Colunistas / A Boa Mesa
Dom Franquito

DOM FRANQUITO e amigos de Edinho se deliciam no robalete com vatapá

Uma confraria pra ninguém botar defeito
25/01/2014 às 11:56
 Mapele é um distrito de Simões Filho que fica situado no fundo da Baía de Aratu, uma extensão da Baía de Todos os Santos que avança em direção a contornos do Recôncavo. Historiadores falam de uma pequena baía de Mapele onde o mar é contido pelo continente e o rio doce manganês. 

   É um local belíssimo e que já foi ponto de veraneio de baianos endinheirados de Salvador: Mapele, Madre, Caboto, Paripe. Se a ligação ferroviária ainda existisse era um pulo de Mapele a Paripe e daí até a Estação da Calçada. Mas, nada disso existe mais porque a ferrovia foi desativada.

   De fazendas de engenho de açucar a local de veranistas, Mapele se transformou numa vila pobre habitada por aproximadamente 7 mil habitantes, antes local de pescadores e artesãos, sonho extrativista de petróleo e gás, e agora dormitório de pessoas que trabalham no CIA, Pólo Petrquimico, Porto de Aratu e Salvador. 

   A ligação com a capital só por transporte rodoviário, via BR-324/CIA ou então de barco particulares, sem linha regular pública. Há ônibus interurbanos que funcionam como urbanos Salvador/Mapele.

   Então, Mapele, assim como Portão, Itinga, Prafuso, etc, operam também como bairros de Salvador. Se a BR-324 estiver numa boa, sem trânsito pesado, 1 hora para o centro da capital.

   Fui a Mapele a convite do marquês da Placaford, Eujácio Simões, para saborear o robalete de Mapele, uma espécie de robalo, menor e mais saboroso, numa mesa de bar organizada por Sêo Domingos, o popular Edinho Camisa de Seda, preciosidade pescada por Dil, um camarada que ainda atua como pescador da velha guarda da baía de Mapele.

   Registre-se que foi um encontro memorável onde a boa mesa é tratada com todo carinho no Restaurante do Souza, uma casa que fica na Rua do Colégio, só atende nos finais de semana, mas, excepecionalmente os sabores de dona Ivanilda, esposa há 41 anos de Souza, estiveram à prova para um grupo de amigos.

   Dona Ivanilda diz que Sêo Domingos, não chama o amigo de Edinho, é exigente e recomenda o robalo de uma forma especial. 

   - Primeiro limpo o peixe com limão e faço uma imersão em alho e cebola. Depois dou uma fritada nele por um pequeno tempo. Uma fritadinha, digamos. Só então é que levo no modo moqueca, discreta, com coentro, tomate, cebola e azeite. 

   Isso dona Ivanilda me confidenciou nas carrepetas do fogão enquanto na mesa rolava o mais estranho dos tira-gostos ou abre apetite: castanha, amendoim, umbu e cachaça.

   Otávio adiantou que trouxe os umbus de Itapuã. - Acho que é do Sertão mas comprei na feira de Itapuã, confidenciou a Roque, o qual tomava malzebier com Seleta e umbu. 

   - Santo pai! Não faz mal, questionei? 

   - Coisa alguma, disse Roque quando a essa altura da tarde, suponho por vota das 15h, mesa posta, 10 homens com garfos e facas prontas para o ataque ao robalete, uma garrafa da Seleta já tinha indo embora. 

   - Tenho uma Claudionor no carro, comentou Otávio, apressando-se a ir buscar o mimo.
De volta ao convivio do lar, Roque testou a temperatura da Claudionor e disse: - Você deixou a garrafa no sol e tá quente. 

   "Souza - pediu ele - bota essa garrafa no freeser 10 minutos que fica no ponto", recomendou.

   Alguém deu um palpite adicionou sobre pinga: - Quando o camarada bebe que a pinga transpira pelos poros e tem cheiro de madeira é cachaça envelhecida.

   Rolou um video gravado por Celestino sobre o rei da cachaça de MG, Tony Rodrigues, o homem que é dono da Seleta e tem 85 cães e muitas manias, inclusive toma 9 caninhas ao dias e cria uma jibóia num armário.

   Souza retornou com a Claudionor no ponto. - Vai? perguntou Roque a mim se tomaria uma dose.

   - A gosto, respondi. 

   Nisso, dona Ivanilda e sêo Souza foram colocando sobre a mesa terinas com feijão fradinho e feijão de leite. Depois, arroz no estilo peguento e vatapá. Por fim, as panelas com os robaletes.

   O sino tocou na estação do trem. Aos garfos, alguém gritou como se fosse as lutas pela Independência da Bahia.

   Sêo moço, minha nobre leitora, a essa altura, yo já tinha experimentado uma Claudinor e quando levei o robalete a boca, não resisti a uma segunda dose.

  Uma delicia: o robalete com vatapá parecia coisa de cinema.

   O marques de Placaford gritou com seu vozeirão: - Cadê a pimenta. 

   Souza trouxe logo dois modelos de molho e mais uma cumbuca com pimentas ao vivo.
Um silêncio de sacristia tomou conta da mesa. Ao fundo via-se a Mata Atlântica e réstias de mar em direção ao porto de Aratu e mais uma fumacinha saindo da chaminé da Dow.

   Vamos brindar a vida, comentou Edinho, o anfritião da jornada.
- À vida - emendou Otávio já promotendo que faria uma paca para o próximo encontro. - Paca de Coaraci, gordinha - completou.

   De minha parte, satisfeitissimo com o robalete ainda levei para casa uma quentinha com vatapá, feijão de leite e o robalo para dar de presente a senhora Bião de Jesus, mi esposa.

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Bar e Restaurante do Souza
Rua do Colégio, 9, Mapele, Bahia 
Fone 9253.9008
Só funciona sábado e domingo
Três epecialidades: camarão frito, moqueca de arraia e arrumadinho
Média de preço do prato R$30,00
Só aceita dinheiro