FERNANDO MARTINHO DE BULHÕES (SANTO ANTÔNIO) É PERSONALIDADE MAIS POPULAR DE PORTUGAL

Tasso Franco
14/06/2020 às 19:43

  Neste sábado, completa-se 789 anos da morte de Santo António (no original com acento agudo) nos arredores de Pádua, Itália. Em agosto, há dúvidas se realmente o dia foi 15, festeja-se os 825 anos do seu nascimento, em Lisboa. Quase 1 milênio depois de chegar ao mundo, Fernando Martinho de Bulhões, esse é seu nome batismal, é o personagem mais popular da história de Portugal.

  Ninguém consegue destroná-lo desse pódio, nem o pai da Pátria portuguesa, o rei Afonso Henriques; nem Luiz Vaz de Camões. E, só para lembrar de um nome atual, Cristiano Ronaldo, por sinal, à semelhança de Santo Antônio fazendo história na Itália na arte do futebol. 

 Há outros personagens da história de Portugal mais importantes dos pontos-de-vista político, econômico e literário, entre eles, só para citar alguns, o infante dom Henrique de Avis, Duque de Viseu, o rei Dom Manuel I, desbravadores do Novo Mundo, Vasco da Gama, Diogo Cão, Dom João III, Isabel (a rainha santa), Pedro Álvares Cabral, marquês de Pombal, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, José Saramago - Portugal valoriza muitos a memória dos seus escritores - mas, nenhum deles, supera Fernando em devoção.

Adolescente, Fernando, aos 15 anos, iniciou sua carreira religiosa na Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, Lisboa, onde noviciou e permaneceu por 2 anos. Depois foi viver com os dominicanos, em Coimbra, no Mosteiro da Santa Cruz, onde viveu 8 anos e completou sua formação intelectual, sendo ordenado sacerdote.

Em 16 de janeiro de 1220, relíquias de cinco frades menores que haviam sido degolados em Marrocos - Bernardo, Pedro, Acúrsio, Adjunto e Otão - chegam a Coimbra, por determinação do rei Dom Pedro. Essa foi a motivação de Fernando em mudar de ordem religiosa e servir na África trocando a "salva túnica de Santo Agostinho" pela franciscana.

Torna-se franciscano menor com o nome de António. Segue para o Marrocos levando consigo o frei Filipinho. Cai muito doente "per totium hiemis spatium" durante todo o inverno e é mandado de volta para Portugal. Uma tormenta faz com que sua embarcação aporte na Sicilia, Itália, e daí segue em peregrinação para Assis. Todo o restante de sua vida se passa entre a Itália e a França e muitos são os milagres e suas pregações. Foi canonizado como santo António pelo papa Gregório IX, menos de um ano após sua morte, em 1232.

Em 1221. faz parte do Capítulo da Ordem, em Assis, convocada por Francisco de Assis e, logo depois é eleito pregador da Ordem. Em 1224, ensinava teologia em Bolonha; em 1225, eleito Custodio de Limonges e pregador em Tolosa, França. Em 1228, prega em Roma para o papa Gregório IX que o saudou como "A Arca dos Dois Testamentos". Em, 130, escreve o Sermão dos Santos, sua grande obra escrita.

   É impressionante a devoção a Santo António em Portugal, patrono do país, conhecido como "martelo dos hereges" e "doutor evangélico", entre outros títulos. E também a devoção muito forte no Brasil, sobretudo em Salvador, onde foi seu primeiro padroeiro e em milhares de localidades, embora seus restos mortais repousem na Basílica de Pádua, na Itália, onde morreu em seus arredores, na localidade de Arcela, no ano de 1231.

   Por que essa adoração tão forte a Santo António em Portugal, em vários países da Europa, especialmente Itália, França e Espanha, e no Brasil?

   Não há uma explicação sobre esse fenômeno, um santo internacional, mas, entende-se que um dos fatores está relacionado a sua simplicidade de viver, a sua pregação evangélica, a popularização da distribuição de pães nas paróquias para os mais pobres e a simpatia a imagem singela do frade que era belo, alto para os padrões da época, entre 1m68cm de altura a 1m70cm e taumaturgo, milagreiro. 

  Teria feito vários milagres - dos peixes, da mula, da bilocação etc - e pregado o evangélio no interior da França e da Itália já com o nome de António e integrante da Ordem dos Frades Franciscanos Menores, de São Francisco de Assis. É considerado um dos grandes pregadores de sua época a ponto de Gregório IX tê-lo classificado como "Doutor Evangélico" e primeiro lente de Teologia da Ordem de São Francisco.

  O território de Portugal antes de fundação da nacionalidade aos dias atuais tem 59 santos no panteão do Vaticano, entre mártires e os analisados pela Congregação para a Causa dos Santos presidida pelo cardeal espanhol de Valencia, Antônio Lovreda. 

  O primeiro santo português data de 60 d.C. primórdios da igreja católica, São Pedro de Rates, a terra onde está sepultado o fundador da cidade de Salvador, Thomé de Souza. Os últimos eleitos pela igreja foram frei Galvão e São José Anchieta.

  Nenhum deles, nem a rainha santa Isabel; nem São Vicente; nem santa Iria; nem Nossa Senhora de Fátima tem a popularidade de Santo António. Em Xábia, região metropolitana de Valencia, Espanha, há a bendição de animais na paróquia de Sant Antoni, com frequência. Em quase todas as igrejas da Espanha há uma capela altar para Santo António.

  Na Bahia, há centenas de igrejas dedicadas ao santo. Em Salvador, o Farol da Barra, monumento histórico mais importante da cidade, tem o seu nome e uma capela a ele dedicada; e há templos na Barra, na Mouraria (dá época dos mouros), no Santo António Além do Carmo (nome de um bairro e igreja) e noutros bairros.

   O frade António faleceu em Arcela, nos arredores de Pádua, de hepatite. Os estudos científicos atuais apontam que ele sofria de hidropasia (edema) contenção de água no corpo e doenças como nefropasia e cardiopatia. Foi socorrido num carro-de-bois e é provável que tenha falecido neste carro.

    Possuía pés e pernas fortes com joelhos apresentando sinais de que permanecia muito tempo ajoelhado e sintomas de bursite e osteíte, e infecção sobre a paleta, e que possuía três costelas do lado esquerdo do corpo com dimensões anormais, se supõ pelo peso de livros e manuscritos que levava consigo.

   Muito de sua obra evangélica se perdeu porque oral, mas, há documentação sobre seus trabalhos como pregador do evangeliário. Faleceu em 1231 aos 36 anos de idade. Era filho de dom Martinho de Bulhões e dona Maria Teresa Taveira.