CRÔNICA 6: BINGO TEM DESAFIO DE CANTAR NA FESTA DE MUNIQUE

Tasso Franco
08/09/2019 às 12:24
 Como vimos nos últimos capítulos o galo Bingo foi salvo por uma vendedora de cocos verdes, Tássia Flor do Amanhã, e vive próximo de sua tenda de trabalho no Morro do Cristo, em Salvador, ajudando-a na venda dos seus frutos. Por posto, em sendo cantor da MPB tornou-se famoso, despertou a atenção da midia e virou uma celebridade local. E aí surgiram os 'olheiros' vendo a possibilidade dele tornar-se um artista internacional.

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Desde que se apresentou no programa de TV Prosaico da TV Cidade da Bahia, Bingo amealhou muitos fãs que vão ao Morro do Cristo vê-lo cantar músicas de Benito de Paula e Zeca Pagodinho. São tantos a segui-lo que apareceu logo um produtor cultural chamado Geo Bapá querendo representar o 'artista', levá-lo aos palcos dos principais festivais do mundo, em especial, o Rio Maravilha, mas, o empresário topou de testa com dona Flor do Amanhã, a qual disse que se alguém tinha que empresariar o galo será ela e não ele. 

- Eu sou a dona do galo, sou eu quem cuida do galo, dou comida e conforto espiritual e emocional ao galo, daí que o senhor pode bater noutra porta que nesta daqui está fechada com a tranca de Ofum.

   Bapá ponderou que ele tinha experiência no ramo, já empresariava vários artistas baianos e isso facilitaria e muito a ascensão do galo no mercado nacional e até no internacional.

- Eu sei onde as cobras dormem minha senhora e se alguém tarimbado como eu não entrar na jogada esse galo não vai a lugar algum, salvo n'alguma panela de guisado, profetizou Bapá.

- Pois, melhor que seja asssim, do que colocar a carreira do meu galo nas mãos de um desconhecido, de uma pessoa que não tenho intimidade, obtemperou ela.

- Esse mercado de produção cultura é uma máfia e um artista novato como esse galo só consegue ir pra frente comigo, que sei trabalhar as emissoras de rádio, oferecer jabá a alguns comunicadores especiais da latinha, articular toda uma engrenagem para ele crescer, ponderou o empresário.

Um filho de dona Flor do Amanhã que presenciava a conversa ponderou: - Mãe, esse cara sabe das coisas e ele pode, de fato, incrementar a vida artistica de Bingo.

Dona Flor aquiesceu, não de todo é verdade, pedindo tempo ao tempo para pensar, consultar outras fontes, falar com doutor Vence, enfim, pediu que Bapá apresentasse seu pleito por escrito com uma lista de artistas que empresariava e eram sucesso. 

Deu um prazo de 48 horas para que assim ele procedesse e cochichou no ouvido do filho que mexeria com seus pauzinhos para também se organizar nessa direção, uma vez que se a proposta de Bapá não lhe agradasse seria ela que constituiria uma produtora para empresariar o galo.

Enquanto isso, o galo desfilava simpatia e dava autógrafos sem parar nas proximidades de sua tenda, ora interpretando músicas de Fagner, ora cantando Gilberto Gil. Era um fenômeno e gente de todos os bairros de Salvador se deslocavam até a Barra para conhecer o galo cantor.

Fama que te quero fama. Apareceu logo um grupo de maduros do Cabula portando uma faixa enorme com os dizeres - Clube de fãs de Bingo, galera do Beco do Grilo, Cabula, Salvador da Bahia. Uma senhora à frente do grupo gritava a plenos pulmões: - Bingo é igual ao Bahêa minha porra broca todas.

Bingo, que não estava acostumado a esse tiplo de manifestação tão estrondosa sentia-se envergonhado, mas, como fama é fama, também sentia-se orguilhoso e agradecia à galera entoando uma música de Agnaldo Timóteo, mais propícia ao pessoal daquela idade. 

Foi ovacionado de pé e dona Flor do Amanhã vendia seus cocos verdes à mancheia aproveitando-se daquele momento glorioso e lembrava de um cantor local chamado Luis Faldas que bombava no Carnaval e continuava, até hoje, atraindo multidões. Era isso que desejava a Bingo, muito mais do que qualquer sucesso numa Opera de Paris ou num palco de Milão. 

Esse Bapá que fosse catar cavaco noutro terreiro, pois, decidira que ela mesmo é quem tomaria à frente para empresariar o galo. E, se aparecesse alguma proposta do Festival de Lisboa ou da Vaquejada da Terrinha já tinha na cabeça o nome de sua produtora - a Flor do Amanhã Produções Arftisticas, a FLA - uma corruptela da torcida urubuzada da Gávea carioca, o time mais querido de Pindorama, e falaria com o contador Paes Gonçalves para organizar os papéis e cuidar dos impostos junto aos órgãos competentes com nota fiscal eletrônica a ser processada.

Nada no papel, tudo eletrônico como é a exigência dos tempos modernos. E, foi assim, empresa constituida, propaganda no RostoBook e no Zuiter, difusão no GAP, que apareceu logo o primeiro contrato para uma apresentação no Festival Oktober Guest, em Munique, desafio dois maiores a ser encarado por Bingo, uma vez que não cantava rock nem falava alemão.

* É o que vocês saberão no próximo capítulo desta série.