Economia

PREÇOS DOS ALIMENTOS DA CESTA BÁSICA DISPARAM E VOLTA O MAPA DA FOME

Carne, feijão e arroz foram os produtos que mais subiram de preços
Tasso Franco , da redação em Salvador | 11/09/2020 às 09:03
Arroz custa R$9,99
Foto: BJÁ
    Segundo dados da Fecomércio-BA com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, do IBGE para a Salvador e região metropolitana, concluiu que carne, feijão e arroz tiveram um aumento médio de preço de 33,7% no acumulado de 12 meses até agosto deste ano.

   Dentre os três produtos, o preço da carne disparou em média 35,2%, com cortes como músculo subindo 48,1% e o fígado, 46,3%. Já o feijão-carioca teve aumento médio de 28,3% e o arroz de 26,2%.

  “Alguns fatores explicam esses aumentos mais acentuados de preço. Primeiro ponto é que a reabertura da economia e o auxílio emergencial motivaram um aumento da demanda por produtos básicos e, por consequência, isso pressiona os preços nas gôndolas”, explica o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.

   “Outro ponto é o dólar mais caro. Alguns produtores, como o caso de carnes, optam por destinar parte da produção ao exterior e, consequentemente, reduzem a oferta interna pressionando mais os preços”, acrescenta o economista. Além disso, explica, a desvalorização do real também faz com que as importações de produtos finais e insumos para produção fiquem mais caros e há o repasse ao consumidor.

   Estes fatores contribuíram para que o grupo de alimentos e bebidas registrasse forte elevação de 11,4%. O grupo tem um peso de 22% no índice geral, sendo o mais relevante. Mesmo a queda nos preços de alguns produtos, como repolho (-18,7%), cenoura (-16,2%), batata-inglesa (-8,1%) e cebola (-7,2%), não foi suficiente para amenizar o aumento geral.

INSEGURANÇA ALIMENTAR
E MAPA DA FOME

  O benefício de R$ 600 reais, que chegou a R$ 1,2 mil para mães solteiras, começou a ser pago em abril para um período inicial de três meses. Em junho, foi alongado por mais dois meses, e no início de setembro, o governo prorrogou a transferência por mais quatro meses, reduzindo a parcela mensal a 300 reais. A última parcela será paga em dezembro.

  A inflação dos alimentos no Brasil, na esteira de demanda maior e da forte desvalorização do real frente ao dólar, deve continuar pelos próximos meses, segundo economistas, e tende a agravar o quadro de insegurança alimentar no país, conforme representantes de entidades ligadas a segurança alimentar ouvidos pela DW Brasil.

  "Mesmo com o auxílio emergencial, estamos prevendo que o Brasil esteja voltando para o Mapa da Fome", afirma a antropóloga Maria Emilia Pacheco, ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e membro do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN).

  A fala de Pacheco ecoa a avaliação do economista Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) da Organização das Nações Unidas (ONU). "Isso [alta dos alimentos] é muito preocupante, porque a grande maioria desses 65 milhões de brasileiros que receberam o auxílio utilizam o recurso para comprar comida, o próprio IBGE mostra. Com o preço dos alimentos aumentando, eles têm que comprar menos. E têm um problema nutricional também."