No país de Monteiro Lobato, Joaquim ainda mete medo

Fernando Conceição
05/07/2017 às 11:12
EM PARTIDO até agora, Joaquim Barbosa aparece em quarto lugar em consulta de intenção de voto popular agora divulgada para as eleições presidenciais de 2018.

Em abril de 2014, por iniciativa da campanha Reaja contra o extermínio, Joaquim Barbosa recebe em hotel de Salvador grupo de intelectuais e militantes negros que foi apoiá-lo à frente do STF quando atacado por petistas e quejandos.

Joaquim Barbosa indaga, depois de provocado por artistas no Rio de Janeiro, entre os quais o idolatrado Caetano Veloso, se o Brasil estaria preparado para ter um negro na Presidência da República.

O que ele coloca não é uma questão retórica. Nem sofismática.

É uma pergunta Política, com “p” maiúsculo, em uma sociedade acostumada à condição de inferioridade do negro até hoje, 129 depois do fim da escravidão negra no país.


Capa do romance de Monteiro Lobato, criador do Sítio do pica-pau amarelo

MONTEIRO LOBATO (1882-1948), talvez o mais importante autor brasileiro de livros infanto-juvenis, escreveu um livro adulto justamente publicado com o título O Presidente Negro. Não para prever a eleição de um no Brasil. Racista e eugenista que sempre foi, Lobato ambientou seu personagem e sua narrativa no ano de 2228 nos Estados Unidos da América, quando aí serviu como adido comercial do consulado brasileiro de Nova York em 1926.

Se tal pergunta ainda faz sentido em 2017 na chamada sexta economia mundial, a democracia brasileira – que já elegeu uma mulher e um sindicalista nordestino ao topo do poder -, permanece institucionalmente racista.

Não aceita não apenas negro presidir a República. Na unidade da federação de maior população não branca, a Bahia, assim como em sua capital, Salvador, há espaço político-partidário para um negro ser eleito governador ou prefeito?

É plausível testar a pergunta de Joaquim Barbosa em toda parte, como aqui mesmo na planície.
Para ficar na mesma paróquia: o ambiente da Academia, a universidade baiana. Na qual vicejam as boas almas, iluminadas, esclarecidas, progressistas – do saber e do conhecimento científico.


Razão porque Joaquim Barbosa de lá e nós de onde estivermos podemos desafiar a naturalização de tal estado de coisas. E meter a cara preta “onde”, diz a doutrina brancoide, “não se deve”.

Cara preta que mete medo.

Negros na história do Brasil nunca foram aceitos nos banquetes do poder, o que os torna perigosos pelo volume de”areia” no ventilador que potencialmente podem representar. Maçonaria, Rotary, Bohemian Club, templários: nem pensar!

Afinal, onde jorra dinheiro em abundância, grande parte suspeito, aí o negro jamais foi aceito.
Nenhum negro convidado para o desfrute nababesco dos políticos e empresários corruptos – de 28 siglas partidárias – pegados pela Operação Lava Jato, pelo Mensalão ou pela colaboração dos donos da J&F.

Coisa pífia, menor, idem com o projeto “Jornalismo do Futuro”. Parceria dos mandatários da Facom com a carlista Rede Bahia [clique para saber].

Parceria da qual, chocado com a cobertura do Correio* feita sobre o covarde assassinato, crime de homofobia, que vitimou um orientando meu, questionei a regularidade.

Cancelado, o “Jornalismo do Futuro” faliu e mudou de nome. O dinheiro nele gasto – parte oriunda de doações da Odebrecht – beneficiou alguns colegas de “dedicação exclusiva à docência” [leia].

Centros ou diretórios estudantis fizeram-se de moucos. Partidariamente na moita, facciosamente caladinhos como convém “à causa”.

Em tempo, provoquei por ofício a CGU (Controladoria Geral da União), o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU) a se pronunciarem.