Política

MARINA SILVA passa imagem do diálogo excessivo na entrevista do JN

O ponto mais positivo da entrevista de Marina Silva foi quando ela abordou a questão do meio ambiente
Tasso Franco , da redação em Salvador | 31/08/2018 às 09:01
Marina Silva na entrevista do JN
Foto: DIV
   A ex-senadora Marina Silva (Rede) foi a quarta e última entrevistada do Jornal Nacional pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos e revelou em suas falas que, se eleita presidente da República, fará um governo moderado e conciliador com o Congresso Nacional, à exemplo de Itamar Franco, está mais precavida com a Lava Jato sobretudo depois que apoiou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno contra Dilma Rousseff na última eleição e pretende dialogar com todos para conseguir fazer as reformas que o país precisa. 

   Sobre a Reforma da Previdência, a mais complexa, destacou ser favorável e vai se reunir com todos para chegar a um consenso.

   Esse excesso de diálogo, em nossa opinião, foi o ponto mais prejudicial para Marina junto ao eleitor uma vez que é quase consensual no país a necessidade de um choque de gestão, uma modernização e enxugamento das máquinas estatais nos 3 poderes, e ninguém aguenta mais ouvir falar em debates, seminários, encontros e reuniões para se dedicir as questões nacionais e que na maioria dos casos não chega a lugar algum. 

   No Brasil, se discute uma reforma do ensino médio desde a época de FHC e o país afundando com médias críticas em português e matemática como reveladas agora e haja mais debates sobre este e outros temas. 

   A hora é de agir e o destaque da entrevista de Marina, de forma positiva, foi quando ela abordou a questão do meio ambiente, hoje, extremamente critica em especial na Amazônia e disse que vai agir com rigor. Esse é um tema mundial e as grandes catástrofes já estão acontecendo em vários continentes, em especial, na África e na Índia.

   Das quatro entrevistas apresentadas na Rede Globo foi Marina, também, quem teve mais espaço para falar nos 28 minutos do programa uma vez que os apresentadores foram mais comedidos e menos prolixos do que os outros três candidatos. 

   Não se sabe se por Marina ser mulher ou se por constrangimento diante de tantas críticas nas redes sociais sobre o comportamento de Bonner e Renata com os outros candidatos, em alguns casos querendo impor determinadas situações como foi o caso de Renata quase exigir de Bolsonaro uma atitude presidencial em relação a igualdade de salários entre homens e mulheres.

   No geral, Marina saiu-se bem e passou a imagem de uma politica equilibrada, ficha limpa, bem informada sobre os temas nacionais, confiante em manter boas relações com o Congresso Nacional mesmo sendo o Rede um partido ainda pequeno. 

   O fato de autointitular-se "mulher negra" conta pontos junto à comunidade afrodescente, embora isso não seja determinante, até porque Marina tem mais configuração de uma descendente de indígena, mas, o fato de ser mulher em sí mesma, única candidata, certamente terá muitos votos femininos. Aliás, já vem fazendo esse contra-ponto com Jair Bolsonaro (PSL) que está sendo estigmatizado como candidato machista.

   Cremos, também, que os apresentadores da Globo perderam muito tempo abordando questões da fidelidade partidária, pouco compreensível do grande público, quando há outros temas nacionais muito mais relevantes. A fidelidade partidária no Brasil sempre foi uma quimera e não é o Rede que se transformaria de um 'puro sangue' diante dessa 'guerra' por adesões. Aqui, até o PT que classifica o MDB de Temer de golpista em alguns estados estão alinhados.

VEJA ALGUMAS RESPOSTAS DE MARINA

William Bonner: Candidata, em 2014, os brasileiros assistiram a uma grande dificuldade sua de criar o seu partido, a Rede. Tanto que, naquela ocasião, como candidata à Presidência da República, no fim das contas, a senhora concorreu pelo Partido Socialista Brasileiro. Dois anos depois da criação ou desse esforço de 2014, dois anos depois, sete integrantes da Rede deixaram o partido. E deixaram divulgando uma carta com críticas, uma carta aberta à população, com críticas. Eles se referiam à inexistência de posicionamento para os grandes problemas do Brasil. Palavras deles naquele documento. E, neste ano que estamos agora, a Rede tem dificuldades também. A Rede tinha quatro parlamentares; dois parlamentares foram embora. Está reduzida à metade a bancada do partido. A questão é: como é que a senhora pretende convencer os eleitores de que tem as qualidades de uma líder?

Marina Silva: Boa noite, Bonner. Boa noite, Renata, e todos que estão nos acompanhando. Primeiro, eu vejo o processo de saída das pessoas dos partidos como um processo natural numa democracia. E as pessoas que saíram da Rede são pessoas que eu continuo mantendo relação de respeito com essas pessoas e, mesmo elas estando distante da Rede, eu tenho absoluta certeza que uma coisa elas concordam comigo: os ideais que eu defendo para o Brasil são capazes de unir pessoas de diferentes partidos e pessoas da sociedade, para liderar um processo político para governar o Brasil. As divergências não são divergências. É... Irresolvível, como às vezes a gente brinca. São visões de mundo. Por exemplo, naquela oportunidade existia um grupo que achava que não se deveria votar favorável ao impeachment. Eu firmei um convencimento de que o impeachment era legal e, em função disso, criou-se uma divergência dentro da Rede. Mas eu mantenho excelentes relações com essas pessoas e tenho por elas admiração.

Renata Vasconcellos: Então, justamente sobre essa questão da governabilidade, é preciso, fundamental, ter liderança. Ainda então na questão da liderança, uma crítica frequente dos seus adversários é sobre a sua postura diante de temas polêmicos, mas importantes para o país como, por exemplo, a reforma da Previdência. Quando a senhora é questionada sobre esses temas, a senhora sempre defende a necessidade de um debate, mas não apresenta uma proposta concreta. Eu me lembro na sabatina da GloboNews, já tem umas três semanas, a senhora, diante dessas questões, sempre respondia, chegou até a responder numa sequência de três vezes: “É preciso debater, tem que debater, tem que se debater”. Como candidata à Presidência da República, por que não assumir posturas?


Marina Silva: Mas eu assumo a postura.

Renata Vasconcellos: Posições.

Marina Silva: Sim. Se existe uma pessoa que assume posições, essa pessoa sou eu. Eu defendo a reforma da Previdência e tenho as diretrizes para essa reforma. Quais são as diretrizes? Que a gente possa encarar o problema da idade mínima, que a gente possa transitar para...

Renata Vasconcellos: Mas no seu programa de governo, justamente a questão da idade mínima, ela é posta de uma forma muito vaga.

Marina Silva: Mas...

Renata Vasconcellos: Não existem detalhes importantes, por exemplo, como a idade mínima...

Marina Silva: Mas nenhuma proposta de...

Renata Vasconcellos: A nova idade mínima para a aposentadoria. Não é importante isso para os brasileiros saberem, por exemplo?

Marina Silva: É importante a gente dizer que vai debater a idade mínima, mas tem gente que se incomoda com a ideia de debater, porque a gente se acostumou com os pacotes. A gente vem da cultura do pacote, um em cima do outro, do povo brasileiro. Quando alguém diz que vai debater, vai dialogar, parece estranho, mas numa democracia, isso é o normal.

Renata Vasconcellos: Mas esses oito anos não foram suficientes para a senhora amadurecer posições tão importantes quanto essas?

Marina Silva: Sim, amadurecemos. Nós temos uma proposta, vamos encarar o problema da idade mínima...

Renata Vasconcellos: Mas mesmo a ...

William Bonner: A gente vai entrar agora na seara da corrupção. Na eleição passada, a senhora obteve 22 milhões de votos e aí, no segundo turno, a senhora declarou apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, que se tornou, depois daquilo, réu. Réu por corrupção passiva e por obstrução de Justiça. O que a senhora tem a dizer aos eleitores que votaram em Aécio Neves por causa da sua recomendação?

Marina Silva: Hoje, com as informações que vieram pela Lava Jato, não teria declarado o meu voto ao Aécio. E acho que muitos que votaram no Aécio Neves…

William Bonner: Mas já havia o Aeroporto de Cláudio, candidata. Durante a eleição, isso foi debatido. O Aeroporto de Cláudio era um problema, um problema da campanha de Aécio Neves.

Renata Vasconcellos: Antes de a senhora declarar o apoio, não é?

William Bonner: Sim.

Marina Silva: Mas veja bem… É, nas eleições de 2014, acho que a maioria das pessoas conscientes acabaram votando em alguém. Nós mesmos, aqui cada um de nós votou em alguém. Mesmo com tudo que tinha, alguém escolheu um candidato de segundo turno. Mas eu tenho certeza que muitos de nós aqui não teria votado se tivesse as informações da Lava Jato e isso é válido...


William Bonner: Se tivesse as informações. É, não era a Lava Jato, mas já havia, como eu disse, o aeroporto. Deixa eu dizer, nessa mesma eleição...

Marina Silva: Mas todo mundo votou, Bonner, todo mundo votou.

William Bonner: Nessa mesma… É, bom…

Marina Silva: Eu hoje não votaria.

William Bonner: Aécio Neves perdeu a eleição.

Marina Silva: Não votaria nem em Aécio nem em Dilma. A Lava Jato mostrou que todos eles praticaram crime de caixa 2.
(***A entrevista completa está no portal Globo.com)