Depoimentos que compõem o curso do inquérito civil instaurado pelo Ministério Público estadual para apurar se o conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Paulo Maracajá, exerce paralelamente à função pública a "atividade clandestina" de co-gestor de uma instituição privada (o Esporte Clube Bahia) estão sendo tomados pelo procurador-geral de Justiça Adjunto para Assuntos Jurídicos, Carlos Frederico Brito dos Santos, desde o último dia 1º.
Até hoje, sete pessoas já foram ouvidas para instruir o inquérito que é fruto de uma representação protocolada no MP por Nestor Mendes Lima Júnior, Fernando Antônio Gonzalez, Emanuel do Prado Vieira, Ivan Jorge de Carvalho e Jorge Antônio de Cerqueira Maia. Além disso, foram requisitadas atas do ‘Clube dos 13' e gravações das entrevistas concedidas pelo conselheiro nos programas de Raimundo Varela (TV Itapoan) e Márcio Martins (Rádio Transamérica).
Em seu depoimento, Jorge Antônio Maia afirmou que é do seu conhecimento que Paulo Maracajá costuma freqüentar o "Fazendão" pela manhã e o TCM à tarde. Além disso, disse o depoente que quem negocia a contratação dos jogadores do time é o próprio Maracajá, que, "costuma utilizar o seu cartão de crédito para pagar despesas do Bahia".
DESPESAS PAGAS
POR MARACAJÁ
A mesma informação foi apresentada por Ivan de Carvalho que, em seu depoimento, afirmou ter ouvido, durante a ‘Conferência Grande Tricolor' realizada no Centro de Convenções, um empresário de Minas Gerais dizer que muitas despesas do ‘Esporte Clube Bahia' eram pagas pessoalmente por Maracajá, mediante cartão de crédito e cheques de sua conta pessoal.
Também em entrevista ao vivo, concedida a um programa da Rádio Transamérica, Paulo Maracajá afirmou que emprestava dinheiro ao Bahia e pagava as contas do Clube com seu cartão pessoal, registrou Ivan.
A entrevista concedida à rádio foi lembrada ainda pelo jornalista Nestor Lima Júnior como "prova da relação de promiscuidade existente entre as contas do ‘Esporte Clube Bahia' e as pessoais de Maracajá". Durante seu depoimento, Nestor informou ter tomado conhecimento, também durante a conferência tricolor, da existência de uma conta corrente em nome do conselheiro para movimentação dos negócios do Bahia.
Foi também nessa conferência que Fernando Gonzalez diz ter presenciado o empresário de Minas afirmar que Maracajá utiliza o cartão de crédito pessoal para pagar despesas do Clube. Outra questão apresentada por Nestor foi que ele conhece alguns jogadores do Bahia que afirmam ter negociado suas contratações diretamente com Maracajá, "mesmo depois dele ter assumido o cargo no TCM".
INDICAR E CONTRATAR
ATLETAS
Segundo o radialista Márcio Martins, Maracajá integra um grupo de quatro pessoas (ele, Marcelo Guimarães, Petrônio Barradas e Ruy Acioly), "que exercem efetivamente o poder de indicar e contratar os atletas". Um dos jogadores já contratados pelo Bahia que participou da fase de depoimentos foi Carlos Eduardo Casagrande, conhecido como "Preto".
Também durante as oitivas, Ivan de Carvalho disse que o Clube tem dois presidentes: "Maracajá é o que manda e Petrônio Barradas é o que obedece". A "subserviência" existente nessa relação foi destacada por Fernando Gonzalez e nos depoimentos de Emanuel Vieira, Jorge Maia - que sugeriu que Petrônio tem uma "fidelidade canina" a Maracajá - e Ivan de Carvalho - que afirmou existirem fatos notórios que indicam a subserviência de Barradas em relação a Maracajá, sendo um deles a nomeação de Petrônio para a função de assessor do conselheiro no Tribunal de Contas.
Carvalho afirmou ainda que, em 2006, o então técnico do Colo-Colo confessou ter recebido uma proposta de Maracajá para treinar o Bahia, e que Maracajá representa o time no ‘Clube dos Treze', mesmo depois de assumir a sua função no TCM.
Além disso, segundo informou Nestor, nota divulgada no site oficial do Bahia confirma a presença de Maracajá no Rio de Janeiro, representando o Clube, para auxiliar e apoiar o departamento jurídico no julgamento de recurso no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, que reduziu penalidade aplicada a atletas do Bahia. Maracajá, conforme destacou Jorge Antônio Maia, participou ativamente, junto com Marcelo Guimarães e Cícero Bahia Dantas, de negociações feitas com o Grupo Opportunity.