Cultura

NEGROS DA BAHIA ESCONDEM QUE AFRICANOS ERAM VENDIDOS AOS PORTUGUESES

O escritor também criticou, duramente, o governo do presidente Lula da Silva
| 25/01/2007 às 13:05
O escritor João Ubaldo abordou um ponto bastante polêmico na Bahia da negritude (Foto - TF)
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O escritor João Ubaldo Ribeiro, autor entre outros de Viva o Povo Brasileiro e crítico mordaz do governo do presidente Lula da Silva, falando à imprensa no hotel Icaraí, Itaparica, pouco antes da festa comemorativa aos seus 66 anos de idade, abordou um tema bastante polêmico na Bahia, qual seja, o tráfego negreiros entre a África e o Brasil no período da colonização portuguesa. Afirmou que só houve êxito nessa empreitada porque a escravidão era uma situação inerente da África e os negros que venciam as guerras entre as tribos, ou entre sí, vendiam os vencidos aos portugueses que os traziam para o Brasil e outras partes do mundo.
- No Brasil, fala-se muito em cultura africana, que o negro é irmão. Te convidam para comer em um restaurante de comida africana, como se um continente com milhões de pessoas tivesse apenas uma cultura" - afirmou Ubaldo lembrando que Portugal "comprava peças da Índia - nome que se dava a lotes de escravos já prontos para o comércio - porque a escravidão sempre existiu na África" - atestou o escritor.
Esse tema também foi abordado, recentemente, no livro de Renato da Silveira, o Candomblé da Barroquinha, processo de constituição do primeiro terreiro baiano de Keto. Silveira narra como ocorriam algumas guerras entre as nações ou tribos africanas e destaca, por exemplo, como a partir de 1780, aproveitando-se "das dissidências no alto comando do império de Oyó, os daomeanos começaram uma ofensiva mais ousada, atacando o território marrim e o próprio território iorubaino".
REALIDADE DISTORCIDA
Essa é uma realidade que a inteligência da atual comunidade negra de Salvador não gosta de abordar e até esconde de suas palestras e conferências, e em suas conversas com os representantes da midia. Costumam colocar toda a questão do tráfego negreiro nas costas dos portugueses e de outras culturas européias que exploraram o Brasil durante o período da colonização.
Ademais, muitas vezes querem impor determinados conceitos sem levar em consideração os acontecimentos históricos que se desenrolaram tanto na Europa quanto na África, durante o período da colonização portuguesa no Brasil, não só em seus primórdios no século XVI, mas, sobretudo, nos séculos XVII e XVIII quando houve uma acentuada urbanização no país.
Para Ubaldo, por que o Brasil se quer usar os padrões americanos de negritude? Segundo os quais todos aqui somos negros? E, portanto, perde-se o sentido da palavra negro? Porque eles querem dividir o país ao longo de linhas raciais". O escritor destaca que "a escravidão não é um fenômeno racial e os negros não foram o povo que em mair número foi escravizado. A escravidão é um fenômeno que existe desde o surgimento da humanidade e a maior parte dos escravos que existiram na história da humanidade não foi negra, ou seja, foi amarela e branca".