Direito

BREQUE NO COMBATE A CORRUPÇÃO: LAVA JATO REPUDIA DECLARAÇÕES DE ARAS

Há quem veja no propósito de Aras atingi Sérgio Moro potencial adversário de Bolsonaro, em 2022
Tasso Franco , da redação em Salvador | 29/07/2020 às 18:50
Augusto Aras polemiza
Foto: DIV
A força-tarefa da operação Lava Jato, em Curitiba, repudiou, na tarde desta quarta-feira (29), as declarações dadas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, que afirmou em um debate virtual que é hora de 'corrigir rumos' para que 'lavajatismo não perdure'.

As declarações foram feitas por Aras, na terça-feira (28), durante uma participação em um debate virtual, promovido por um grupo de advogados.

Durante fala no debate virtual, o procurador-geral da República afirmou que a "correção de rumos não significa redução do empenho no combate à corrupção" e disse que não pode existir “caixa-preta” no MP.

Segundo a força-tarefa, do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná, as declarações de que existem 'caixas de segredos' no trabalho dos procuradores e de que "haveria milhares de documentos ocultos" são falsas.

"Não há na força-tarefa documentos secretos ou insindicáveis das Corregedorias. Os documentos estão registrados nos sistemas eletrônicos da Justiça Federal ou do MPF e podem ser acessados em correições ordinárias e extraordinárias", destacaram.

  CORRIGIR ERROS

 Nesta quarta-feira, 29, Aras conversou com senadores da bancada lavajatista no Congresso e voltou a dizer que as mudanças em curso no órgão têm o objetivo de “corrigir rumos ante desvios das forças tarefas”.

“Queremos fortalecer o combate à corrupção. E precisamos apenas corrigir rumos ante desvios das forças tarefas, inclusive pretendemos aumentar o número de procuradores, servidores e meios materiais. Estou disponível para esclarecer os fatos”, escreveu Aras aos parlamentares, antes do bate-papo.

Em uma transmissão virtual realizada na noite de terça-feira 28, Aras já tinha dito que é “hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”. A declaração do chefe do Ministério Público Federal deflagrou também uma nova crise entre a PGR e integrantes das forças-tarefas da Operação Lava-Jato.

Em seu perfil no Twitter, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal da Lava-Jato em Curitiba, Sergio Moro, disse que desconhece “segredos ilícitos no âmbito da Lava-Jato”. “Ao contrário, a operação sempre foi transparente e teve suas decisões confirmadas pelos tribunais de segunda instância e também pelas Cortes superiores, como STJ e STF”, afirmou ele.

Internamente no MPF, as falas do procurador-geral foram vistas como um ataque à própria instituição e como uma tentativa de se cacifar no meio político a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), segundo a revista Veja. Integrantes da PGR avaliam que Aras exagerou ao falar que o grupo paranaense funciona como “caixa de segredos” e escancarou publicamente uma questão que deveria ser debatida dentro do órgão.

O procurador Roberson Pozzobon, membro da força-tarefa de Curitiba, lembrou que Aras foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro apesar de seu não nome não ter ficado entre os mais votados no processo eleitoral interno da instituição.

“A transparência faltou mesmo no processo de escolha do PGR pelo presidente Bolsonaro. O transparente processo de escolha a partir de lista tríplice, votada, precedida de apresentação de propostas e debates dos candidatos, que ficou de lado, fez e faz falta”.

Na live do grupo de advogados Prerrogativas, Aras disse que Lava-Jato tem dados armazenados sobre 38 mil pessoas, em um banco de dados superior ao de todo MPF. “Todo o Ministério Público Federal, em seu sistema único, tem 40 terabytes. A força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba tem 350 terabytes e 38 mil pessoas com seus dados depositados. Ninguém sabe como foram escolhidos, quais foram os critérios”, disse ele.

Por outro lado, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que enxerga “excessos” nos procedimentos adotados pela Lava-Jato e ressaltou que Aras tem legitimidade para fazer críticas aos procedimentos adotados pela operação.

"Acho que o procurador tem muito mais informações do que nós temos para fazer a crítica e o alerta”, afirmou em entrevista à Rádio Bandeirantes. “Está se fazendo buscas e apreensões de coisas de 2010 em 2020. Coisas que geram apenas constrangimento, na linha até do que o doutor Aras falou de criar uma criminalização generalizada da política, tirar as condições da política e do próprio Supremo”, afirmou.