Bahia

ANUÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA 2025: BAHIA TEM 5 CIDADES MAIS VIOLENTAS

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025
Tasso Franco ,  Salvador | 24/07/2025 às 09:59
Jequié a segunda cidade mais violenta do país
Foto: REP
    Segundo dados publicados hoje pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado hoje, em 2024, o Brasil registrou 44.127 mortes violentas intencionais, com taxa de 20,8 por grupo de 100 mil habitantes - uma redução de 5,4% em relação ao ano anterior, quando a taxa foi de 21,9 por 100 mil. Esta é a menor taxa de MVI desde 2012.

    No primeiro ano da série, a taxa nacional é de 27,7 mortes por 100 mil habitantes, com crescimento contínuo até 2017, quando atinge 31,2 por 100 mil — a maior taxa já registrada —, totalizando mais de 64 mil vítimas de mortes violentas em um único ano. Naquele período, um racha entre as duas maiores facções criminosas do país, o Primeiro
Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho, desencadeou um conflito sangrento no sistema penitenciário. 

   A violência rapidamente ultrapassou os muros dos presídios, espalhando-se pelas ruas, especialmente nos estados das regiões Norte e Nordeste. Em 2017, os estados do Nordeste registraram uma taxa média de MVI de 49,0 por 100 mil
habitantes, enquanto, no ano seguinte, a taxa na região Norte atingiu 45,4 por 100 mil.

   A categoria Mortes Violentas Intencionais (MVI) corresponde à soma das vítimas de homicídio doloso, feminicídio, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora (em alguns casos, contabilizadas dentro dos homicídios dolosos, conforme notas explicativas). Sendo assim, a categoria MVI representa o total de vítimas de mortes violentas com intencionalidade definida de determinado território.

  Projeções da População do Brasil e das Unidades da Federação; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A partir de 2018, no entanto, o país inicia um ciclo virtuoso de redução das Mortes Violentas Intencionais (MVI), especialmente dos homicídios dolosos. A taxa nacional apresenta queda quase ininterrupta desde então, com exceção do ano de 2020. Considerando o período entre 2012 e 2024, a redução acumulada chega a 25%, com quedas registradas
em todas as regiões do país: no Norte, a redução foi de 21,2%; no Nordeste, de 11,4%; no Centro-Oeste, de 43,7%; no Sudeste, de 32,4%; e no Sul, de 37,2%.

   As razões para essa queda nas taxas de violência letal já foram amplamente discutidas em edições anteriores deste Anuário (FBSP, 2024; 2023; 2022) e no Atlas da Violência, publicação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o IPEA. Dentre os fatores apontados, destacam-se a implementação de políticas públicas de segurança
orientadas por evidências, com programas de gestão por resultados e iniciativas multissetoriais de prevenção à violência; as mudanças demográficas pelas quais passa o país, com redução do número de adolescentes e jovens na população, grupo historicamente mais exposto à violência letal2 ; e políticas de controle de armas. 

  Entre as experiências que associam o esforço de integração do trabalho policial com programas de prevenção
focalizados, merecem destaque programas como o Paraíba Unida pela Paz e o Estado Presente, no Espírito Santo, lançados em 2011, além de iniciativas mais recentes, como as Usinas da Paz, no Pará, e o RS Seguro, no Rio Grande do Sul.

Taxa de Mortes Violentas Intencionais (por 100 mil habitantes)
Brasil e Regiões, 2024
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Brasil Região Norte Região Nordeste Região Centro-Oeste Região Sudeste Região Sul
20,8
27,7
33,8
19,5
13,3 14,6

Taxa de Mortes Violentas Intencionais
Brasil e Unidades da Federação, 2024
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0
Amapá
Bahia
Ceará
Pernambuco
Alagoas
Maranhão
Mato Grosso
Pará
Amazonas
Rondônia
Paraíba
Rio Grande do Norte
Espírito Santo
Sergipe
Rio de Janeiro
Acre
Piauí
Tocantins
Goiás
Mato Grosso do Sul
Roraima
Paraná
Minas Gerais
Rio Grande do Sul
Distrito Federal
Santa Catarina
São Paulo


Federação; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Apenas quatro estados registraram aumento na taxa de mortalidade por Mortes Violentas
Intencionais (MVI) em 2024: Maranhão (+12,1%), Ceará (+10,9%), São Paulo (+7,5%) e Minas
Gerais (+5%). Santa Catarina manteve-se estável, enquanto as demais 22 unidades da
Federação apresentaram redução nas taxas de violência letal.

O Maranhão foi o estado com o maior crescimento percentual, impulsionado por aumentos nos homicídios dolosos, latrocínios e nas mortes decorrentes de intervenção policial. No Ceará, o crescimento foi generalizado, com alta em todos os componentes da MVI: homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, mortes de policiais
em serviço ou em decorrência de latrocínio, além de mortes por intervenção policial.

Em São Paulo, o aumento da letalidade foi puxado pelos latrocínios, pelas lesões corporais seguidas de morte, pelas mortes de policiais (por homicídio ou latrocínio) e pelas mortes decorrentes de intervenções policiais. Já em Minas Gerais, o crescimento concentrou-se nos homicídios dolosos e nas mortes por intervenção policial.

Apesar do crescimento da violência letal em São Paulo e Minas Gerais, estes permanecem entre as UFs com menores taxas de MVI do país. A menor taxa foi verificada em São Paulo, com 8,2 mortes por grupo de 100 mil, seguido de Santa Catarina, com 8,5 mortes por 100 mil; Distrito Federal, com 8,9 mortes por 100 mil, Rio Grande do Sul, com 15,0 mortes por 100 mil e Minas Gerais, com 15,1 mortes por 100 mil.


MUNICÍPIOS MAIS VIOLENTOS DO PAÍS (COM POPULAÇÃO IGUAL
OU SUPERIOR A 100 MIL HABITANTES)

A análise da violência no nível local revela dinâmicas muito particulares da violência letal no Brasil. O primeiro dado a ser destacado é que no ranking das dez cidades com maiores taxas de MVI, todas são municípios da região Nordeste e estão distribuídas nos estados da Bahia (cinco), Ceará (três), e Pernambuco (duas).

De modo geral, todas as cidades que compõem o ranking apresentam elevados níveis de violência letal associados a disputas entre facções do crime organizado pelo controle do tráfico de drogas. Esses conflitos têm resultado em confrontos sangrentos, com predominância de vítimas jovens, do sexo masculino, via de regra negros e moradores de áreas periféricas. Por outro lado, chama atenção o papel desempenhado pelas forças policiais nesses contextos. Enquanto nos estados de Pernambuco e Ceará a participação policial nas Mortes Violentas Intencionais (MVI) é relativamente baixa — em Maranguape, por exemplo, apenas 2% das MVI registradas tiveram envolvimento de agentes do Estado; em Cabo de Santo Agostinho, esse percentual foi de 3% —, os municípios da Bahia apresentam índices significativamente mais altos de letalidade policial. Em Jequié, um em cada três homicídios foi de autoria de policial; em Simões Filho, a proporção foi de um em cada quatro casos.

1 Maranguape CE 79,9 87 2 2%
2 Jequié BA 77,6 131 44 34%
3 Juazeiro BA 76,2 194 42 22%
4 Camaçari BA 74,8 239 40 17%
5 Cabo de Santo Agostinho PE 73,3 159 4 3%
6 São Lourenço da Mata PE 73,0 86 1 1%
7 Simões Filho BA 71,4 86 22 26%
8 Caucaia CE 68,7 258 9 3%
9 Maracanaú CE 68,5 171 5 3%
10 Feira de Santana BA 65,2 429 68 16%

A cidade mais violenta do país no último ano foi Maranguape (CE), região metropolitana de Fortaleza. Em 2023 o município, que possui pouco mais de 108 mil habitantes, aparecia no oitavo lugar no ranking com o registro de 78 vítimas de MVI. Com crescimento de 11,5% no número de vítimas, a cidade contabilizou 87 mortes em 2024, atingindo taxa de 79,9 mortes por grupo de 100 mil habitantes. 

Assim como outras cidades do Ceará, o território é palco de uma disputa sangrenta entre duas facções criminosas, o Comando Vermelho (CV) e os Guardiões do Estado (GDE).

Jequié, na Bahia, antes em terceiro lugar no ranking das cidades mais violentas do país, assumiu o segundo lugar, com taxa de mortalidade de 77,6 por 100 mil habitantes. Embora tenha apresentado uma redução de 2,2% no número de mortes violentas intencionais entre 2023 e 2024, passando de 134 para 131 vítimas, a cidade permanece como
uma das mais violentas do país. O município consta ainda do ranking das maiores taxas de letalidade policial: das 131 MVI registradas no último ano, 44 foram provocadas pelas polícias Militar e Civil, ou seja, 1 em cada 3 mortes na cidade foram provocadas por agentes estatais.

O terceiro lugar do ranking é do município de Juazeiro, também na Bahia, que viu o número de mortes violentas intencionais crescer 9,6% no último ano e chegar a 194 vítimas, taxa de 76,2 por 100 mil. Com pouco mais de 250 mil habitantes, Juazeiro fica a mais de 500km de distância da capital, e reflete a interiorização da violência que tomou o Estado, em grande medida pela expansão de grupos criminosos. Na cidade atuam ao menos duas facções que operam o narcotráfico segundo reportagens de imprensa: o Bonde dos Malucos (BDM) e uma dissidência deste grupo intitulada “Honda”34.

Na quarta posição entre as cidades mais violentas do país está Camaçari (BA), localizada na região metropolitana de Salvador. A cidade, que aparecera em segundo lugar no ranking do ano anterior, apresentou redução de 12,1% no número de vítimas de MVI, passando de 272 mortos em 2023 para 239 em 2024. Apesar da melhora, a taxa se mantém
elevada, com 74,8 mortes por 100 mil.

Em quinto lugar no ranking está a cidade de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, que assistiu o número de vítimas de MVI crescer 16,1% e chegar a 159 mortos em 2024. Com taxa de 73,3 mortes por 100 mil habitantes, a cidade do Grande Recife sofre com a atuação de facções atuantes no narcotráfico e é disputada há anos pela Comando Litoral5  (antigamente chamada de Trem Bala).

Em sexto lugar, também na Grande Recife, está o município de São Lourenço da Mata, que viu o número de mortes violentas intencionais crescer 24,6% no último ano, chegando a 86 vítimas. A cidade tem figurado em reportagens de imprensa como local de disputas pelo controle do tráfico de drogas6
.
Em sétimo lugar no ranking das cidades mais violentas do país está Simões Filho, na Bahia. O município que figura há anos entre os mais violentos do país tem sido alvo de disputas entre grupos criminosos como Bonde dos Malucos (BDM) e Comando Vermelho. Em oitavo e nono lugar estão municípios cearenses localizados na região metropolitana
de Fortaleza. Caucaia, que teve crescimento de 8,9% no número de vítimas de MVI, vem sendo disputado por ao menos três grupos criminosos: o GDE, o Comando Vermelho e os Neutros e/ou Tudo Neutros (TDN), também conhecidos como Massa. 

O último grupo surgiu como uma dissidência do Comando Vermelho em meados de 2021 e tem se mostrado extremamente violento. Em nono lugar está a cidade de Maracanaú, que também sofre com o conflito entre facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas e vem sendo objeto de disputas entre o Comando Vermelho e o GDE7