Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

Gripe entra de férias e dona Gertudes foi tomar chá

Jolivaldo Freitas é jornalista e cronista
28/04/2016 às 10:57
Dona Gertrudes, antiga professora do prefeito ACM Neto – ele não vai lembrar porque não tem mesmo como lembrar - disse para a acompanhante na porta do Quinto Centro de Saúde: “Vou puxar as orelhas deste menino, como eu fazia quando era criança”. Ela não quis usar o termo pequeno para não ser desrespeitosa no que fez bem pois o prefeito merece respeito e é termo usado pelos adversários, verdadeiros despeitados do seu sucesso como homem público, para caracterizar o fato dele ser do tipo mignon.

Ela estava chateada por ter saído de casa em plena sexta-feira para tomar vacina. A acompanhante retrucou:

- Mas professora, a senhora teve tanto tempo e deixou para vir se vacinar justamente num feriadão?
- Minha filha – disse – eu deixei de viajar. Deixei de ver meus netos em Mar Grande justamente para aproveitar que era feriado prolongado e, sabendo que o soteropolitano é festeiro, iriam sair da capital e deixariam os postos com menos fila.

A acompanhante disse que era mesmo e lembrou que no primeiro dia de vacinação em Salvador foram quase 50 mil vacinados, mas que muitos voltaram para casa e só conseguiu vacina quem chegou nos postos quando o dia raiava.
E ela, voltando-se ainda para a professora disse:

- Dona Gertrudes não acho não que a senhora devia dar uns cascudos no prefeito Neto. Tenho certeza que ele não sabe até agora que apesar de toda urgência para vacinar a população os postos de Salvadorfecharam durante quatro dias. Imagine se ele iria deixar de vacinar umas 200 mil pessoas neste período, diminuindo as filas nos dias normais da semana.

As duas então pararam para discutir e lembraram que fechar os postos à vacinação justamente quando o Ministério da Saúde pediu celeridade não era nada bom para a imagem do secretário de Saúde do município, que – provavelmente – por falta de atenção dos seus assessores não parou para pensar que não se para uma campanha dessa importância no meio, pois enquanto os funcionários dos postos de saúde saem de férias, a gripe está lá, firme e forte, justamente esperando uma brecha deste tipo para matar.

A discussão entre elas continuou enquanto se encaminhavam para a Estação da Lapa e lembraram que tinham acabado de ler nos jornais que H1N1 já havia matado nove pessoas na Bahia e que Salvador lidera os registros.Trinta e oito casos da doença foram confirmados no estado até agora. Salvador tem o maior número de registros da H1N1 no estado (22) e também o maior número de mortes (5). Tem casos em Lauro de Freitas (3); Guanambi (3); Vitória da Conquista (2), Boquira, Boa Nova, Feira de Santana, Ibipeba, Ibirataia, Jacobina, Rio de Contas e Teixeira de Freitas. As mortes ocorreram em Salvador (5); Vitória da Conquista (1); Teixeira de Freitas (1); Ibipeba (1); Boquira (1). Somos o sexto estado com maior número de mortes provocadas pela H1N1 no país. São Paulo lidera com 119 óbitos.

A vacinação em Salvador, que terminaria em 20 de maio, foi prorrogada para o dia 30. Já foram vacinados quase 200 mil idosos, índios, gente com pressão alta, detentos e até malucos. Mas a professora Gertrudes ainda está revoltada. Ontem tentou se vacinar de novo no Quinto Centro e a fila era imensa. Foi no Campo da Pólvora e a mesma coisa. Mandaram que fosse no postos do Doron e chegou lá estava em obras. O dinheiro do táxi acabou e ela deu meia volta e como estava perto passou no postos do fim de linha da Fazenda Garcia e a atendente disse que “vacina tem, mas acabou!”.

Ela se retou de vez e perguntou:

- Minha filha, vocês não levaram semanas em greve aproveitando que estavam ganhando sem trabalhar e indo curtir a praia? Ainda emendaram com o feriado? Se eu morrer de H1N1 venho puxar seu pé e o do prefeito. Ele lembra de mim e da minha régua. Onde já se viu parar vacinação por causa de feriado. Pense num absurdo que na Bahia tem precedente, foi o que dizem que disse Otávio Mangabeira e eu acredito.
E lá se foi a pro Gertrudes em busca de umas folhas na Feira de São Joaquim, para fazer chá..