Segundo o presidente, que comemorou a assinatura de vários acordos comerciais, "só não foi possível concluir acordo entre Petrobras e PDVSA porque são duas moças muito bonitas e muito fortes que disputam palmo a palmo".
Lula disse que no máximo em 90 dias, os dois países devem retomar as negociações para um acordo não apenas para construção da refinaria, mas para a atuação da Petrobras na Faixa de Urinoco, no país vizinho.
"Se a construção da Muralha da China demorasse tanto, acabaria a humanidade e não teríamos a Muralha da China", brincou o presidente.
A nova tentativa frustrada de chegar a um acordo entre os dois países já havia sido adiantada devido a uma vazamento da discussão entre os dois presidentes com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, por meio do sistema de tradução montado para a entrevista coletiva, prevista para logo depois do debate.
A falha no sistema permitiu que os jornalistas acompanhassem as dificuldades da negociação realizada durante encontro reservado entre os três participantes em um hotel, em Salvador (BA).
O governo venezuelano deveria entrar com 40% dos US$ 4 bilhões previstos para a construção da refinaria, mas até agora só o governo brasileiro investiu na obra. Isto porque a Venezuela tem feito exigências, como o direito de comercialização no Brasil de petróleo importado da Venezuela. Mas as regras brasileiras determinam que só quem pode vender internamente é a Petrobras.
Por meio do sistema de som, foi possível identificar a decepção de Chávez. Ele lamentou que os dois países não tenham sido capazes de fazer um acordo. O presidente da Petrobras esclareceu que três pontos ainda dependem de mais discussões: custos de investimento, comercialização do produto e o preço do petróleo.
Chávez reclamou. "Lamentável não sermos capazes de fazer um acordo. Confesso que estou frustrado. A culpa é dos dois governos", afirmou.
Questionado, em entrevista coletiva logo após os discursos, sobre o que teria impedido novamente um acordo entre as duas petroleiras, Lula brincou ao comparar a negociação das empresas ao filme "Duelo de Titãs". O presidente, no entanto, disse estar confiante de um acordo em 90 dias.
Chávez ainda respondeu, também em tom de brincadeira: "e eu vou fazer o quê? Eu não quero fazer nada". A falha aconteceu quando a equipe distribuiu rádios para que os jornalistas acompanhassem a tradução simultânea de um encontro dos dois presidentes com a imprensa. O áudio dos equipamentos deu acesso à conversa entre os líderes. Os rádios funcionaram por cerca de três minutos, até os assessores recolherem as baterias dos equipamentos.
Os dois presidentes se reuniram no Hotel Pestana, em Salvador (BA). O encontro faz parte das reuniões trimestrais que os dois líderes governamentais realizam desde 2007. Na segunda-feira, Lula recebeu o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, também em Salvador.
A programação de Chávez em Salvador prevê a assinatura de uma carta de intenção com o governo baiano, com o objetivo de dividir experiências nas áreas de administração pública, turismo, programas sociais e cultura. A contribuição também deve abranger a esfera federal. Chávez conta com o apoio da Caixa Econômica Federal (CEF) para criar uma rede bancária pública e um sistema de financiamento de casas populares na Venezuela.
A pauta ainda conta com três assuntos principais: a adesão venezuelana ao Mercosul, a construção de uma refinaria binacional em Pernambuco e a ampliação de linhas de financiamento do BNDES à Venezuela.
No Palácio de Ondina, Chávez e Lula assinam ainda, às 17h, uma carta de intenção com a finalidade de trabalhar em conjunto em setores de interesse comum entre os dois países. No final do dia, está previsto o retorno do presidente Hugo Chávez a Caracas, a capital venezuelana.
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), também participa do encontro e assina um memorando com o governador do Estado venezuelano de Arágua, Rafael Eduardo Isea, para cooperação nas áreas de desenvolvimento econômico e tecnológico, cultura, esporte, turismo, educação e saúde