Economia

PARIS: MENDIGOS POR TODA PARTE EXPÕEM DRAMA DA HABITAÇÃO NA VILLE (TF)

São centenas deles espalhados pelos corredores do comércio e turismo
Tasso Franco , Paris | 23/05/2022 às 04:36
Mendigo apelativo na Champes Elysée
Foto: BJÁ

PARIS - Esta cidade - como outra qualquer do mundo ocidental - tem seus moradores de ruas e pedintes. E eles estão por toda parte, em especial nos corredores comerciais, nas portas das igrejas, nos pontos turísticos, nas pontes do Sena, onde é possível estar. 

   Alguns deles são moradores de rua com pontos-fixos e quase sempre com a companhia de um cachorro. Aqui perto donde moro em Vaugiraud tem um deles que mora numa cama de papelões, possui pequenas vasilhas, um cão, cobertores, usa uma cadeira tipo de praia para passar o dia sentado e não pede nada a ninguém. Se alguém quiser dar, tudo bem, ele agradece. Na temporada de inverno sofre bastante com o frio.

   Há, ainda, mendigos mais espertos que têm celulares, usam o sistema de transporte por metrô e não têm pontos fixos. Moram as 'bidonvilles'. Nas ruas onde existem muitas lojas de comércio - sapatos, roupas, bijouterias, pastelarias, etc - eles se concentram nas esquinas ou nas calçadas e, aparentemente, são bem vestidos ou razoavelmente bem resolvidos.

  A população local e os turistas costumavam lhes dar algumas moedas. Existe, anda, uma categoria de mendigos - chamados das portas das igrejas católicas - e como há centenas de igrejas e capelas imagina-se que eles são centenas. Outra categoria são dos mendigos nos pontos turísticos e na Champs Elysée, a principal avenida da cidade onde estão situadas as grandes lojas de grife - Dior, Louis Vuitton, Armani, Boss, Nike, etc.

   Não há nenhum tipo de repressão à essas pessoas apenas a recomendação da Prefeitura de não dar esmolas. O total de pessoas sem domicílio fixo (SDF, na sigla em francês) cresceu 50% nos últimos dez anos, segundo relatório da Fundação Abbé Pierre.

   A França tem mais de 500 'bidonvilles' - nome dos assentamentos correspondente a favelas - três décadas depois de tê-las erradicado. Em nenhum outro lugar o problema é mais sério que em Paris. As taxas urbanas de falta de moradia, excluindo o capital, cresceram 11% no mesmo período de 11 anos mencionado acima. Em Paris, o aumento foi de impressionantes 84%. Embora os números exatos sejam difíceis de obter, estima-se que o número de pessoas que dormem mal na capital seja de 30.000.

   Então, o que causou essa forte escalada em Paris? Embora não seja um problema novo, a falta de moradia piorou desde a crise financeira de 2008 e com a pandemia do coronavírus, transformando-se em algo que pode afetar não apenas os isolados ou descontentes na sociedade. 

   Por um lado, o fato de que os salários não aumentaram na mesma proporção que os preços de aluguel significa que, para muitas pessoas, ter um emprego não garante mais a segurança da habitação. 

   Esse é um dos temas mais comentados na campanha legislativa em curso com pleito previsto para junho próximo, especialmente dos opositores do presidente Emmanuel Macron que, segundo os seus opositores, da esquerda e da direita, governa para os ricos.

   O custo de vida em Paris é alto. O aluguel de um imóvel nos distritos mais centrais - a cidade é dividida em 20 distritos (arrondissements) para um apartamento quarto e sala gira em torno de 1.000 a 1.200 euros e observando-se que o salário mínimo gira em torno de 1.600 a 1.800 euros vê-se as dificuldades. 

   A solução é morar nos distritos mais distantes e, alguns deles, considerados sensíveis (palavra para explicar que são perigosos) como: cite Cambrai, Curial, os Chaufourniers (cidade vermelha), o Cidade branca e Riquet-Stalingrado no dia 19; Samambaias e amendoeiras no 20º arrondissement;  La Brillat e Chevaleret no 13º arrondissement; Porte de Vanves no 14º arrondissement; Foguete no dia 11. Habitados por muitos imigrantes.

    Quem mora longe do trabalho e não usa bikes tem que enfrentar o metrô cujo bilhete custa 1.6 euros o que significa ida e volta 3.2 representando 80 a 90 euros mês, além do que tem a alimentação. Trabalhos que não sejam em fábricas e grandes empresas não fornecem alimentos aos empregados. O sistema é assemelhado ao Brasil. Quem trabalha no comércio de rua e shoppings, por exemplo, que leve sua comida.

    O turista que visita a cidade vê alguns mendigos nas ruas, ms não percebe a dimensão do problema de forma mais ampla, porque, regra geral, fica deslumbrado com a beleza da capital francesa. Mas, como toda grande cidade tem seus inúmeros problemas. (TF)