Cultura

MEMÓRIA: A MICARETA DE FEIRA DE SANTANA DE 1947, por ADILSON SIMAS

Adilson Simas é historiador e pesquisador da história de Feira de Santana
Adilson Simas , Salvador | 30/03/2020 às 18:36
Micareta de 1947
Foto:
Na micareta de 1947, era prefeito tampão o farmacêutico João Barbosa de Carvalho, que substituiu Carlos Valadares, que se afastou para ser candidato a deputado estadual. Homem bondoso, dono da antiga Farmácia Agrário, João Barbosa era tido como médico pela classe pobre da cidade. Morreu no exercício do cargo e foi substituído por mais um prefeito tampão, o advogado Edelvito Campello, mas esse é outro assunto, pois hoje o tema é micareta. (Adilson Simas)

Naquela micareta Feira de Santana ainda era uma cidade pequena, basicamente com quatro grandes ruas no centro, alguns becos que ficariam famosos e cerca de meia dúzia de subúrbios com poucas casas. Entre eles Tanque da Nação e Olhos D’Água, próximos do centro e os distantes Tomba e Sobradinho.

Tanto assim que segundo os números oficiais do IBGE, nos anos 40 todo o município de Feira de Santana tinha apenas 83.268 habitantes, sendo 63.608 na zona rural e somente 19 mil e 660 pessoas residindo na sede do município.

Sobre a micareta, os jornais da época destacam que além dos três clubes tradicionais, 25 de Março, Vitória e a Euterpe Feirense, que ainda funcionava no prédio da antiga Prefeitura, em frente a Igreja Senhor dos Passos, também houve festa no caçula Feira Tênis Clube, que tinha três anos de fundado.

O FTC realizou quatro bailes cobrando do não associado 50 cruzeiros por noite e 150 cruzeiros pelas quatro noites. Vale ressaltar que para melhorar a sede em razão da festa momesca, o diretor Newton Falcão conseguiu da Fábrica de Tintas Renner a doação de 72 galões de tintas Reko, para que fosse feita a pintura do clube.

Também foi grande a animação nas ruas. O jornal “Folha do Norte” que circulou depois da micareta, disse em matéria de primeira página:

“Corresponderam plenamente a expectativa, os ranchos, ternos e cordões, entre eles os Guardas de Momo, de João Alfaiate e Os Sentinelas da Lua de  Isaac Nunes e Arlindo Pintor.

Informa também que as batucadas Amantes das Flores, Cadetes do Ritmo e Canto do Canecão com turmas selecionadas e boas na fuzarca revolucionaram a cidade.

Ainda segundo o jornal, três caminhões se sobressaíram no desfile grandioso da Avenida da Alegria, citando Mula Manca, que levava uma grande mula de papelão, bem como Garotas do Frevo e o caminhão Nós Queremos.

Na Rua Direita, quartel general da folia, além da coroação da rainha Delorisa Bastos e as princesas,  do desfile infantil da turma das caboclas, do terno de Cachoeira e dos cordões vindos da Bahia, que era como se chamava Salvador na época, a nota sensacional, foi dada quando Jeremias se apresentou ao público montado numa mula manca.

O jornal destaca que a exemplo de festas anteriores, naquela micareta os cordões, ternos e ranchos continuavam cantando letras de compositores feirenses, entre eles Aloisio Resende, o Zinho Faula que faleceu seis anos antes e Adalardo Barreto, o conhecido Ladinho.

Nos salões dos clubes continuava o predomino de sucessos do carnaval carioca. E por conta da Segunda Guerra Mundial, cantava-se muito mais as músicas de antigos carnavais.

Na 25 de Março, permanecia em sucesso o samba carnavalesco de Noel Rosa, que composto em 1934, continuava na boca dos foliões que pulavam cantando: “O orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu, e também vão sumindo, as estrelas lá no céu. Tenho passado tão mal! A minha cama é uma folha de papel...”.

No Tênis, outro sucesso de Noel Rosa, e que terminou sendo a única musica a identificar a sisuda Aracy de Almeida como interprete, cantando “Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz...”.

No sobrado da Euterpe, todas cantavam a letra de André Filho, interpretada por Aurora Miranda, exaltando o Rio de Janeiro: “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil...”.

Por fim, vale lembrar os que fizeram aquela micareta, todos citados no livro de Helder Alencar: Oscar Erudilho, João Domingues Gonçalves, Manuel Marques, Agostinho Motta, Florisvaldo Albuquerque, Mário Lustosa, Hermenegildo Santana, Narciso da Natividade, Edgar Lima, Constantino Reis, Clarival Souza, Hugo Silva, Milton Costa e Paulo Cordeiro (Adilson Simas).