Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e
Municípios: gestão e planejamento.
Waldeck Ornélas , Salvador |
20/10/2025 às 10:57
Waldeck Ornélas
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O Brasil chamou a si a missão de sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), localizando-a, muito simbolicamente, na Amazônia. É algo em que acumulamos larga experiência, desde a Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, passando pela Copa do Mundo da Fifa, em 2014, e as
Olimpíadas de 2016, além de, anualmente realizarmos, simultaneamente, enormes Carnavais em várias grandes cidades do país. Mas parece que, desta feita, a nossa expertise na realização de grandes eventos não está sendo bem-sucedida em Belém (PA).
Mas, se há problemas em relação aos aspectos organizacionais e infraestruturais da COP 30, bem mais preocupante é a situação do Brasil em relação à sua temática. É muito bom que seja realizada na Amazônia, para que as delegações estrangeiras possam, efetivamente, conhecer o que é esta floresta, seu porte, magnitude, diversidade, extensão e importância, uma vez que tem sido tema recorrente nos
pronunciamentos e manifestações mundo afora, com frequência envolvendo até chefes de estado que nunca viram tão majestosa e imponente obra da natureza, até porque seus países destruíram os pequenos fragmentos florestais que tiveram, mas, ainda assim, se esmeram em ditar regras sobre o que o Brasil deve fazer com a nossa Amazônia.
A atitude brasileira, contudo, é deveras preocupante. Somos o país que tem a maior reserva florestal do mundo, temos também a maior reserva de água doce do planeta e temos a matriz energética mais limpa do globo terrestre. Somos considerados, no entanto, como vilão ambiental, quando deveríamos ser vistos como o grande herói e principal agente desta causa.
Claro que precisamos combater com eficácia o desmatamento, as queimadas, o garimpo ilegal e tantas outras mazelas que, qualquer que seja o governo de turno, tem afetado a Amazônia. Mas, nem por isto a postura do Brasil pode deixar de ser altiva, de quem é guardião do que o mundo tem de melhor em relação ao meio ambiente.
Basta confrontar as condições e os indicadores do Brasil com a dos países desenvolvidos, que são, estes sim, os grandes e maiores geradores de gases de efeito estufa, e nem por isto se sentem vilões ambientais. Nós é que deveríamos estar cobrando deles essa fatura!
Ou será que o complexo histórico de vira-lata afeta de tal modo a estima nacional, a ponto de inibir uma atitude enérgica e vigorosa em defesa dos nossos interesses nacionais?
Falta-nos um projeto de país, em que possamos sustentar os nossos argumentos. Neste sentido, é preciso seguir o exemplo da China que, estabelecidos os seus objetivos nacionais, mudou rapidamente o porte de sua economia e, só depois de haver crescido, quis entrar para a OMC (agora desprestigiada) e outros foros internacionais, quando já detentora de condições para influenciar os seus destinos.
O mesmo faz os Estados Unidos da América, quando colocam os seus interesses nacionais acima até da
relação com tradicionais aliados. Idem, a própria Rússia que, apesar de não capitanear mais a antiga União Soviética, adota atitudes que fazem prevalecer os seus interesses.
Aliás, todos confirmam o entendimento de que países não têm amigos, só interesses. Enquanto isto, nós aqui ficamos a adotar as pautas neocolonialistas da decadente Europa, por quem fomos colonizados, e de cuja influência parece que ainda não nos livramos.
Já passou do tempo e da hora do Brasil fazer valer a sua condição de país independente e afirmar, no concerto das nações, a nossa agenda nacional de desenvolvimento – sustentável, é certo – mas autônoma, capaz de alimentar e realizar a agenda de país do futuro, que nunca chega.