Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

AS AVES E O POVO DE SANTALUZ NO SERTÃO DA BAHIA

Jolivaldo está em Santaluz, na regíão do sisal
12/07/2012 às 11:24

Foto: DIV
A coruja aparece nas noites luzenses com frequência
   Andava com saudade da educação no trato social, do sossego da madrugada calma e de não ter estresse de enfrentar trânsito conturbado noite e dia. Do cheiro bom do capim e do barro molhado, do som do silêncio. Ainda estou em Santaluz, terra de gente educada, que agradece num bom dia, boa tarde, boa noite. Que pergunta como vai a saúde e faz  questão de um forte aperto de mão. Onde ainda lojas fecham ao meio dia para o almoço e se almoça em casa.

   O povo do sertão sempre me cativou pelo jeito afável e sincero, de jeito desconfiado e sorriso aberto, coisa que não se vê mais na cidade do São Salvador da Bahia de Todos os Santos, a não ser que se vá à zona de Itapagipe, vez que o pessoal da Boa Viagem, Mont Serrat, Barreiro, Bonfim e Ribeira, passando pelo Cantagalo, vive de forma bucólica, como se estivesse num enclave extraurbano e onde é de bom tom dar bom dia, boa tarde, boa noite, como vai a senhora, como vai o senhor e ainda tem uns antigos que usam bonés - antigamente eram os chapéus de feltro, palha  ou Panamá - e os tiram da cabeça quando passa alguém mais velho; passa na porta da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem ou, claro, quando vem de lá uma moça bonita.
 
   Gosto por demais do sertão e o conheço todo. Noite passado fiquei tempão parado, como abobado, numa das praças da cidade de Santaluz olhando centenas de pássaros pretos e canários-do-reino que se apinham na copa de uma árvore, acho que ficam, disputando espaço nos galhos. Fazia frio e ventava. Alguém me disse que quando a cidade acalma ainda mais, por volta das dez horas da noite, é a vez de aparecerem as aves predadoras. A coruja - para a maioria do povo agourenta - useira e vezeira plana, rasga a mortalha, dá uma queda de asa e invariavelmente leva uma ave no bico ou nas garras. Preferi não ver, não ser testemunha da escala alimentar da natureza.
 
   Adotei uma cadelinha com pelo nas cores branca e vermelha, com alguma pintada de preto, que de tão magra parece que o estômago colou. Ainda não escolhi um nome para ela, que tem os olhos tristes e é desconfiada. Se fosse adotar todo animal esquálido que vejo no sertão que enfrenta mais um período de seca, teria de interagir com vacas, bois, carneiros, porcos e raposas, dentre tantas da rica fauna que vai de Feira de Santana ao Raso da Catarina.
 
   Um amigo aqui de Santaluz me diz que além de ser um povo educado e gentil, o que venho comprovando, o luzense mantém o bom humor apesar das vicissitudes. Ele mesmo ri da tragicomédia de um senhor que morreu semana passada. O homem teve um treco, ficou um tempo em coma e certo dia acordou com fome, pediu feijoada, buchada e ensopado de carneiro. Levou uma semana comendo tudo a que tinha direito e sem quê nem para quê, morreu. Só levantou para comer