Cultura

SALVADOR, 466 ANOS: Uma história mal contada desde os primórdios

Salvador hoje tem 3 milhões de habitantes e é uma das capitais mais pobres do país
Tasso Franco , da redação em Salvador | 27/03/2015 às 10:37
Forte de Santo Antonio na ponta do Caramuru erguido para defender a Colônia
Foto: BJÁ
   A cidade do Salvador completa 466 anos no dia 29 de março. A data é até hoje discutível, mas, já que foi oficializada no I Congresso de História da Bahia, em 1949, é aceita consensualmente pelas autoridades e pela população. 

   A rigor, o 29 de março de 1549, representa a data da chegada da esquadra de Tomé de Souza a Baía de Todos os Santos e, portanto, não havia a cidade, sequer os alicerces e o traçado da fortaleza. 

   Ademais, Tomé de Souza, temendo que pudesse ser atacado pelos tupinambás, primeiro determinou que a sua tropa desembarcasse e se instalasse na Vila Velha do Pereira, no Porto da Barra, e só desceu da nau capitânea Nossa Senhora da Conceição dia 31 de março.

   A cidade, de fato, só começou a ser construida a partir de maio depois de uma fase exploratória do local a ser erguida, na atual Praça Municipal - platô em frente ao Elevador Lacerda - assim mesmo com edificações em palha tanto que a igreja da cidade inicial se chamou Sé de Palha -atual Igreja d'Ajuda - donde saiu a primeira procissão de Corpus Christi com o padre Manoel da Nóbrega à frente carregando a cruz processual.

   Na época, em 1949, o debate girou em torno dessas datas: a chegada da esquadra, 29 de março; o 2 de maio, data de inicio das obras; e o 13 de junho, data que começou a funcionar os serviços burocráticos da Câmara e houve a procissão. 

   Além disso, chegou-se a discutir se deveria ser levado em conta - como aconteceu com Olinda e Recife - a data de instalação da Capitania Hereditária (1534 - data oficial de criação; 1536 - data de instalação) ou até mesmo a data de instalação da Vila do Caramuru, a partir de 1509/1510. Veja que a capela de Nossa Senhora da Graça é de 1528/29, anterior a Capitania e a capital da Colônia.

   Prevaleceu, no entando, o 29 de março, diz-se que mais por força dos argumentos de Frederico Edelweiss, ilustre tupinólogo, historiador e bibliófilo, falecido em 1976.

   Uma outra questão, quase um mistério, é saber quem colocou o nome de Salvador na capital da Colônia uma vez que, não há um registro oficial de tal designação, salvo a observação do Regimento de Almeirim de se construir uma fortaleza que fosse grande e suficiente segura para proteger os burocratas da Coroa.

   Ao que tudo indica o nome Salvador foi sugerido pelo rei de Portugal, Dom João III, que tinha a alcunha de "Piedoso" e era extremamente católico. O certo é que a cidade Fortaleza, desde os primórdios, se chamava Salvador nome que é mantido até os dias atuais. 

   Curioso é o que fizeram com as vilas do Caramuru e do Pereira, a Vila Velha, as quais, desapareceram do mapa. 

   Quase toda cidade - salvo aquelas programadas como Brasilia, Curitiba, etc - nasce de um povoamento, depois vila até se tornar cidade. Salvador também foi assim, com o adendo de que o Regimento de Almeirim, a primeira Constituição Prévia do Brasil, ignorou as vilas já existentes na localidade e determinou a construção da cidade do Salvador.

   Resultado: pouco se conhece e se estudou das vilas, até hoje não se sabe ao certo qual a origem de Diogo Álvares, o Caramuru; e a dimensão da Vila Velha erguida pelo donatário Francisco Pereira Coutinho, no atual Porto da Barra, a partir de 1536. Entre 1536 e 1549 foram 13 anos e muita coisa foi feita, casas foram erguidas, fortificação mambembe a beira mar e arruados. 

   Tanto que, quando a tropa de 1400 homens e a burocracia da nova colônia chegou com Tomé de Souza usou algumas dessas casas para se alojarem. Outras pessoas ficaram morando nos navios e em palhoças, nas ocas estilo dos tupinambás.

   Nesses 446 anos a cidade se expandiu além dos muros iniciais projetados por Luis Dias, a porta Norte na Misericórdia; e a porta Sul no São Bento, destruiu completamente a cultura tupinambá - com apoio dos jesuitas - recebeu levas de escravos africanos e criou uma sociedade de mestiços. 

   A cidade hoje tem 3 milhões de habitantes, é a capital mais atrasada do país em termos de serviços - só agora tem 7 km de metrô - e também uma das capitais mais pobres do país.

   Construida de testa para a Baía de Todos os Santos e com duas orlas tem contornos admiráveis e só perde em beleza natural para o Rio de Janeiro. É uma cidade musical de uma cultura pulsante, porém, decadente. 

   Guarda o título de ser a capital mãe do Brasil e sua história precisa ser recontada, especialmente a epopéia ao 2 de Julho, muito folclorizada.   

   Próximo domingo, a Prefeitura promove alguns shows musicais para comemorar a data e um embromatório 'cultural' nos bairros. Nada significativo.