Silas Rondeau foi guindado à Esplanada por indicação do senador José Sarney (PMDB-AP). Sobreviveu à reforma ministerial do segundo mandato graças à renovação do apoio de Sarney. O inquérito da Operação Navalha acomoda-o agora na corda bamba. A documentação enviada pelo procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza ao STJ diz, sem meias palavras, que o ministro recebeu propina de R$ 100 mil.
A saga da propina começou em Salvador. Os R$ 100 mil foram sacados numa agência da Caixa Econômica Federal na capital baiana por Lourenço Vieira, funcionário da Gautama. Seguido por policiais a paisana, ele voou para Brasília. No aeroporto da Capital, entregou o dinheiro a Tereza Lima, secretária particular de Zuleido Veras, o "chefe dos chefes" da máfia das obras públicas, na definição da PF.
No último dia 13 de março, Fátima Vieira, diretora Financeira da Gautama, foi ao Ministério das Minas e Energia. Portava um envelope pardo, recheado com a propina de R$ 100 mil, de acordo com a PF. Entrou pela porta reservada às autoridades. Subiu pelo elevador privativo do ministro.
No andar de Silas Rondeau, a emissária de Zuleido Veras encontra-se com Ivo Almeida Costa, assessor especial do ministro, preso pela PF na quinta-feira da semana passada. Filmados, entram por uma porta que, segundo a PF, dá acesso ao gabinete do ministro. Meia hora depois, Fátima e Ivo cruzam a mesma porta. A imagem mostra que, a essa altura, o envelope pardo já estava com Ivo. Despedem-se. Ivo retorna ao gabinete de Rondeau. E sai sem o envelope.
Para desassossego de Lula, Silas Rondeau é um dos integrantes de sua comitiva na viagem ao Paraguai, que prossegue nesta segunda-feira. Ouvido em Assunção, o ministro classificou de "mentira" a versão sustentada pela PF no inquérito da Operação Navalha. Disse que vai provar sua inocência. E afirmou que sente-se à vontade para permanecer no cargo enquanto Lula achar que é merecedor de confiança.