Colunistas / A Boa Mesa
Dom Franquito

PICANHA NA CHAPA NO GAROTA DE IPANEMA INSPIRADA EM TOM E VINICIUS

Restaurante Garota de Ipanema, Rua Vinicius de Moraes, 49, Ipanema, Rio de Janeiro
13/08/2010 às 14:23

Foto: BJÁ
 
   Ir ao Rio de Janeiro e não visitar o Bar e Restaurante Garota de Ipanema é o mesmo que ir a Roma e não sentar-se na gelateria Tri Scalini da Piazza Navona para apreciar o sorvete tartufo; ou estar em Salvador e não se deliciar com o acarajé de Cira.
   Tem desses ditos sim senhores. Tem gente que vai a Roma ver o papa e aqueles que só se contentam com Salvador se subirem e descerem o Elevador Lacerda. 



   De minha parte, na especialidade da boa mesa, em Roma adoro as gelaterias Valentino e Buccianti. Não sou tão fanático quando Washington Olliveto que pesquisa sobre sorvetes. E, em Salvador, me delicio no Moreira, no Luis galego e nos petiscos do tabuleiro da baiana do Barravento.



   No Rio; pois dito meus nobres leitores e donzelas leitoras é imprescindível uma passada no Garota de Ipanema.



   Não só pelo prazer de ser acolhido no bar e restaurante que nos idos de anos 1960, nos primórdios da Bossa Nova, quando o botequim ainda se chamava Veloso, Tom Jobim e Vinicius de Moraes compuseram uma das canções mais singelas do Brasil, uma das poucas de dimensão internacional - "A Garota de Ipanema" - inspirada em Helô Pinheiro, à bela jovem que residia na Rua Montenegro e passava diariamente na calçada do boteco para ir à praia.



   Lá se vão 48 anos desse momento com esses dois fantásticos personagens já falecidos, um deles, Vinicus, caminhante nas terras de Salvador da Bahia nos anos 1970 enamorado de Gesse, do mar de Itapuã, da poesia, do violão e do uisque.



   De minha parte, sem ao menos tocar um banjo ou ter a inspiração de Tom, autor da música original à garota de Ipanema, bato ponto no local há 35 anos. Evidente que, de forma esporádica, eventual, dado que meu sitio residencial é Salvador da Bahia.



   Em recente estada no Rio tive esse renovado prazer. E mais agradável ainda porque recepcionado pelo velho Arlindo, 46 anos de batente, garçom experiente, amigão, e que de tanto tirar fotos com os turistas e freqüentadores do local disse-me: - Se cobrasse por essas fotos já estaria rico, afirma ser seu primeiro e último emprego.

  Arlindo não brinca em serviço e trouxe-nos duas tulipas. Claro, a senhora Bião de Jesus adora um chopinho. Até demais, brinco com sua boquinha sedutora e sua tulipa que parece sempre a ter furos. Agapito, menor de idade, sorria e tomava sua Cola Cola.


   De entrada para temperar o útil ao agradável patinhas de caranguejos. Hum!
Deliciosas. O Garota tem uma cozinha para os normais de bom paladar.



   Vendo o nosso apetite, Arlindo sugere uma picanha na chapa para três.



   - Duvido do sabor, questionei.



   - Não se arrependerá, confidenciou-me no ouvido que entendo as palavras.   



   - Que venha então a picanha e mais duas tulipas - consenti espiando a ironia de
Agapito dizendo à mamãe que eu não estaria ouvindo nada.



    - É pra já meu simpático - disparou Arlindo em direção à cozinha.



     Enquanto me ajustava para abraçar a picanha posei para fotos ao lado da madame Bião. E, óbvio, no interior do Garota ostentando a minha pose de Camões caolho que minhas fãs literárias apreciam bastante.



   - Meu pai, fica sério - pediu-me o fotógrafo.



   Faço uma segunda pose de Clark Gable dos pobres para que enquadrasse, também, os instrumentos musicais que compõem a decoração da casa.



   Mal me sentei depois dessa sessão de fotos Arlindo chegou com a picanha.



   Santa Justa! Que maravilha em visual fumegante.



   Fomos traçando fatia a fatia até a última parte. E a tulipa da senhora Bião a exigir mais uma rodada.



   Quando dei conta da situação vi que só sobraram pedacinhos de gordura que foram desprezados num pequeno prato. Certo estava Arlindo.



   - Muito boa a picanha do Garota, comentei agradecendo-lhe a sugestão.



   - Não lhe disse, retrucou-me retirando a chapa e o que sobrou do aquecedor.



    De quebra, um grupo de samba que toca nas calçadas do bairro animava o ambiente com canções bem à moda carioca. Um pandeiro invertido passou por nossa mesa e lá se foram R$5 reais.



   O Garota é assim: bebe-se sabedoria e chopinho, come-se legal, vê-se a cena carioca e suas finanças continuam em ordem. Nada que possa abalar o déficit do país.



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Bar e Restaurante Garota de Ipanema

Rua Vinicius de Moares, 49

Rio de Janeiro, Ipanema

Fone: 21. 2523-3787/ 2522-0340

Aceita todos os cartões

Preço médio do prato R$35,00

Tira-gosto preferido manjubinhas com limão

Sempre lotado especialmente nos finais de semana

Espera na calçada tomando chopinho