CRÔNICA 4: BINGO FICA FAMOSO DEPOIS DE APARECER EM PROGRAMA DE TV (TF)

Tasso Franco
09/08/2019 às 11:03
Nos três capítulos anteriores vimos que o Galo Bingo foi achado quase-morto na encosta do Morro Ipiranga, em Salvador, e salvo por uma vendedora de cocos verdes, dona Tássia Flor do Amanhã. Em retribuição ao ato de compaixão da senhora o galo, ao ficar bom de saúde, transferiu-se do Ipiranga para a encosta do Morro do Cristo onde dona Tássia vende os cocos prometendo, com seu canto mavioso, ajudar nas vendas. Deu certo. O galo canta MPB e um casal de médicos ficou encantado.

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O casal de doutores Vence e Victória ficaram tão admirados vendo e ouvindo o galo Bingo cantar "Carinhoso", de Pixinguinha, assim que chegaram em casa após o cooper no calçadão da Barra resolveu ligar para o produtor Zinho do programa Prosaico da Tv Cidade da Bahia e contaram o acontecido solicitando que o apresentador Carimbó fizesse uma reportagem sobre o galo.

Zinho respondeu ao telefone: - Olha doutor Vence! Nós já fizemos matéria com papagaio que canta estrofes do hino nacional, macaco que quebra licouri com pedra, a corrida dos jegues de calçola em Santo Estevão, curió que repete trinado parecendo tico tico no fubá, agora, o senhor me dizer que um galo canta Pixinguinha aí é demais. Não caio num conto desses.

- Você me conhece há muitos anos, sabe do respeito que tem nossa Clínica Olhos Verdes no mercado, muitos de sua TV são meus clientes, portanto, não sou homem de mentir nem de inventar lorota, ví com meus próprios ouvidos e tenho testemunhas, minha querida esposa Vice e um contador chamado Paes Gonçalves que passava na hora e também parou pra ouvir, repicou Vence.

- Como o senhor está insistindo muito posso mandar uma produtora no local fazer uma pré-pauta para confirmar e, em sendo verdade, pode até dar uma matéria nacional para o Elástico, aos domingos, na TV Universo.

O certo é que combinaram de ir a tenda de dona Flor do Amanhã numa quarta-feira, dia morto para o jornalismo da emissora, fazer a verificação com a presença de Vence, o qual se prontificou a participar da pré-produção.

  E assim foi feito, em dia e hora combinados. Só que havia chovido pela manhã, dessas chuvas que derrubam muro em bairro de pobre e o galo só subiu a rampa da encosta após às 11h quando a equipe de pré-produção já estava querendo se picar pois não vira galo algum mesmo com os apelos feitos por dona Flor do Amanhã que o chamou,  cacarejou, jogou milho na grama e pedaços de lelê. Mas, eis que aparece Bingo com um humor que se assemelhava ao de Sêo Lunga, todo invocado e não cantou foi zorra nenhuma.

Minto: depois de alguns apelos de dona Tássia e o olhar atencioso de doutor Vence que promteu, na surdina, levar-lhe meia dúzia de pães de milho, dos melhores, da Zerini, a produtora Iza Bastore já dizendo uns leros ao doutor e pronta para entrar no carro da TV Cidade da Bahia, Bingo soltou a voz com um trecho de uma música de Fagner, um dos seus ídolos: Dono dos Teus Olhos.

Diria, palavras de doutor Vence, que a Bastore quase desmaia de satisfação e se urina com frouxos de riso e admiração, gravando aquela voz galística no seu iphone para levar a prova a Zinho.

Ali estava - segundo ela confessou a dona Tássia uma matéria nacional - inédita. E o programa Elástico gosta desse tipo de reportagem não para testar se é verdadeiro o canto do galo no quadro Detetive Holmes Virtual, mas porque dá audiência. Quiça o galo pudesse ser levado ao vivo para cantar no auditório do Elástico ao lado de dona Flor do Amanhã com transmissão para todo o Brasil. Já era, este, o sonho de Bastore.

Prova em mãos, Zinho assistiu o canto do galo entoando a música de Fagner de boca aberta: - Isso é incrível, isso é fantástico. É o show da vida.

Acertou-se tudo com Carimbó para que o Prosaico fizesse uma boa reportagem, o galo, de preferêncioa cantando algo da Bahia, uma música de Caetano Veloso e a equipe foi com tudo gravar com o consentimento e cachê para dona Flor do Amanhã, a qual teve que comprar uma roupa nova na Z&C para aparecer na fita bem bonita, e lá se foram gravar. 

Era um domingo, calçadão movimentado, sol a pino, o casal Vence e Vice presente, o contador Paes Gonçalves também no local para dar uma palavrinha, cenário pronto, tudo nos conforme, dona Flor do Amanhã chama o galo Bingo que se encontrava numa moita da encosta e este surge todo pimpão sabendo que iria aparecer na televisão.

Flor do Amanhã, previamente, havia lhe dito que deveria comportar-se com elegância, cara boa, alegre e entoar a música "Leãozinho". Até treinaram no sábado, à tarde, uma vez que Bingo tinha dificuldade em pronunciar a palavra "desentritecer" posta logo na segunda estrofe.

"Gosto muito de te ver, leãozinho/Caminhando sob o sol/Gosto muito de você, leãozinho; -/ Para desentristecer, leãozinho/ O meu coração tão só/Basta eu encontrar você no caminho - trecho treinado. 
 
Câmara, luzes, ação falou o contra-regra Zito Perna de Alicate e Carimbó entrou em cena falando da história de Bingo, mostrando os personagens ao seu redor, focando uma platéia que se formara no Morro do Cristo e revela empolgado: Na Bahia tem um galo cantador da MPB - a câmara foca o galo pimpão - e pede para ele entoar uma canção. 
 
O galo arrepiou. O problema foi que, quando chegou no momento de dizer a palavra "desentristecer" não saiu nem com a zorra, Flor do Amanhã soprova de um canto, Vence lhe mostrava um pão de milho e nada. 

O galo ficou mudo mandou todo mundo a pqp e se picou ladeira abaixo pela encosta.

De toda sorte, o programa foi exibido somente na Bahia e Bingo, a partir deste momento, ficou famoso e passou a dar autógrafos na tenda de Flor do Amanhã.

As vendas de cocos dispararam.