Radialista, jornalista e cerimonialista.
                            
                              
                                Ramiro Nunes                                , Bahia                                |
                                06/03/2021 às 11:05
                                
                             
              
                            
                               
                                Ramiro é radialista
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                              Confesso, e bem confessado, que somente escrevo esta crônica em 2021 e lembrando a história contada por Walmir Rosário, em sua crônica “A carteirada de Manuel Leal”.
  Não tenho a arte da escrita de Walmir Rosário mas a história aconteceu realmente, como a dele também. Corria o ano de 1968 e voltava de Salvador, após uma transmissão esportiva, com Hercílio Nunes ao volante de um Jeep Willys, este autor ao seu lado e Eraldo Duque, mais conhecido por “Eraldo Gordo”, quando à altura de Itapetinga (vínhamos por Conquista), um Policial Rodoviário Estadual resolveu nos parar.
   Hercílio era uma figura ímpar e administrava a Rádio Difusora Sul da Bahia no seu estilo: mão de ferro e coração grande. E funcionava bem, tanto que conseguiu montar um “cast” de profissionais de excelente qualidade. Mas Hercílio também tinha suas excentricidades. E como tinha...
  – Lá vem ele. Esse eu conheço, é de Macuco, foi nomeado pelo deputado Paulo Nunes, vejam o que digo a ele –, disse Hercílio triunfante.
   Daí em diante travou-se o seguinte diálogo: 
   – Seu Hercílio, que prazer, como vai o paizão de todos, o deputado Paulo Nunes? Se ele não tivesse me nomeado até hoje eu seria um pobre e miserável  –, falou o policial, educadamente.
   É que a pedido do pai do policial, eleitor ferrenho do deputado Paulo Nunes bem como toda a família, Edvaldo, auxiliar de açougueiro (como o pai dele) foi nomeado membro da gloriosa Polícia Rodoviária Estadual.
   Mas como Hercílio queria demonstrar ter sido o “padrinho” da nomeação e não esperava a reação gentil do policial, disse, em tom jocoso:
   – E não vai pedir os meus documentos e o registro do veículo? Você não vai fazer isso porque deve esse favor? Se não fosse por mim você não teria sido nomeado e continuaria um açougueiro de ponta de rua em Macuco –, atiçou.
  O policial, mais humildemente, ainda falou: 
  – Eu só o parei porque o reconheci e para agradecer pelo favor do deputado Paulo Nunes –, tornou a agradecer.
  Hercílio, agora mais comedido diante dos pedidos suplicantes meus e do Eraldo:
   –  Prossigam vocês que estão com pena desse guardinha macuquense –, 
   Eraldo, mais paciente e educado (ainda não tinha sido prefeito em sua cidade na Chapada, Andaraí):
   – Olha, Edvaldo, Hercílio te reconheceu. Só queria brincar com o senhor. Muito obrigado –, agradeceu.
O policial, mais humilde ainda e olhando a cara emproada de Hercílio, que tão bem conhecia, se despediu: 
   – Muito obrigado também, podem seguir –.
Para não dar o braço a torcer, com a maior cara de pau, Hercílio não tirou por menos e nos disse:
  – Viram que ele veio me agradecer...– .
   Eraldo olhou para mim e sorriu.
   Voltando à vaca fria, todos nós conhecíamos o Hercílio Nunes, que era do estilo atirado e que estava mais calmo e um pouco envergonhado, mas sem perder a embocadura. E seguimos para a nossa Itabuna, com Eraldo ao volante e sem nenhuma parada de guarda conhecido, e além do mais de Macuco.
   Lembrei-me dessa história ao ler a crônica de Walmir Rosário no seu blog, confesso que sem a arte dele, mas só pela semelhança.
   O velho e bom amigo Hercílio Nunes não esperava por essa, pois policial rodoviário só queria era agradecer a gentileza do deputado Paulo Nunes.