Nova mostra da artista baiana Ana Laura Lacerda reúne mais de 40 peças, duas delas inéditas, entre 10 e 23 de julho
Frente & Verso , Salvador |
09/07/2025 às 10:46
Laura Lacerda e as conchas
Foto: DIV
As conchas são fonte de inspiração para a baiana Ana Laura Lacerda desde a juventude. É com o desejo de compartilhar esse encantamento que a artista faz um convite urgente e poético à contemplação da natureza marinha. A exposição Conchas Preciosas estará aberta ao público entre os dias 10 e 23 de julho, no Centro de Cultura Manuel Querino da Câmara de Vereadores de Salvador, na praça Thomé de Souza, centro da capital baiana. Nas mãos de Ana Laura, conchas e búzios não são meros utensílios artísticos; carregam memórias afetivas, significado, simbologia e engajamento para a preservação ambiental. "Para além da beleza natural, as conchas são casas, abrigo, história e vida. Quando retiradas em excesso ou descartadas como souvenir, causam desequilíbrio. Minha arte busca devolver a elas o lugar de nobreza e reverência que merecem", afirma.
Diante da paisagem deslumbrante da Baía de Todos os Santos, 40 quadros que compõem a narrativa biográfica da artista – dois deles inéditos - traduzem o papel das conchas na vida marinha e no imaginário coletivo. Pela dimensão e tridimensionalidade, a Arte do Mar foge do trivial. “Cada peça é única e exclusiva. Repetir seria tarefa difícil”, emenda a artista que vê as conchas como verdadeiras obras de arte da natureza. “Usar conchas e búzios para produzir obras de arte tem grande valor e total reconhecimento em outros países, principalmente no Japão. Na África é tradição milenar utilizar conchas para adornar o corpo e vestes e até coroas dos reis africanos”, explica a artista que fez da paixão fonte de inspiração e também de pesquisa.
Farol e Mama África são obras inéditas desta mostra. De grande porte, cada painel (86 X 116 cm) apresenta mosaico de conchas e búzios. “Farol representa a verdadeira arte tem um poder transformador, ela ilumina nossa imaginação. Mama África remete ao continente africano no contexto de sua importância como berço da humanidade e da diversidade cultural. É uma forma de expressar respeito, admiração e conexão com a ancestralidade africana e suas raízes”, detalha a artista que é autodidata na sua arte. Revelada aos 20 anos, Ana Laura pausou o trabalho artístico por uma década para dedicar-se à maternidade.
Dezenas de outras peças icônicas que fazem parte do acervo da artista integram a mostra. A coleção Jardim do Mar é constituída por sete telas que remetem à perfeição do Éden e marca o retorno da artista ao mundo artístico em 2020. Cada peça desta coleção mede 70 cm de altura e pesa cerca de 7 kg, fato que trouxe à artista uma conexão simbólica com o número sete, comumente associado à perfeição na Bíblia e em outras tradições espirituais. Os quadros são inspirados na diversidade e beleza natural das diferentes nações e continentes, que pode ser traduzida e apreciada na composição de certas conchas e búzios. “Noventa por cento da minha matéria-prima vem da Baía de Todos os Santos, mas também uso conchas e búzios do Japão, da África. E é lindo apreciar a beleza da diversidade em forma, textura e cor que se encontram em cada parte do planeta”.
A série de pictogramas arbóreos contendo as obras Árvore Africana e Palmeira Africana também ressalta a conexão entre a natureza e a diversidade cultural, ecoando um tributo à beleza única da vegetação do continente africano e à singularidade dos materiais utilizados. Já a coleção Flores Marinhas revela a delicada interação entre o mundo aquático e o terrestre, utilizando o formato de conchas para evocar pétalas de flores e, ao mesmo tempo, ressignificando a natureza através da arte.
Com uma trajetória consolidada na arte contemporânea brasileira, Ana Laura Lacerda alia técnica refinada e engajamento ecológico em uma mostra que é, ao mesmo tempo, contemplativa e ativista. A exposição pretende não apenas encantar os olhos, mas também provocar reflexão e reconexão com os ciclos naturais e alertar para a urgência da preservação dos ecossistemas costeiros. “A Bahia tem a maior faixa litorânea do Brasil. Fazemos parte da Amazônia Azul. Meu propósito de vida é divulgar a beleza natural das conchas e búzios marinhos como "arte nobre" e assim incentivar sua preservação, despertando amor pelo oceano e interesse público para a sustentabilidade”, destaca.
Conhecida por seu trabalho sensível e engajado com os elementos do mar, Ana Laura reforça a importância da preservação ambiental, em especial das conchas – elementos muitas vezes ignorados, mas fundamentais para o equilíbrio ecológico dos oceanos. “Só uso madeira de lei autorizada e faço reaproveitamento responsável das conchas e matérias-primas que vêm do mar, cuja compra ainda beneficia sócioeconomicamente as comunidades marisqueiras das ilhas no entorno de Salvador”, frisa. A mostra Conchas Preciosas segue em cartaz até dia 23 de julho com visitação gratuita e programação paralela que está sendo cuidadosamente preparada pela artista.
Sobre a artista:
Ana Laura possui uma trajetória de mais de 40 anos de produção. Tinha pouco mais de 20 anos quando teve a primeira exposição individual no foyer do Teatro Castro Alves (TCA), no ano de 1982. Abraçada pela crítica e incentivada pelo renomado artista Calasans Neto, a artista ganhou reconhecimento no Salão Paulista de Belas Artes. Depois de uma pausa de 10 anos na carreira, Ana Laura retomou a produção no ano de 2020. Desde então, a paixão e a dedicação pelas conchas só aumenta no seu ateliê, no Santo Antônio Além do Carmo.
A museológa do Museu do Mar, Etienne Boseto, percebe o simbolismo nas obras de Ana Laura para contar sua história, experiências, crenças, dores e paixões. “A concha se torna a alegoria do feminino, uma coleção de formas delicadas que são, na verdade, duras carapaças protetoras, detentoras da incrível habilidade de transformar cicatrizes em pérolas”, destaca a especialista responsável pela curadoria biográfica da artista. Conchas Preciosas, essa nova mostra individual é ponto de partida para exposições itinerantes que devem percorrer algumas capitais o próximo ano. “O mar me fascina e Deus me inspira. Cada concha tem uma beleza única que impressiona... Aí é a infinita arte do Criador!”, conclui a artista.
Serviço:
O que? Mostra Conchas Preciosas
Quando? De 10 e 23 de julho de 2025
Onde? Centro de Cultura Manuel Querino da Câmara de Vereadores de Salvador, na praça Thomé de Souza
Visitação de segunda à quinta, das 9h às 16h e, às sextas, das 9h às 14h
Quanto? Gratuita
Como? Mais informações: (71) 3320-0324/0161.