CRÔNICA 7: GALO BINGO CANTA WALDICK NO FESTIVAL DE MUNIQUE

Tasso Franco
21/09/2019 às 12:04
   Nos capitulos anteriores vimos como o galo Bingo foi salvo da morte por uma vendedora de cocos verdes e se tornou famoso por seu canto mavioso, intérprete dos melhores da música popular brasileira e que depois de aparecer na TV e ficar famoso na Bahia foi cantar na Festival Oktober Guest, em Munique, na Alemanha, empresariado por dona Flor do Amanhã.

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   O embarque do galo Bingo para Munique no aeroporto de Salvador foi festivo com baianas estilizadas saudando-o no saguão e centenas de fãs gritando, "Bingo", "Bingo", "Bingo". O pimposo bem acondicionado nos braços de sua empresária, dona Flor do Amanhã,  soltava beijinhos e dava autógrafos. Cenas arrepiantes de fãs enlouquecidas parecendo aquelas meninas que se esperniavam em tempos idos para assistir os shows dos Beatles, em Liverpool.

   No desembarque em Munique com a imprensa a espera do astro, dona Flor deu uma entrevista coletiva na sala vip, apresentou o galo, disse de suas qualidades como cantor, enalteceu a sua postura sempre elegante e um repórter da TV Del Spilter insistiu tanto para que Bingo desse uma cancha, uma palhinha, cantasse algo que o galo entusiasmado com aqueles luzes e câmeras, pela primeira vez no estrangeiro soltou a voz cantando o fado "Lisboa Antiga", música internacionalmente conhecida, para alegria geral.

  O gringo falava ao vivo e gesticulava de alegria, de júbilo, de ter a possibilidade de narrar algo inacreditável, um galo cantando em português de Portugal, com o sotaque parecido ao de Amália Rodrigues, a grande intérprete portuguesa, uma coisa maravilhosa. O repórter obviamente falava em alemão, narrava uma espécie de partida de futebol, e embora nem Dona Flor do Amanhã; nem o galo entendesse nada do que aquele moço falava gostaram dos seus gestos, de sua euforia. 

   Afinal, a Del Spilter era a TV de maior audiência em Munique e aquela matéria posta no ar com referência a Bingo dizendo que ele cantaria à noite no pavilhão da cerveja Halsi contribuiria para encher a casa. A equipe técnica de dona Flor do Amanhã estava eufórica com a recepção e já previa um arraso à noite assim que Bingo adentrasse ao palco vestindo uma jaquete com brilho maior do que os terninhos de Michael Jackson. 

   O astro baiano preparara um repertório que ia de U2 de Fredy Mercury, de Adelle a Elton John pois sabia que a plateia era exigente, internacional e com os cornos cheios de cerveja.

   Bingo estava preparado para tudo. Assim que o locutor anunciou a sua presença no palco principal da Halsi e uma banda composta por alemães e brasis abriu o trombone e a guitarra, esta executada por Dick Jones, e uma tumbadora arrepiante manejada pelas mãos elétricas de Neguinho do Pelô, a platéia foi ao delirio vendo um galo, único exemplar no mundo, dando um show num dos maiores festivais de cerveja do planeta no Parque Princesa Tereza, de muitas histórias.

   Um  espetáculo de luzes, efeitos fantásticos, canhões com focos amarelos e leds prata, e Bingo ao topo numa plataforma com o microfone à sua  frente, gogó aberto, mandava ver o melhor do rock internacional. Dona Flor do Amanha roia as unhas e pediu a uma galega do Tirol uma daquelas canecas de chopp das maiores e entornou de goladas sucessivas tal era sua alegria. 

  O galo era aplaudido e os alemães urravam de alegria devorando patos assados, frangos e salcichões.

   Lá pras tantas, a platéia num fogaréu dos pecados, um gajo com quase dois metros de altura, cabelo escovinha, sardas espalhadas em todo rosto e chapéu com penas de pavão na cabeça arremessou uma caneca de chopp em direção a Bingo que, se ele não tivesse a presença de espírito no palco, ágil como é, teria acertado em cheio suas plumas. 

   Mas, protegido que estava por Senhor do Bonfim, pelos orixás da Bahia, por Ofum de Ronda, ele se abaixou na hora H e a caneca foi se espatifar no fundo do palco. Os seguranças, de imediato, retiraram o bebum da festa, à moda alemã, aos sopapos, e Bingo mandou ver outras músicas até o final do espetáculo que, acabou no maior furdunço da história do festival.

   Resolveu Bingo, após aquela agressão do gringaço, interpretar a música "Paixão de um Homem", de Waldick Soriano, até para amainar o ambiente e solicitou a Dick um fá maior na guitarra e mandou ver: - Amigo/ Por favor, leve esta carta/ E entregue aquela ingrata/ E diga como estou/ Com os olhos rasos d'água/ E o coração cheio de mágoa/ Estou morrendo de amor...

   Quando ira começar a segunda estrofe: Amigo/ Eu queria estar presente... pipopacaram protestos generalizados porque os alemães não estavam entendendo nada, queiram um rock pauleira no embalo que se encontravam repletos de cerveja até as fuças, e um deles lançou uma banda de um pato assado em direção ao galo que se esquivou e outro arremessou o líquido do canecão de cerveja molhando os músicos e salpicando o galo, o qual, limpava o blazer e recebeu um pedaço de torta pelo bico indo ao chão.

   O show estava paralisado e a empresária Flor do Amanhã subiu ao palco para salvar seu galo e recebeu uma pomba sem asa, um frango dessossado inteiro pelos seios e estatelou-se no palco e foi aquele furdunço os gringos gritando "fora Bingo", "Vá cantar noutro poleiro", "galo sacana", sendo necessária a intervenção dos seguranças, a essa altura Flor do Amanha protegendo o artista com a ajuda de Neguingo do Pelô que usava a tumbadora como escudo.

   No outro dia as manchetes pipocaram na Alemanha e no Brasil e o galo e sua estafe retornaran a Bahia são e salvos, sem ferimentos, salvo os arranhões em suas imagens. E se vocês pensam que isso abalou a carreira de Bingo estão muito enganados, pois, aí foi que choveram convites para ele cantar em festivais, inclusive no mais famoso do Brasil, o Verão Salvador Day, e ele se consagrou.

É o que veremos no próximo capítulo.