Saúde

NORDESTE NÃO REGISTRA NENHUMA MORTE POR FEBRE MACULOSA DESDE 2015

Em 2023, quatro casos foram confirmados no Ceará; não há registro de óbito por febre maculosa na região
Agência Tatu , Salvador | 27/06/2023 às 18:54
Nordeste não registra nenhuma morte por febre maculosa desde 2015
Foto: Divulgação

O Nordeste registrou apenas uma morte por febre maculosa nos últimos 15 anos, o registro do óbito foi feito no estado de Pernambuco, em 2015. Em relação aos casos, o Ceará lidera os registros no Nordeste e é o único estado da região com casos em 2023. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas o Sudeste registrou óbitos este ano.

 

Agência Tatu teve acesso ao histórico de casos de febre maculosa no Brasil e identificou que o Norte e o Nordeste foram as regiões com o menor número de mortes causadas pela doença: uma em 2009 no Tocantins e outra em 2015 em Pernambuco, respectivamente. Os dados são das notificações recebidas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.

 

Mortes por febre maculosa no Brasil entre 2008 e 2023

Maior número de óbitos foi registrado na região Sudeste

Em 2023, até o fechamento desta matéria, não houve registro de óbitos em nenhuma das duas regiões. Em todo Brasil, as 11 mortes registradas se concentram no Sudeste, sendo nove em São Paulo, uma em Minas Gerais e outra no Rio de Janeiro. São 60 casos confirmados no país este ano.

 

Como os casos são registrados primeiro pelas secretarias estaduais de Saúde, a Agência Tatu realizou um levantamento com as pastas e identificou que no Nordeste há quatro casos confirmados e 12 sob investigação.

 

Casos de febre maculosa no Nordeste em 2023


Sete estados não registaram casos da doença este ano; apenas o Ceará


Os quatro pacientes diagnosticados - já recuperados - são do Ceará, onde outros dez entraram na lista como casos suspeitos. No Piauí duas pessoas estão com casos em investigação.

 

Série histórica do Nordeste


O Ceará foi o estado do Nordeste com o maior número de pacientes com febre maculosa nos últimos 15 anos. De acordo com dados do Sinan, entre 2008 e 2023 foram 21 casos no estado. A Bahia registrou 13 episódios e os estados do Maranhão, Paraíba e Pernambuco registraram somente um caso cada. Nesse mesmo período, não houve qualquer registro da doença em Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí. 

 

A médica infectologista Mardjane Lemos explica que a diferença de incidência de casos entre as regiões está relacionada ao cenário preferencial para a proliferação da bactéria. “Aqui no Nordeste a gente não tem o bioma favorável ao transmissor. Já nas regiões sul e sudeste temos a presença do reservatório preferencial mais importante da bactéria da febre maculosa: a capivara, que é hospedeiro, e o carrapato-estrela, o vetor que passa a doença do animal para os humanos”, esclarece a médica.

Mardjane diz que a atenção e vigilância dos órgãos públicos devem ser constantes, mesmo que a febre maculosa não seja uma doença comum na região Nordeste. “Não estamos isentos de riscos, já que o carrapato pode se adaptar e ser encontrado em outros animais, assim como a bactéria pode eventualmente infectar outras espécies de carrapato. É possível que a doença chegue em qualquer bioma, pois quanto mais a gente se aproxima do território dos animais, mais há exposição a doenças. Quem tem contato com animais deve sempre manter os cuidados necessários”, alerta.

Sintomas e diagnóstico


A médica lembra que a febre maculosa tem sintomas agudos graves, como febre alta repentina com calafrios e dores no corpo, além de manchas arroxeadas na pele. “Na nossa região, a doença mais frequente que tem sintomas parecidos é a meningite meningocócica. Então, a partir dos sintomas, a febre maculosa entra como diagnóstico secundário, já que não é comum por aqui”, pontua ao reforçar que em qualquer caso o paciente deve procurar imediatamente o atendimento médico.

 

Por ser uma doença rara, o exame para realizar o diagnóstico é de alta complexidade, feito por biologia molecular, que não está disponível em todos os estados. Por isso, a infectologista Mardjane detalha que o tratamento é feito de imediato, antes mesmo da confirmação, ao considerar que a doença pode provocar complicações graves e levar ao óbito.

 

“O diagnóstico é clínico epidemiológico, assim como acontece nas suspeitas de dengue, chikungunya e zika. As medidas precisam ser rápidas. Se acontecer algum caso em Alagoas, por exemplo, a gente vai fazer a suspeita clínica e enviar a coleta do exame a um laboratório de referência, mas enquanto isso o tratamento já é iniciado com antibiótico”, pontua a médica.