Cultura

CRÔNICA: 'Turista Russo' acompanha procissão e já tá ficando baiano

O camarada tá se acostumando com Salvador e não se incomodou com a fila do Elevador Lacerda
Tasso Franco , da redação em Salvador | 14/12/2014 às 17:58
'Turista Russo' nem ligou pra sujeira da Rampa do Mercado...baianou de vez
Foto: BJÁ
   Aí o repórter do Bahia Já foi à festa para Santa Luzia, 13, no Pilar, Cidade-Baixa e encontrou com o 'turista russo' admirado com a beleza do povo nas ruas, o entusiasmo com a missa e o fervor religioso durante a procissão para a santa, mas, também preocupado pois não vira outros turistas estrangeiros na festa.

   - Estou sozinho por aqui! Não me deparei com outro gringo. O que teria aconteceido ? - perguntou o 'russo'. 

   - É que esta festa é pouco divulgada, andou decaída, e este local é considerado violento. As agências de viagens não enviam turistas para acá - respondeu o repórter.

   - Ah! Tá certo. Então é melhor proteger minha carteira de cédulas e reservar apenas uns trocados para tomar uma cerveja - aquiesceu.

   - Acho bom. Nesse empurra-emnpurra da procissão, até aí os ladrões agem. Na festa de Santa Bárbara, no Pelô, houve muitos furtos - avisou o repórter.

   Então o 'turista russo' tomou seu caminho, subiu as escadarias da igreja de Nossa Senhora do Pilar, refrescou a cabeça com água e até se benzeu e rezou. Na volta, já acompanhando a procissão, meteu o pé num esgoto bem no sopé da escadaria, mas, não se importou muito, salvo que sujou a calça e o pé direito ficou enxarcado.

   Foi adiante e, por pouco, agora já mais prevenido, não cai noutra poça de esgoto em frente ao Grupamento de Fuzileiros Navais. Essa, esperto, ele pulou. Tá ficando baiano. 

   Quando chegou na Avenida da França à beira mar do porto de Salvador achou linda a rua, toda arrumada, limpa, calçadas bem feitas e procurou saber de um irmão da Santíssima Trindade porque aquela rua se chamava da França. 

   O camarada então lhe respondeu que desde pequeno conhecia a rua como Avenida da França, mas, não sabia porque. E até mostrou uma outra rua paralela a esta que se chamava Avenida Estados Unidos.

   O 'turista russo' ficou intrigado. Mas, como não tinha ninguém da Bahiatursa para lhe responder essas questões, seguiu adiante.

   Quando chegou nas proximidades da praça Cayru, o cortejo à frente e aquela paisagem belissima no alto, com o Elevador Lacerda e o Palácio do Governo, ficou encantado.

   Nesse ponto encontrou novamente com o repórter do Bahia Já e quis saber porque o povo tava colocando os dedos nos narizes.

   - É que a maré tá baixa e a rampa do Mercado tá cheia de cocô - explicou o repórter.

   Tenho a impressão que ele entendeu coco e repicou: - Coco é bom, saudável, gostoso. 

   O repórter então explicou que era cocô mesmo, bosta, fedor.

   Aí ele torceu o nariz mas não se impressionou muito. Tá vendo. Tá ficando baiano. 

   Mais adiante quis saber o que significava aquela escultura de Mário Cravo Júnior, bem diferente em contraste com o casario da Conceição.

   - São os 'culhões' de Mário - comentou o repórter sorrindo.

   - No entendo - respondeu o 'turista russo'.

   - Como queira, bagos, colhões, ovos - o repórter pegou nos seus e mostrou o que era.

   O 'turista russo' caiu na gargalhada.

   - Vocês baianos son muito engraçados, espirituosos - falou.

   Na Conceição, o 'turista russo' também ficou encantado com a igreja, mas, decepcionado com o casario abandonado ao seu lado. Nem perguntou mais ao repórter o porque do abandono. Quando digo que ele já tá ficando baiano!

   Observou, no entanto, que tinha uma equipe de Martinelli decorando a igreja.

   - Muito bonito - disse ele - essa decoracion.

   O repórter então explicou que era uma coisa excpcional para casamento de gente rica.

   - Ah! tá bem - respondeu admirado.

   Então, se despediu do repórter e disse que iria subir o Elevador Lacerda e ir para o hotel.

   Chi! Quando chegou no Elevador a fila tava enorme, quilométrica. Foi informado que duas cabines do elevador estavam em manutenção.

   É, ele entrou na fila, balançou a cabelça como quem diz "na Bahia é assim mesmo" e resignou-se.

   Tá vendo, até o 'turista russo' tá ficando baiano.