Colunistas / Política
Tasso Franco

MORTE de Lomanto sepulta o municipalismo que ele criou em 1962

A bandeira do municipalismo nasceu e prosperou com a proposta de ter um governo voltado para os municípios, para o interior do estado, com respeito e autonomia
24/11/2015 às 16:41
 A morte do ex-governador Antonio Lomanto Júnior (1963/1967) sepulta também um modelo de política praticamente criado por ele, no início dos anos 1960, o municipalismo. 

   Até então, a politica baiana era regida pelo coronelismo e elite encastelada na capital nos idos da República Velha e depois pelos remanescentes do getulismo e juracisismo, a partir da década de 1930 até meados dos anos 1950, quando aparece o então prefeito de Jequié, um tal de Lomanto Jr, primeiro no período de 1951/1955; e depois entre 1959/1963 para mudar o eixo da política baiana.

   Na campanha de 1962, contra Waldir Pires, este apoiado pelo PSD de Antonio Balbino e as forças tradicionais da política da época, surge "a esperança do povo/ gente nossa sangue novo/ municipalista, filho de agricultor/ é o amigo do pobre/ irmão, do trabalhador" para incendiar a política baiana a vencer as eleições com uma bandeira nova, autêntica, o municipalismo.

   E o que isso significava? 

   A conquista do governo da Bahia pelas forças municipais, a marcha dos prefeitos para o interior, num movimento fortíssimo, quando prefeito ainda fazia valer a sua força e não ficava só chorando no pé da governadoria e se queixando da falta de recursos, e comandar os destinos do estado.

   Foi uma campanha belíssima, Lomanto com o apoio da Igreja Católica, em especial do cardeal dom Augusto Álvaro da Silva, o qual chamava Waldir de "vermelho' (comunista), uma espécie de aliado do Demo, e mandava distribuir panfletos nas missa atacando Pires e exaltando Lomanto. Waldir era o diabo; e Lomanto, Deus.

   De certa forma, também com apoio do jornal da A Tarde, fortíssimo junto à opinião pública na época, isso ajudou muito na eleição de Lomanto, ainda que não fosse determinante, uma vez que, o peso real de sua campanha foi o municipalismo, a proposta de ter um governador que fosse voltado para as questões relacionados ao interior do estado e não aos encastelados da capital.

   Vitória maiuscula que desaprumou a antiga política baiana e só não foi mais relevante porque, em 1964, houve um golpe de estado no Brasil, e Lomanto se atrapalhou um pouco na condução desse processo e foi atropelado pelas lideranças de Luiz Viana Filho e Antonio Carlos Magalhães.

   Ainda assim, Lomanto cumpriu parte do que prometera na sua campanha municipalista integrou o Extremo Sul do Estado, construindo todas as ligações dos municípios com a BR – 101. Fez a Ponte Ilhéus – Pontal,obra reivindicada desde o governo Getúlio Vargas, e construiu e inaugurou o maior estirão de asfalto, com 400 km, ligando Feira de Santana a Juazeiro. Além disso, eletrificou todo o Estado, integrando o Sistema Paulo Afonso ao de Funil. 

   Lomanto ainda foi deputado federal por duas legislaturas (1971/1975) e (1975/1979), senador da Repúblia (1979/1987) e mais prefeito de sua querida Jequié (1993/1996). 

   A politica baiana, depois de Luiz Viana Filho (1964/1967), passou a ser comandada por ACM, o qual adotou um modelo municipalista inverso de Lomanto, no sentido de dominação.

   Depois da redemocratização, quem mais de aproximou de Lomanto foi João Durval, governador da Bahia entre 1983/1986. Waldir Pires/Nilo Coelho eleitos em 1986, de certa forma, adotaram o municipalismo (amparado em Nilho Coelho) com uma mensagem parecida com a de Lomanto, mas, com a mensagem de conquista dos grotões.

   Depois veio novo ciclo de ACM entre 1991 e 2006 com o município de dominação, onde os prefeitos eram meros solicitadores de obras quando muito; e o atual ciclo de PT, a partir de 2007, com Wagner e agora com Rui, o municipalismo de dependência, com a UPB em lágrimas e boa parte dos prefeitos também.

   Com a morte de Lomanto, portanto, sepulta-se o municpalismo que ele criou e que, pelo visto, dificilmente ressucitará.