Salvador: era naquele bom tempo em que havia aquele ditado "Quando eu nasci já se bebia mingau".
Mingau vendido ao clarear do dia por uma mulher que mercava por mercar, porque era fácil fazer freguesia certa.
Em sua gamela redonda de pau, assentada sobre a grossa rodilha de pano de saco que lhe protegia a cabeça, a vendedeira equilibrava um latão com o mingau fervente, muito bem enrolado em toalhas alvas, que se confundiam com o verdadeiro pedestal de panos dobrados.
Elas todas eram mais ou menos a mesma coisa. Pretas ou multatas. metidas em suas saias rodadas, os pés descalços e aquele pregão, cheio de fé, que pouco variava de uma para outra.
São Francisco, meu pai, quem me benze?
São Francisco, meu pai, quem me quer hoje?
São Francisco, meu pai, vem benzê.
Todas as manhanzinhas, elas atravessavam as ruas desertas baixando a venda de porta em porta, esperando que o freguês saltasse do leito para vir atendê-las. Cada família comprava um número certo de copos ou canecos de mingau. Mingau que era aperitivo para o café da manhã, café bordado com pão, manteiga, bolo ou cuscuz, e uma daquelas gostosuras de batata doce, inhame, aipim, banana-da-terra ou fruta-pão cozida com sal ou assada no borralho.
* Retirado do livro A Bahia Já Foi Assim, de Hildegardes Vianna.