Cultura

DOCINHOS PORTUGUESES QUE FAZEM A ALEGRIA DOS TURISTAS EM LISBOA (TF)

São Centenas de padarias e doçarias para você curtir na capital portuguesa
Tasso Franco , da redação em Salvador | 04/07/2020 às 07:11
Docinhos portugueses de dar água na boca
Foto: BJÁ
  O jornalista Tasso Franco publicou neste sábado, 4, no wattpad sua 30ª crônia no livro Lisboa como você unca viu, a P Pensão do Amor, falando dos docinhos portugueses. Leia abaixo a cônica de hoje e todas as demais no aplicativo de literatura wattpad.

DOCINHOS QUE NASCERAM NOS CONVENTOS E CAIRAM NO GOSTO DO POVO


  Você certamente já ouviu falar dos docinhos portugueses a base de ovos alguns deles diferenciados dos produzidos no Brasil, porém, parentes, assemelhados.

  Vou lhe contar: as padarias, pastelarias, doçarias, leitarias e tendas de doces nos mercados em Lisboa são de deixar qualquer um com água na boca entrar e comer até dizer chega, salvo se v tiver problemas de saúde e não puder experimentar alguns deles. As vitrines são tentações com doces expostos A seduzir os clientes, cada qual com maior variedade, super coloridas.

  Diz-se que a origem dos docinhos à base de ovos é conventual. Isto é, originário dos conventos de freiras e frades. Tanto que o mais famoso da capital portuguesa é o pastel de Belém nascido no Mosteiro dos Jerónimos e produzido pelos frades da Ordem de São Jerónimo, mosteiro erguido na época do rei dom Manuel I, o venturoso. Outro famosíssimo é o pastel de Santa Clara ou carmelita que surgiu no século XVI no convento da Ordem Carmelita da cidade de Tentúgal (localidade medieval próxima a Coimbra).

   A popularidade desses e de outros doces portugueses conventuais cresceu quando as ordens foram extintas no reinado de Dom José I, época do poderoso marquês de Pombal, 1759, e as freiras e frades, para sobreviverem, passaram a vender esses produtos à população. Alguns seguem famosos até os dias atuais com nomes que remetem ao medievo conventual: beijos de frades, barrigas de freira, papo de anjo, carmelitas e outros.

  O meu preferido é o travesseiro de Sintra um folheado com mel dentro que é uma delícia. Lisboa, por ser a capital, vende doces originários de todas as províncias. E Sintra, Setúbal, Azeitão, Évora, Aveiro, Santarém, Tentúgal, etc, são localidades com tradição doceira.

   Há uma infinidade de docinhos a base de ovos, os fios d'ovos e quindins, as queijadas, os pastéis, os bolos, os folhados, as telhas, de rezar para Santo Antônio.

   Existem padarias e pastelarias que têm locais para os clientes sentarem e se deliciarem ali mesmo. E outras em que você compra e saboreia na rua ou em casa.

   O mais famoso doce de Lisboa é o pastel de nata ou de Belém criado originalmente por um pasteleiro do Mosteiro dos Jerónimos. Somente na Confeitaria de Belém, fundada em 1837, este típico doce é chamado Pastel de Belém. Em qualquer outro local, é conhecido por pastel de nata. É vendido em qualquer pastelaria, na Alcoa, na Pousadinha ou nas tendas dos mercados da Figueira e da Ribeira.

   As queijadas também são muito populares e levam queijo, ovos, leite e açúcar. Pode ter recheio de amêndoas, laranja, ovos ou requeijão (que é diferente do requeijão do Brasil). Diria que as mais famosas são as de Évora, Sintra e a Graciosa.

   A Bola de Berlim é também bastante popular. No Brasil é apelidada de "sonho".  Doce bem açucarado que teria sido levado à Portugal pelos judeus imigrantes que fugiram de Berlim, capital da Alemanha, durante a II Segunda Guerra Mundial. Originalmente chama-se "berliner" e é bastante conhecido e vendido no território alemão.

   Os ovos moles de Aveiro têm fama internacional e fabricação preservada. Diz-se que só podem ser feitos em Aveiro. Há uma legislação própria para fiscalizar isso. Têm formato de conchas, búzios e peixes, produzidos com gema de ovo, açúcar e água e cobertos por hóstias! Hóstias de verdade, isso mesmo!

   Há uma longa tradição na história dos doces portugueses associada aos mosteiros e conventos dando conta de que as freiras usavam as claras dos ovos para engomar roupas tornando-as atraentes, não só peças das freiras, frades, bispos, mas também roupas das madames e dos cavalheiros. Tornou-se, ao longo do tempo, um negócio.

   A questão era o que fazer com as gemas dos ovos. Portugal era o maior produtor de ovos da Europa em determinada época. Essas gemas eram oferecidas aos animais como alimentos até que surgiu o açúcar proveniente das colônias e o Brasil foi um grande exportador desse produto. As freiras e frades começaram a fazer experimentos adocicando as gemas, temperando-as, fermentando-as, tornando-as massas finas (o pastel vem daí) e dando formas aos doces.

   O doce "barriga de freira" (bem popular em Portugal) é arredondado, gordinho, como se fosse a barriga de uma freira, muitas delas gulosas e que não praticavam cooper ficando com as barrigas salientes. Ainda hoje a gente vê isso em alguns conventos da Bahia com freiras e frades bem gorditos.

   Os travesseiros de Sintra têm formato de travesseiro e é recheado com creme de ovos, amêndoas e coberto com açúcar. As amêndoas são muito utilizadas nos doces portugueses.

   As tortas (tetras em português castiço) que no Brasil chamamos de "rocambole" são também muito vendidas nas pastelarias, sendo a mais famosa a de Azeitão, salvo melhor juizo.

   Veja algumas pastelarias para você conhecer em Lisboa: Manteigaria, Alfama, Belém, Chiado Café, A Brazileira, Zarzuela, gelatos italianos, Landeau, Alcoa, Casa dos Pastéis de Nata, Nacional, Lisboa. São centenas.

  Há um docinho delicioso chamado Pingos de Tocha: O formato desse doce pode até lembrar uma tocha, mas é o sabor que chama atenção. Composto por um aglomerado de fios de ovos, com glacê de açúcar e limão. É bastante adocicado.

   A origem desse doce português vem do Mosteiro de Santa Clara de Amarante, sendo popular em Coimbra e Amarante. É possível encontrar Pingos de Tocha de formatos e tonalidades diferentes, mas o tradicional é aquele que parece com uma casquinha de sorvete.

   Toucinho do Céu: bolo de tonalidade amarelo intenso, tendo como base de sua receita: açúcar, gemas de ovo e amêndoas moídas. Na receita original, era usado banha de porco como ingrediente, por isso o nome “toucinho”.

    Outros doces portugueses admiráveis: Pata do Veado, Telha, Pastel de Santa Clara, Brisa do Liz, Mimo de Azeitão, Tigeladas de Abrantes, Palha de Abrantes, Nógados, Sopa Dourada, Papos de Anjo, Guardanapo, Lampreia de Ovos, Bolacha Coração, Bola de Nutela, Tostadinha, Cornucópia (tipo de rabo de tatu).

   A pata de veado é uma fatia de torta recheada e coberta por doce de ovos ou torta de massa de pão de ló recheada com doces de ovos cortada em fatias diagonais. Daí a semelhança com a pata de um veadinho. Finaliza com coco ralado e fio de canela.

  E o que significa mesmo doce de ovos? E telha?

  Doce de ovos é tudo feito com gemas de ovos. Ovos, chá de açúcar, chá de leite, sopa de margarina. Os mais tradicionais dizem que a receita ideal é: gema de ovos, água e açúcar. É usado para rechear os bolos.

  Os ovos moles são doces a base de gema de ovos e calda de açúcar, caldas para sobremesas e recheio do pão de ló. No Brasil, um derivado desse doce é a "baba de moça", gema de ovos, leite de coco, calda de açúcar. Teria surgido no Império.

  A telha é produzida com clara de ovos, açúcar, amêndoas, farinha de trigo e manteiga. Produz-se uma camada bem fina da massa e depois corta-se e adiciona-se o recheio. Após assadas ticam parecendo formato de telhas. É crocante, deliciosa.

  Já o "papo de anjo" surgiu no século XV com clara de ovo para engomar vestes feito com as gemas excedentes.

  É muita história. Claro que cada docinho desse tem uma narrativa. Há muitas publicações literárias sobre os doces portugueses. São mais de 500 anos produzindo essas delicias.