CINEMA:'OS 7 DE CHICAGO' DOCUMENTO VALIOSO DA HISTÓRIA, p JÚPITER PAES

Júpiter Paes
03/05/2021 às 10:02
    O filme "Os 7 de Chicago" do diretor Aaron Sorkin concorreu ao Oscar 2021, mas não levou a estatueta de melhor filme. Assim seja. Não tinha peso suficiente para tal embora seja uma fita interessante e até com tema sempre atual - a rebeldia de jovens - noutro contexto, é claro, uma vez que a representação cinematográfica revela um momento que aconteceu em 1968, em Chicago, quando grupos de jovens e o nascente 'Panteras Negras' - grupo black power que defendia os direitos humanos e fim do racismo - promoveram um protesto durante a convenção do Partido Democrata que apoiava a candidatura de Hubert H. Humphrey à presidência, derrotado que foi por Richard Nixon (jan de 1969 a 9 ago de 1974). 

     Chicago sempre foi um reduto democrata e o filme, lançado ano passado, certamente teve alguma influência no pleito que elegeu John Biden (Democrata) contra Donald Trump (Republicano), o qual tentava a reeleição. A postura de Trump e alguns episódios de racismo dos EUA no seu periodo de governo - a morte de negros por policiais, em especial - podem ter sensibilizado camadas de jovens e aí, nos parece, alguma semelhança com o que ocorreu em Chicago, em 1968, muitos conflitos de rua embora a causa dos yippies se situava em protestos contra o envio de jovens para lutar na guerra do Vietnã.

  Com trilha sonora de Daniel Pemberton ao fundo, o filme apresenta cada um dos principais membros da “Quadrilha da Conspiração” com o mesmo destaque de eventos grandiosos como a própria Guerra do Vietnã e os assassinatos de Martin Luther King Jr e Robert Kennedy. 

   O diretor põe a vida de cada jovem (de os 7 em julgamento) à frente do contexto geral levando o telespectador a entender o comportamento de cada um daqueles 'meninos', sintonizado com o final dos anos 1960, como sabemos anos que modificaram o mundo Ocidental com a revolta de Paris (maio, protestos de estudantes contra o conservador Charles de Gaulle) e mudanças na Igreja Católica com João XXIII, a liberdade de expressão e do sexo.

   O filme mostra, em sí, de forma quase prosaica (e até ingênua) como esses jovens agiam impulsionados pelo sexo & rock n'Rool, mas, também conscientes das mortes de milhares de norte-americanos com suas idades na Guerra do Vietnã - e há cenas mostrando esse aspecto comportamental - e o diretor até inverte a lógica de roteiros tradicionais neste tipo de película, onde o feedback expõe cenas de violência de ações da Policia num plano relevante - quase sempre logo no inicio para chocar o telespectador - e as coloca apenas em narrativas preliminares (poucas cenas para compreensão) cortando logo para o julgamento do caso.

   Nesse ponto, o filme perde em emoção, visto que há vários outros filmes já vistos por telespectadores mostrando cenas de juris mais contundentes e com interpretações primorosas, apenas mostrando o politicamente correto e interpretações regulares do procurador (Joseph Gordon-Levit) e do advogado de defesa (Mark Rylance), que fazem os papéis de William Kunsther e Richard Schultz, provavelmente o julgamento mais demorado dos EUA e que, por conta da cobertura da imprensa, recebeu o slogan "de todo o mundo está assistindo".

  Então, por esse aspecto histórico, e o diretor no final revela em off o que aconteceu na vida real com cada um desses personagens, inocentados que foram, um deles sendo deputado por cinco legislaturas, "Os 7 de Chicago" tem um significado sócilo-politico importante e merece ser assistido. É, assim, um documento da história dos EUA e do mundo Ocidental daquele final dos turbulentos anos 1960.