Tecnologia

Vamos taxar o Uber. O que isso diz sobre o Brasil?, por NARA FRANCO

Burocracia brasileira ao invés de facilitar a vida dos brasis atrapalha
NARA Franco , RIO | 31/10/2017 às 16:41
Uber, bom e mais barato que táxi convencional
Foto: DIV
O Brasil anda na contra mão do mundo. Enquanto os países desenvolvidos e até nossos vizinhos mais próximos como o Uruguai e Chile discutem modelos de negócios dentro dos conceitos da Revolução digital e Indústria 4.0, por aqui o Senado vota projeto de regulamentação dos aplicativos de transporte. Ou seja, podemos em breve ser um país sem Uber, Cabify e demais aplicativos. Somos de fato sui-generis.

A grita dos taxistas não tem razão de ser. Na verdade, o modelo de transporte do Brasil como um todo é completamente falido e dominado por meia dúzia de pessoas. A concorrência, quando chega, é devidamente barrada. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, uma máfia de táxis domina os aeroportos e rodoviária cobrando preços abusivos. Chega a se cobrar 100 reais por uma corrida que, no máximo, custaria R$ 50. O poder público sempre fez vista grossa ao absurdo. Bastou chegar o Uber para todos reclamarem. Parar de roubar ninguém quer. 

O que projeto que tramita no Senado quer é meter a mão do Estado nos aplicativos, aumentando a burocracia, criando entraves e dificultando a oferta. Tudo que o poder público brasileiro faz com todo setor que mete a mão. O lobby dos taxistas é forte e com uma eleição no ano que vem, nenhum político quer bater de frente com a categoria. Mas e a população? 

A população acata em silêncio os desmandos de Brasília. O Uber tem 500 mil motoristas parceiros (100 mil no Rio de Janeiro e 150 mil em São Paulo) e 17 milhões de usuários no país. Segundo o presidente da empresa, este ano, já foram recolhidos quase R$ 500 milhões em impostos, como ISS, ICMS e Imposto de Renda. O Brasil é o segundo maior mercado do Uber, depois dos Estados Unidos, e por isso sua importância estratégica. Já a 99POP afirma ter 20 mil motoristas no Rio de Janeiro, enquanto a Cabify diz que dos 200 mil motoristas parceiros que possui no país, a maior parte está em São Paulo e Rio de Janeiro.

Nada disso é levado em consideração. Meter a mão na cumbuca das vans, ninguém quer também. Aqui na Cidade Maravilhosa, as vans alimentam às milícias, que dominam a Zona Oeste da cidade. O presidente da Fetranspor, o controlador dos ônibus, estava preso. Só neste ano, 6 empresas de ônibus faliram. O serviço é péssimo. A frota, apesar da lei, ainda não foi climatizada. E o verão tá chegando.

Os trens são verdadeiros mercados de produtos roubados. São velhos, quebram a todo instante e as estações mal cuidadas. O Metrô ainda se salva. BRT e VLT também. Diante desse quadro, o problema é o Uber? 

Nem tudo é perfeito para o Uber, que acumula polêmicas no mundo todo. Só que essa decisão, esse retrocesso, só mostra como o Brasil está distante das atuais demandas do mercado. De qualquer mercado. Vamos taxar o Airbnb? Vamos acabar com o IFood? 

Quando eu era criança diziam que o Brasi era o país do futuro. Eu cresci e o país tá com os dois pés presos no passado. Estamos em 2017 e a nudez de um homem no museu deixa a "sociedade" chocada. Até pouco tempo, a Globeleza aparecia nua na maior emissora de TV do país no horário nobre sambando para a tradicional família brasileira. 

Estamos em 2017 e não se discute diversidade nas escolas, publicitários defendem propagandas visivelmente racistas e machistas e, em breve, não teremos aplicativos que nos dão o direito de escolher o melhor serviço pelo melhor preço. 

Não tá fácil para ninguém, Brasil.