A BOLA, OS DRIBLES, FIRULAS E EXU PELO GUARDADOR DE PAPEIS ZÉBARRÊTO

ZedeJesusBarrêto
26/12/2021 às 18:49
   
 Sou um guardador de papel. Remexendo uns velhos guardados dei de cara com um recorte, um artigo do jornalista José Roberto Torero, na Folha de São Paulo, 19 de setembro de 1998, com o título “Etimologia e catimbas”.  Boa leitura domingueira pra quem gosta de bola. 
Segue:
 
  “Uma das coisas mais divertidas que existem é descobrir a origem das palavras. Está bem, sexo é melhor, e também cinema, literatura, futebol e bala de alcaçuz. Mas a etimologia fica, vá lá, entre as mil coisas mais divertidas. Descobrir o sentido original de uma palavra é como ver sua tia de sutiã – você nunca mais vai olhar pra ela do mesmo jeito.   
 No futebol, há palavras que ninguém nunca pergunta de onde vieram. Por que, por exemplo, o goleiro é chamado de arqueiro? Não é porque Robin Hood gostava de pegar no gol. É porque nos primeiros jogos nas universidades inglesas usavam as arcadas como traves. Logo, quem ficava entre elas era o arqueiro. 
 
   E de onde vem a palavra ‘drible’? Eis aí uma bela dúvida e que causa polêmica no mundo acadêmico. Segundo Maurício Arruda, etimologista brasileiro, a palavra tem origem africana e vem, mais especificamente, da palavra ‘dibo’, que significa dançar. Porém, pala o célebre latinista lusitano Frederico Siqueira, a palavra é uma corruptela do verbo ‘deribare’ que significa andar feito bêbado. Provavelmente, a comparação vem do fato de que os bêbados, como os dribladores, nunca nos deixam saber pra que lado será seu próximo passo. 
 
  Já ‘gol’ viria de ‘God’, palavra anglo-saxônica para Deus. No começo, as pessoas falariam, “thank you, God”, a cada tento marcado. Depois, passaram a falar apena God, e este foi se metamorfoseando até chegar ao atual gol. Mas há outra vertente que acha que a palavra não nasceu da boca da torcida do time que fez o gol, mas sim da que o levou. Dessa forma, “gol” teria vindo de “gow!”, corruptela de “Oh!”, interjeição galesa que indica dor, pesar.

  Quanto ao verbo ‘marcar’, teria sido usado pela primeira vez em 1917 pelo famoso zagueiro ponte-pretano Orelha de Cobra. Depois de levar um drible por debaixo das pernas, ele teria dito: “Vou marcar aquele desgraçado!”  Na jogada seguinte, Orelha de Cobra usou o verbo marcar em seu sentido original, ou seja, deixar marcas ou fazer cicatrizes, e quebrou a perna do atacante. Só depois o verbo assumiu o sentido de “jogar próximo do adversário, não deixando que ele evolua livremente”. 

 E quanto a “tocar”, que significa ‘passar a bola para outro jogador’, vem do latim “tocare”: tocar música. O termo foi usado pela primeira vez em 1921, quando o Vasco da Gama fez uma partida tão deslumbrante que um comentarista disse que o time não tinha jogado, mas sim tocado como uma orquestra. 

 Há também a palavra ‘firula’, usada para indicar uma jogada desnecessária. Como sabem os que entendem um mínimo de costura, “firula” é um ponto de bordado muito difícil de fazer, porém, sem nenhuma função estrutural na costura do bordado. Como essa palavra migrou da costura ao futebol é que é o mistério. 

 E, por fim, há a expressão ‘catimba’, utilizada quando o jogador usa de expedientes desonestos para enrolar o rival e segurar o placar. Pode também ser usada no sentido de “faltar com a verdade”, que é o que eu fiz neste texto”  (José Roberto Torero)
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 No mais, bola é brinquedo. E futebol é jogo.
Como se diz nos terreiros baianos, “jogo e dinheiro, fio, é coisa de Exu”.
Ou seja, quando a bola rola, tudo pode acontecer. O imprevisível no comando.