Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

Fofoca, a internet a nega do leite e casamento real

Jolivaldo Freitas é jornalista e escritor
27/05/2018 às 13:48
As rede virtuais, as mídias sociais, a internet - principalmente o Facebook e o Twitter - vieram para substituir outros ramais da fofoca e olha que na Bahia em outros tempos Gregório de Mattos dizia “(...)Em cada porta um frequentado olheiro/Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa/Escuta, espreita e esquadrinha/ Para o levar à praça e ao terreiro”.

Não pense que os fofoqueiros de plantão de hoje, que usam a Internet, são diferentes daqueles de outras eras. Acontece que nos tempos idos o fofoqueiro botava a cara à tapa e todo mundo sabia que ali estava uma pessoa que gostava de disseminar o que sabia ou ouvia e dava tempo parar a conversa no meio quando ele aparecia. Hoje o boato corre rápido pelos cabos e rádios. Via wifi.

O fofoqueiro internauta, que se revelou a maioria de quem frequenta as redes sociais, mostram que desde a aurora da raça humana que se intriga faz bem para quem as faz é ruim para quem é vítima. Este em nada difere daquela mulher que ia pegar água na fonte e encontrando vizinhos ou amigos se saia de pronto com “Você viu o que aconteceu com a filha de...”. Ou: “Aquele rapaz é um vagabundo”. Ou que socializava a vida alheia, apontando quem estava sem emprego, quem vivia às custas da mulher, quem estava levando ou dando corno, o comerciante que roubava no peso, alguém que estava tuberculoso ou que devia na caderneta do armazém do espanhol ou do português.

Em pouco se difere dos fofoqueiros da barraca na antiga Feira de Água de Meninos ou da Feira de Santana, da feira livre de São Felipe, do Mercado Municipal de Santo Amaro, da venda de Porto Santo e tantos outros, ou do antigo entregador de água, do estafeta, do carteiro, do vendedor de frutas que passava no bairro, do carroceiro, do médico do posto de saúde, da escrava que vendia leite e passou a ser chamada de “nega do leite” e que sempre tinha algo a acrescentar de novo em cada porta, do rábula, do edil. Todos que viam, ouviam, até o padre em “segredo de confissão”, aumentavam e repassavam as informações, sempre com um ar compungido e pedindo segredo, por falar por ser amigo, por querer ajudar, porque ouviu falar.

Na Internet a fofoca tem se mostrado em alta. Quantas fofocas você já fez este ano? Ela não pega somente celebridades. Bisbilhotar a vida dos outros, que sempre foi um dos esportes preferidos dos baianos, foi aprimorada com esta nova ferramenta. Antigamente se dizia que para ver quem era um ou uma fofoqueira, bastava olhar se o cotovelo estava com calo, pois a pessoa ficava horas no peitoril da janela perscrutando.  Hoje basta abrir uma página do Facebook. 

E olha que não estou falando de fake News. Pois todo mundo está vigiando todos e haja fofoca contra desafetos, amigos, familiares, ex-maridos e namorados, contra a colega do trabalho, nas escolas. Tudo em real time. Com seus gigas e terabytres. Tem quem ganhe dinheiro em site e Youtube fazendo fofoca e tem quem pague para ouvir fofoca.

O casamento recente do príncipe Harry com a atriz Meghan Markle rendeu fofoca e ditos  do tipo: “Na Inglaterra a política racial é em alto nível” e haja fofoca por sua família ser negra. Na real. E se você está pensando que vai escapar, acredite que um dia vão te pegar. Todos estão no olho do furação. Se ligue ô fofoqueiro!