Cultura

OPPENHEIMMER, O FILME QUE É UMA LIÇÃO DE VIDA ATÉ HOJE, p SEAP OCNARF

Comentário de Seap Ocnarf para o BahiaJá
Seap Ocnarf ,  Salvador | 25/01/2024 às 11:42
Ator irlandês Cillian Murphy como Oppenheimmer
Foto: DIV
   O filme "Oppenheimmer" dirigido por Christopher Nolan, 2023, com 11 indicações para o "Oscar" relata a história de J. Robert Oppenheimmer cientista responsável por liderar o Projeto Manhattan, programa dos Estados Unidos cujo objetivo era desenvolver uma bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial.

    Quem conhece a história real sabe que o projeto obteve êxito no deserto de "Los Alamos", Novo México, e resultou na prática, no lançamento de duas bombas H em Hiroshima e Nagasaki provocando a morte de milhares de janponeses e pondo fim a II Guerra Mundial, no Japão, país que mesmo após o fim da guerra e o acordo de Postdman (agosto de 1945) continuava em luta contra os Estados Unidos, rendendo-se em setembro.

   No filme, Nolan apresenta um quebra-cabeças. Não se utiliza na exposição de sua obra de uma narrativa linear o que exige do telespectador muita atenção, especilmente na primeira hora, uma vez que há muitas linhas do tempo em cortes de cena rápidos, situações apresentadas fora de ordem, peças que só se encaixarão no decorrer da pelicula que tem a duração de 3h30min. 

   Vale observar, ainda, que se exige do cinéfilo, conhecimentos básicos do que representou a II Guerra Mundial e é claro que, quem não dispõe desse entendimento prévio, dificilmente acompanhará a narrativa do filme com entendimento pleno. 

   De repente, pois, só para pincelar o que falo, aparece Albert Einsten (Tom Conti) em diálogo histórico a beira de um lago conversando com Oppenheimmer (Cillian Murphy) e Lewis Srauss (Robert Downey Jr), o primeiro pai da Teoria da Relatividade - conjunto de teorias cientificas que são a base da atomicidade - e a exposição da frase "Deus não joga dados com o Universo", de Einsten, das variáveis ocultas encontradas por Oppenheimmer, não por acaso, mas depois de convocar os melhores matémáticos e fisicos quânticos da época, para ciúme e desespero de Strauss.

  Também torna-se evidente que o diretor, propositadamente, adiciona na sua obra uma série de contextos que aconteceram na execução do Projeto Manhattan e as suspeitas de espionagem soviética, inclusive envolvendo o próprio Robert Oppenheimmer, o qual se vê envolvido numa trama jurídica com a participação do Congresso e ações da imprensa, que o deixa vulnerável, porém, em nenhum momento se apresentando com alguma "mea culpa" ou esmorrecido, pois, entre outras acusações estava a se ser comunista e coloaborador da resistência espanhola contra Franco.

  Pelo contrário, enfrenta a todos com estoicismo, personalidade forte, sentimento patriótico araigado pelos Estados Unidos, convicção plena, trabalho que é desempenhado pelo ator irlandes Cillian Murphy com sobriedade e interpretação primorosa o que poderá lhe render a estatueta do Oscar como melhor ator da Academia de Hollywood. 

  Diria que se o prêmio lhe for conferido cabe-lhe oportuno uma vez que se trata de um papel extremamente dificil, de grande concentração, interpretação que parece simples, muitas vezes em p&b, o que torna complexa nos detalhes. O simples é sempre mais dificil de ser interpretado do que cenas dramáticas e mais chocantes aos olhos tanto dos telespectadores; quanto dos analistas. 

  Robert Downey Jr no papel de Lewis Strauu tem uma grande atuação e Emily Blunt no papel da Katherine Oppenheimmer, a controversa e autoritária esposa do físico, ex-comunista, consegue dominar as cenas dramáticas com firmeza. Cada ator tem desempenho sob medida num roteiro delicado e com inúmeras passagens rápidas e que não se pode perder (ou se distrair) em nenhuma delas, desde a participação do general Gordon (Tony Goldwyn), a primeira namorada comunista de RO, Jackie (Emma Dumont) ao presidente Harry S. Truman (Gary Oldman). 

   Fotografia, efeitos visuais, edição, trilha sonora e som são categorias com alta probabilidade de premiações, tudo encaixado e frenético. O teste da explosão da Bomba H em Los Alamos é chocante, na interpretação cinematográfica, perfeito nos cortes, na música, no posicionamento dos personagens, na vibração contida e depois exaltada, diria o ponto alto do filme, pelo menos para o telespectador.

  No contexto geral e na interpretação final do filme, Nolan consegue salvaguardar a imagem e a memória de Oppenheimmer - o que, aliás, a história lhe reservou apesar de todas as acusações que lhes foram feitas na disputa do poder e da glória, em parte por outros cientistas - bem colocado no filme - com final brilhante e a observação de Albert Einstein de que todas as glórias nunca são para quem, de fato, trabalhou duro para isso, e sim àqueles que detém o poder político.