de 13 a 14%, então com a contração da demanda internacional, o efeito internamente era menor do que em outras economias. Muito mais abertas como a do Chile que tem 40 a 50% do Pib com exportação. Fora outros fatores que protegiam a economia brasileira da crise. O fato é que nós caminhamos para trás. Agora paramos de cair, mas ainda não vejo a recuperação a pleno vapor e dificilmente vamos poder ter um crescimento acelerado nos próximos anos até porque os erros dos anos anteriores são repetidos agora, de novo, em matéria de política monetária e cambial.

  Quanto digo isso é uma visão até de otimismo porque erros a gente pode corrigir. Não são fatores estruturais ou outros obstáculos intransponíveis e que não tem jeito. Mas, no nosso caso tem. Portanto eu tenho nessa perspectiva tenho uma visão otimista em relação ao nosso futuro.

   Quais são os problemas que tem o Brasil e que envolve o Nordeste e a Bahia do ponto de vista da prosperidade de prosperidade econômica, e não estou falando de curto prazo, porque a Bahia foi particularmente afetada porque aqui as exportações têm um peso grande e elas caíram muito no último trimestre do ano passado e no primeiro semestre deste ano. Primeiro: transporte de carga para centros consumidores e exportadores. Essa é uma variável crucial. Tem um bom sistema de transporte para isso. Segundo: portos. Para poder exportar e importar. Exportar inclusive para o Brasil dependendo da distância do mercado consumidor. Terceiro: uma qualificação profissional que é um outro problema extremamente relevante. Quarto: mercado consumidor. Que precisa ter consumo para indústria e para a atender atividade econômica. Eu diria que são esses quatro fatores essenciais que se colocam aqui. Praticamente, comuns a toda região Nordeste.

     
   No caso de São Paulo, a nossa experiência, grande parte do sucesso  a problemas de transporte e me refiro ao transporte rodoviário, porque o transporte ferroviário é concessão do governo federal e é muito difícil fazer as coisas caminharem, e estamos dando voltas em torno do ferro anel em torno da cidade de São Paulo e ir para o litoral sem passar por dentro da cidade, isso é uma discussão infindável sobre o modelo, nisso, naquilo, e é sempre anunciado como coisa feita e nunca começou sequer. Essa é uma experiência que a gente tem em várias partes do Brasil. Coisas que dão a impressão que estão acontecendo e na verdade nem começaram.

  Nós temos um modelo que foi muito bem sucedido e que estamos aplicando que é o de concessão de estradas e que deu muito certo. Às vezes não é muito popular porque implica pedágio. No meu governo fizemos concessões de seis estradas e um trecho do Rodo Anel de SP que já estava pronto e cinco outras estradas. Arrecadamos de recursos por concessão onerosa R$7.5 bilhões para investir em transportes e como contra-partida da concessão essas empresas são obrigadas a investir ao longo da concessão R$11 bilhões. Isso leva a manutenção das estradas a 100% de qualidade.
 
  Para o poder público uma das coisas mais difíceis é manutenção, rotineiramente de estradas. Manutenção é muito barato quando é bem feita, quando é mal feita tem recursos elevadíssimos. Esse foi um modelo que deu certo. O governo federal tinha sido começado na época de Itamar Franco depois estacionou e agora tem com umas poucas inclusive com critério que elimina a concessão onerosa e minimiza as obras a serem realizadas. Mas, esse é um modelo que deu certo como, aliás nós procuramos fazer com a área privada porque o único jeito de fazer investimentos no Brasil é com parcerias e são muito diferenciadas. Nós temos parcerias na área de estradas, que é a mais relevante, quantitativamente.

   Nós temos também na área de cultura que damos uma importância enorme e basta dizer que nós triplicamos o orçamento em três anos e nós só trabalhamos com Organizações Sociais que são entidades não lucrativas de administração privada. Todos esses empreendimentos, Museu do Futebol, que eu recomendo quem for a SP porque é considerado o melhor do mundo em futebol sem qualquer bairrismo porque não é um museu tradicional de se pendurar bandeiras, taças e fotografias, a administração é OS. Museu de Ciência e Tecnologia para a garotada, o Catavento, tem essa administração, a orquestra, enfim, praticamente. Outra área importantíssima é da saúde. Nós já temos 25 hospitais de SP administrados por OS e que tem um rendimento 25% maior, ou seja, atende 15% mais pessoas, e ao mesmo tempo custam 10% menos. Até o INCOR é assim, o Instituto do Câncer e nós estamos planejando para isso que já é o maior do país e um dos maiores do mundo, inclusive em pesquisas, administrados por OS da própria Universidade da USP, da Federal, da Unicamp, que é donde eu sou, das Santas Casas, enfim, entidades sem fins lucrativos e que não muito competentes nessas áreas. Mais, a rede ambulatorial, consultas, etc, é feita em parceria com OS e fizemos até para capitação de água, uma PPP, e que deu muito trabalho pra fazer porque o marco legal ainda não está plenamente concluído no sistema jurídico, e fizemos o Metrô de SP para uma linha que será concluída no ano que vem. Isso é um complemento fundamental que exige clareza na administração e objetivos com modelos que sirvam ao interesse público.

  Permita-me dar uma outra referência a SP que é na qualificação profissional. Há um mito de que ciência e tecnologia o crucial é a pesquisa. Eu digo um mito não porque se deve menosprezar. Nós estamos investindo no IPT um montante que é o maior da história e enfatizando muito a pesquisa. Há uma coisa a ser levada em conta . Um país como a Finlândia, por exemplo, não tem muita pesquisa básica. E no entanto é campeão de assimilação de tecnologia. Por que? Porque tem uma mão de obra muito qualificada. Quando a gente qualifica mão de obra nos níveis médio e universitário cresce muito a capacidade de absorver tecnologia, mesmo não produzido.

  No meu estado o setor que tem recebido mais atenção é o do treinamento e qualificação. Nós pegamos 70 mil alinos de ensino técnico e vamos levar até o ano que vem para 200 mil. Nível médio, garotada 16 e 17 anos e proporcionando para eles o nível médio na escola técnica, separadamente. E isso é em logística, informática, várias especialidades da agricultura e as faculdades de tecnologias que serão mais 5 concentradas em determinadas especializações. Esse ao meu ver é um dos investimentos que é crucial no mundo de hoje e em nosso país. E, na minha opinião, é uma atividade tipicamente estadual e o governo federal está entrando até por causa do exemplo de SP, mas não vai preencher essa carência, isso a médio e longo prazos porque não tem essa capacidade de chegar perto nem fazer cursos baratos. O custo de um aluno numa FAPEC custa R$4 mil por ano, praticamente a mesma coisa que custa um aluno na rede pública do ensino médio. Isso em faculdades de alto padrão e que as vezes chegam a ocupar lugares próximos ao primeiro .

  
  Gostaria, então de fazer referências a esses quatro pontos na ótica do Nordeste e particularmente aqui da Bahia. A questão das estradas. O problema maior daqui são as estradas federais as BR-101 e 116 inclusive uma delas que vem pelo litoral, esta que está sendo duplicada mais pra frente e para baixo e não está sendo duplicada na Bahia. Isso é um ponto de estrangulamento enorme como é o do Porto de Salvador que teve 7 diretores em 7 anos, e que nós temos problema no Porto de Santos, que era de natureza política, e brigamos muito para passar o porto para a administração estadual que é a garantia da profissionalização. Eu quero dizer que no caso de SP não aceitamos indicação política para diretorias de empresas nem para secretarias. O Porto de Salvador tem quantos anos de idade? Talvez o mais antigo do Brasil em atividade. A abertura dos Portos aconteceu aqui. Esse é um ponto de estrangulamento crucial.


  Planejamento é identificar os pontos de estrangulamento e enfrentá-los. Eu quando estava no exterior, eu passei 14 anos fora. Eu estudei na CEPAL onde depois trabalhei na Comissão Econômica para a América Latina. Eu fui aluno e depois dei aulas de planejamento durante muitos anos, inclusive em países latino americanos. Mas, o critério básico é identificar o que os espanhóis chamam de "coejos de boteja" (gargalos), pontos de estrangulamento, aquilo precisa ser rompido para liberar as forças produtivas. E consta que não há ligações do porto com ferrovias. Não deve ser um investimento do outro mundo para se fazer isso. É um problema de prioridade e planejamento do investimento público. Administração pública na minha opinião envolve gestão por resultados, planejamento, prioridades e responsabilidade fiscal. Responsabilidade fiscal porque sem isso o governo se enfraquece. Governo que atrasa pagamentos no caso de estados e municípios, que aumentam seus endividamentos com a folha de gastos correntes é governo que está enfraquecido. Estados e Municípios, hoje, não podem emitir papéis, não podem, e ai, a capacidade de intervenção diminui muito.

  Quando eu falava de gestão por resultados quero dizer que a gente tem feito um esforço nessa direção, como em Minas o Aécio está fazendo. Nós criamos, por exemplo, metas por escolas. Cada escola tem uma meta de melhora. Se preencher a meta e avançar na meta aumenta o número de salários e podem receber até 3 salários a mais por ano. Essa é um incentivo material e os sindicatos de SP, totalmente do PT são contrários. A gente tem que lincar na medida do possível a gestão com os resultados. Austeridade é crucial. Agora, o planejamento é básico que é para resolver problemas que estão emperrando o seu conjunto e que, às vezes não são problemas tão grandes .

  
  Quando eu faço esse diagnóstico é um diagnóstico otimista porque não é nada do outro mundo romper esse estrangulamento portuário que tem, hoje, na Bahia.

  
  Na região de Barreiras eu fiquei impressionado quando lá estive, parece outro mundo, outro país, com 5 bilhões de valores de carga transportados por estradas e isso mostra a necessidade de investimentos que correspondama esse tamanho.
 
  Esse é outro ponto essencial. Fala-se da Ferrrovia Oeste-Leste. Na realidade ela nem começou e não tem nem estudos ambientes a esse respeito e vocês sabem quanto isso demora, se não for trabalhado com agilidade.

  
    Um outro aspecto fundamental é da Petroquímica que me interessei bastante , inclusive telefonei para empresários para saber melhor, porque aqui teria todas as condições para que esse setor estivesse se expandindo e há problemas de suprimentos de insumos com a Petrobras que não abastece na medida que corresponda às necessidades dessa expansão. Essa é uma outra área vital (não é de infra-estrutura) mas, que tem a ver com uma política governamental no sentido nacional e voltada para o desenvolvimento local.

  Há perspectivas a meu ver boas, no que se refere a fabricação de navios, estaleiros, inclusive próximos daqui. Eu, se fosse baiano, estaria brigando (se esta história de submarinos ter certo) pra trazer para a Bahia a base de submarinos, aliás, é mais fácil trazer para aqui uma coisa nova do que tirar. SP não tem interesse nisso porque nosso nosso litoral está ocupado. Na questão ambiental posso garantir a vocês o que tem aqui de restrições ambientais é brincadeira do que existe em SP. O que nós fazemos, lá, é um trabalho de desburocratização, Nós conseguimos fazer o Rodoanel Sul que parecia impossível ambientalmente e colocamos 10% do valor da obra na preservação ambiental. Aí também não tem jeito pois essa é uma questão que veio pra ficar.


  O que queria resumir é um pouco da minha visão do Brasil. O Brasil foi a economia que mais cresceu no mundo desde o final do século XIX até 1980. Nós fomos a primeira economia do mundo, por incrível que pareça. De 1930 a 1980 também  ganhamos. Foi uma coisa da primeira metade do século . A partrir de 1980 entramos numa trajetória de semiestagnação e que continua até hoje, com uma taxa de crescimento lento. Uma explicação para isso foi a super-inflação. O Brasil viveu 15 anos de super-inflação. Nove planos de estabilização fracassaram. Eu me lembro que em palestra internacional eu dei um exemplo de como os planos iam fracassando eu fiz um paralelo com os casamentos da Elizabeth Taylor pois toda vez que ela fazia um novo casamento todo mundo torcia para dar certo, ela deve ter tido 9 ou 10, mas todo mundo sabia que ia acabar não resultando.

  Isso aconteceu com os planos de estabilização sucessivamente, desde o final do governo Figueiredo até Itamar Franco, planos que não tiveram nomes, Verão. Bresser, Cruzadio I, Cruzado II, Plano Gederal, Collor I, Collor II, e no final veio um que deu certo e provou, foi como o besouro que a gente acha que aerodinamicante não pode voar mas ele voa, e deu certo no meio eleição e deu certo, mas, acabou trazendo seqüelas porque a superinflação dissolveu o debate. A questão do desenvolvimento ficou pra trás.

  Eu sou de uma geração diferente dessa matéria e que a gente estava acostumado a debater o país e pensar em desenvolvimento . Eu morava quando criança numa vila no bairro da Moca, berço da industrialização do estado de SP e do Brasil. Antigamente não tinha BNH, Caixa Econômica, Programas Governamentais e os empresários construíam as casas e eu quero dizer ao presidente da FIEB como é no litoral de SP. Quem vai investir lá tem que definir moradia senão vai destruir o que resta na Serra do mar. A vila onde eu morava tinha 27 casas e naquela época não SUS, rede de proteção social, não tinha merenda na escola.
 
  E eu me lembro de cada casa, de cada família, a maioria dividida entre italianos e espanhóis, palmeirenses e corintinhanos. Os espanhóis corintinanos e os italianos e a minha família palmeirenses. Vocês não sabem como eu sofri com a derrota do Palmeiras para o Vitória. Foi o Vitória que mandou o Palmeiras para a segunda divisão, anos atrás. Mas, não tinha nenhum desempregado. Isso era outro Brasil dos anos 1950 e não há nenhuma razão, para não ser assim, nem cronológica, nem de tecnologia, automação e tudo mais. 

  Eu me lembro que quando comecei a estudar engenharia e já estava no final do curso veio o golpe e eu sai para o exílio. E estava gostando de economia e estudei economia no exterior. Eu me lembro de uma frase de uma economista inglesa que ela dizia o seguinte: "Vale a pena estudar economia não para obter respostas prontas acerca do que fazer na realidade. Economia não oferece respostas prontas. Mas, para aprender e não ser enganado pelos economistas". Isso é muito importante porque não há nenhum motivo para a economia brasileira não crescer muito e ter um nível de qualidade de emprego muito maior.

  Eu não sou contra nenhuma bolsa. Quando eu era ministro da Saúde criei a Bolsa Alimentação que junto a com a Nossa Escola criada pelo Paulo Renato, quando era ministro da Educação de FHC, junto com o Vale Gás formou o Bolsa Família. Acho que é um bom programa. Não sou contra a transferência de renda e o Funrural vem da época da Ditadura e na Constituinte ganhou fórum constitucional. Isso é muito importante. Uma das minhas iniciativas principais foi a criação do FAT, emenda de minha autoria na Constituinte, e que se transformou num projeto de lei e que ajuda a pagar o desemrego além de alavancar o investimento.

  
  Isso não substitui o emprego, a renda familiar a oportunidade . Isso esta ao nosso alcance e estou convencido que o Brasil não está nessa trajetória por erro e acho que o erro tem uma importância imensa no rumo das coisas. Não tem quando olha-se a história da humanidade em 10 mil anos. Acho que quando a gente olha, mas no curto prazo tem uma responsabilidade enorme no que se tem. O Brasil tem tudo para não ser o rabeirinha dos BRICS (Rússia Brasil China e Índia) e ao China e a Índia crescendo bastante com taxas positivas de 4% a 5% e a China 6% a 7%  e isso lá é considerado uma tragédia.

   Nós temos todas as condições ter uma visão de conjunto, planejamento, olhar a médio e longo prazos entender que política monetária é um instrumento de estabilidade para o desenvolvimento para faciliarr o financiamento da atividade economia, mas não a finalidade em sí da economia porque isso não gera emprego.

  
  É possível compatibilizar estabilidade com desenvolvimento? Isso é uma discussão antiga. Estabilidade ou desenvolvimento! Um dilema furado. Os estados Unidos na época de Clinton cresceram como nunca com inflação declinante. Isso depende da conjuntura e fatores favoráveis. Nós temos esses fatores plenamente realizados

Portanto sou otimista quando a gente verifica que os problemas no Brasil alguns são frutos de diagnósticos equivocados, incompetência, porque são perfeitamente possíveis de corrigir, inclusive com gente preparada porque tem gente que chega no governo para aprender como se fosse um curso de graduação e pós graduação, e com isso se perde tempo até aprender. O importante é pegar o bonde andando. É começar a trabalhar desde o primeiro dia. É ter clareza no que fazer e como fazer e da maneira mais economia e rentável no sentido de que possa estar o máximo em matéria de benefício social e econômico. 
  
  E nesse sentido me considero otimista. Se não fosse estaria perdido. Porque no caso de SP tivemos uma queda imensa de receita com a crise e, no entanto, conseguimos manter os investimentos e estamos fazendo os investimentos mais altos na história de SP. Nesse ano, R$20 bilhões e ano que vem outro tanto sem ter receita corrente para isso e estamos com uma situação financeira arrumada e permitir a expandir a capacidade de endividamento.

  Eu fui o criador (não fui o único) de essas exigênicas para os municípios s e estados a partir dos anos 1990. Exigências difíceis de setem operadas. Mas, nós conseguims. Vencemos a folha de salários de SP que ficavam com os bancos e não pagavam nada. Eu vendi inclusive para o banco estadual. Eu não conhecia nenhum diretor da Nossa Caixa, do Estado. tudo nomeação profissional e se é profissional também tem que pagar por administrar os recursos públicos. Depois nós vendemos a Nossa Caixa. Eu acho que foi salutar porque se for administrar politicamente um banco é um desastre acaba dando dor de cabeça. Depois, se for para fazer profissionalmente trouxe mais recurso. As concessões também trouxeram mais recursos. Conseguimos juntar recursos no meio da crise para manter investimentos altos. Se tivesse nos dobrado diante do desanimo não conseguiriamos fazer isso.
 
  Muita gente dizia que era impossível administrar o Estado sem lotear com a Assembleia Legislativa. E nós fizemos sem lotear porque deputado tem um problema, uma paixão por nomear, mas, maior do que a paixão por nomear é a raiva por um vizinho nomear e ele não. Quando todo mundo é tratado igual é mais fácil. Nós damos emendas (deputado Neto) para o pessoal do PSDB, do Dem, PT e Psol iguais e ninguém pode dizer que está sendo tratado desigualmente. Você diminui a taxa de ira e de irracionalidade dentro do Poder Legislativo. A convergência, e isso não é só no Brasil, no mundo inteiro tem que servir o orçamento e tem que ser bem feito e não dá pra jogar a criança pela janela. E é isso que a gente tem procurado fazer.


   Eu acho que isso é também possível se fazer no Brasil. Frear esse furor fisiológico de uso de máquina. Não diria que vai se obter a pureza. Hoje, é como no rio Tietê: entrou no rio Tietê pega doença. Eu acho que dá para despoluir o Brasil entrar na água sem pegar doença. Pode até não beber, seria um exagero, mas pelo menos elevar muito a taxa de despoluição na política brasileira. Isso ajudaria muito no nosso futuro. 


  Estou na vida pública no sentido mais amplo desde os 20 anos de idade. Naquela época estudante fazia política e tinha mais vez no Brasil. Quando fui presidente da UNE tinha 130 a 140 mil universitários, hoje, tem 3 a 4 milhões e é uma coisa mais diluída muitos do ensino privado que antigamente nem tinha. Era uma época de muita agitação, de muito sonho e também de muito otimismo e radicalismo, do qual fui um dos expoentes.


  Pra mim, a vida publica só tem sentido se puder levar o Brasil para outro caminho. São muitas décadas nesse sentido. Uma vida inteira envolvido nisso. Pra mim a política não tem conotação pessoal ou reconhecimento da pompa do poder mas tem sentido enquanto servir para mudança para construirmos esse futuro de desenvolvimento.

  Para que o futuro não seja vitima de um presente de irresponsabilidades. Síntese do que entendo de que seja comportamento dos que estão na vida pública.