Embora fundamentais para economia circular e para redução do impacto ambiental, os catadores e catadoras autônomos de materiais recicláveis vivem em condições marcadas pela vulnerabilidade social. O levantamento mais recente feito pela Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (Ancat) em parceria com a Fundação Banco do Brasil, mostrou a realidade de 2.482 trabalhadores em seis capitais brasileiras - Brasília , Belo Horizonte , Belém , Aracaju , Curitiba e Recife.
A pesquisa trouxe informações sobre condições de vida, trabalho e acesso a direitos desses trabalhadores. O estudo mostrou que quase metade dos entrevistados, 43,3%, está em situação de rua. Essa instabilidade é agravada pela dificuldade de acesso a redes de proteção: 44,7% não recebem nenhum benefício de programas sociais do governo.
A insegurança alimentar também é uma realidade: 19,2% fizeram apenas uma ou nenhuma refeição no dia anterior à entrevista e 47,3% dependem de fontes externas como doações, centros de assistência ou restaurantes populares para se alimentar. O perfil predominante desses trabalhadores é de homens (70%) e de pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas (87%). O levantamento também evidencia barreiras estruturais, como a baixa escolaridade: 22,2% não são alfabetizados ou apenas assinam o próprio nome.
A maioria (60,7%) tem na catação sua única fonte de renda e atua de forma individual (79,5%). Apesar dos riscos, que incluem violência e discriminação relatadas por 47%, esses profissionais coletam até 50 quilos de materiais por dia, em sua maioria a pé e transportando o material em sacos (53,6%). Os resíduos são vendidos principalmente a ferros-velhos (89%).
“O levantamento mostra como os catadores autônomos precisam de apoio e de políticas públicas. São trabalhadores e trabalhadoras fundamentais na economia circular, contribuindo para o retorno de resíduos à cadeia produtiva e reduzindo a pressão sobre os recursos naturais”, afirma o presidente da Ancat, Roberto Rocha.
Para o presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais, os catadores e catadoras autônomos desempenham um papel central na sustentabilidade do país, mas ainda vivem em condições muito desafiadoras. “Ao apoiar essa pesquisa e desenvolver diversas iniciativas junto à Ancat, a Fundação Banco do Brasil reafirma o compromisso de dar visibilidade a essa categoria, garantir acesso a direitos e fortalecer redes de apoio que transformem a vida dessas pessoas”, destaca.
Para responder a essa realidade, a Ancat e a Fundação BB criaram o projeto Conexão Cidadã, que oferece atendimento gratuito e personalizado a catadores autônomos em todo o Brasil. A iniciativa busca ampliar o acesso a direitos e programas sociais, melhorar as condições de vida e trabalho, promover educação e qualificação e fortalecer redes de assistência nos territórios onde a coleta acontece. O objetivo é garantir que esses profissionais, fundamentais para a sustentabilidade do país, tenham melhores perspectivas de futuro.