AS PROVÁVEIS RAZÕES porque o Bahia Hoje durou tão pouco tempo

Tasso Franco
19/11/2017 às 19:15
   Muita gente tem me pedido para comentar por que o Bahia Hoje, o primeiro jornal informatizado do Estado, pioneiro no país em planta integral, fechou as portas com tão pouco tempo, apenas 1 ano e poucos meses de existência. Nem os jornais alternativos perseguidos pela ditadura militar de 1964 tiverem fins tão prematurosa.
    
   Na minha visão, a resposta mais plausível que encontro para explicar o que teria acontecido se situa no plano de que o empresário Pedro Irujo, dono do jornal, nunca teve seu foco empresarial voltado para a comunicação ainda que também fosse dono do chamado Sistema Nordeste de Comunicação, com uma emissora de TV (Itapoan), 6 emissoras de rádios (duas na capital Sociedade e FM Itapuã) e o jornal Feira Hoje. 
    
    Na realiade, esse sistema era apenas um nome fantasia porque as empresas não atuavam de forma integrada, administrativamente, e muito menos jornalisticamente, e o foco principal de Irujo era o segmento de transporte, com bases de apoio a campos de petróleo na Bahia, Espirito Santo e Rio Grande do Norte; guindaestes no Porto de Santos; a hotelaria e a indústria de transformação - fios de sisal e sintéticos.
    
    Quando montamos o Bahia Hoje avisei-o que para a maturação do projeto seriam necessários ao menos 5 anos, uma vez que a planta de um jornal é diferenciada de uma TV reprodutora de sinais e de emissoras de rádio, com muito mais gente e encargos, mesmo se tratanndo de um jornal informatizado.                   
    Enquanto, na época, A Tarde tinha mais de 300 funcionários, nós conseguimos algo em torno de 100, sem contar, evidente os insumos, os quimicos, as tintas e o papel bobina num mercado bastante estreito e competitivo. E Pedro saiba disso, pois, o Feira Hoje, que reformamos em 1992, nunca conseguiu ter uma receita superavitária apesar de 20 anos no mercado.
    
   Outra explicação não encontro para o fim do Bahia Hoje. Perseguição politica de ACM, então governador da Bahia, não existiu. Incompetência da diretoria comercial para suprir o jornal de anúncios também não foi isso porque saiu-se bem dentro de um projeto inicial. Crise no mercado nacional também não existia. Era épocas dos governos Collor mudando para Itamar Franco, uma enorme rearrumação, mas, nada de crise como a registrada no Brasil e no mundo a partir de 2008/09.
    
   Um fator que pode ter apressado o fim do Bahia Hoje foi a minha saída prematura da direção jornal, ainda que não fosse determinante. Reconheço que foi um erro, sem dúvida, ter me afastado da empresa meses depois que foi fundada, pois, sem modéstia, a minha liderança no processo era importante: dava confiança a equipe e unidade. O que foi desmantelado com a minha saída. 

   Na verdade estava chegando aos 50 anos de idade, já trabalhava com Irujo desde 1989, já completando 5 anos, tudo na base da confiança e da boca - salário, gratificações, suporte - sem qualquer garantia trabalhista.
   
   Terminado o projeto do Bahia Hoje, implementado e andando, fui a Pedro e exigi alguma garantia e uma pequena participação acionária na empresa já que ele me considerava um "filho". Pedro desconversou. Disse que se tratava de uma empresa familiar - dele, da esposa e dos filhos - e não teria como me encaixar, nem me gratificar. Fiquei chocado. Dei um prazo de 30 dias para ele pensar. E, vencido o prazo, nada resolvido, fui embora. 
    
   Creio que não houve nenhum choque por parte dele. Eu fiquei chateado, reuni a equipe para o adeus, mas, não me deprimi, nem me abalei emocionalmente. Já tinha trabalhado e realizado um projeto 'salvador' para o Diário de Noticias, falido e fehado nos anos 1970, com David Raw e Carlos Alberto Simões; estava presenciando a 'morte' do Jornal da Bahia, onde comecei, em 1968, portanto, já tinha o "couro duro". 
    
    Pouco tempo depois, primórdios de 1994, já estava na Propeg trabalhando na campanha de Paulo Souto a governador na imprensa associada ao marketing. Daí, com a vitória de Souto, segui com ele para ser diretor-Geral da Empresa Gráfica da Bahia, a partir de 1995.
    
   Nunca conversei com Pedro sobre o fim do Bahia Hoje. Houve uma rebelião na redação, uma greve, o jornal dando prejuizo e ele fechou suas portas e vendeu o maquinário e outros para uma empresa de Pernambuco. Ficamos amigos para sempre. Nunca o coloquei na Justiça do Trabalho nem lhe pedi 1 real quando sai. Tinha um veiculo Gol que me servia e deixei-o no páteo indo para casa de táxi na minha despedida.
    
   O segundo motivo provável para o fechamento do Bahia Hoje teria sido de ordem financeira. O que era arrecadado na diretoria Comercial na venda avulsa em bancas e no telemarketing dos classificados não dava pra cobrir nem a metade dos custos dos trabalhadores e dos insumos para as edições dos jornais. Na época, falava-se me R$100 mil ao mês de prejuizos ou pouco mais, o que, se foi o caso, número pequeno considerando a maturação da empresa e os investimentos feitos no total, algo em torno de R$6 milhões segundo se propalou. Pedro nunca comentou essa cifra para mim.
    
   Um terceiro fator que pode ter influido no fechamento do Bahia Hoje foi a queda de Fernando Collor da presidência da República, no final de 1992, entendendo-se que Pedro Irujo nasceu politicamente na onda Collor de 1990 quando elegeu-se deputado federal pelo PRN e comandou o processo 'collorido' na Bahia. O que se comentava, na época, dava conta - sem a mínima comprovação, mas, sinais evidentes possíveis de que tivesse acontecido - de que a sobra de campanha "collorida" na Bahia teria ajudado na instalação do Bahia Hoje. Nunca se soube se isse seria verdadeiro.
   
   O certo, no entanto, é que Pedro integrava o poder Collor no inicio dos anos 1990, tinha com ele mais dois deputados federais no PRN, Aroldo Cedraz e Marcos Medrado, e sendo um deputado empesário é possível que tenha trabalhado nessa direção para fortalecer os seus negócios junto a Petrobras.  O Bahia Hoje começou a ser gestado em 1992, em plena era Collor e foi inaugurado em agosto, já com Itamar Franco, PMDB, presidente da República. 
   
   O que fez Pedro no ano de 1994 para reeleger-se deputado federal: mudou-se de malas e bagagens para o PMDB e foi reeleito. Mas, ele não tinha a mesma abertura com Itamar que teve com Collor. E o projeto do Bahia Hoje morre exatamente neste ano de 1994. Pode ser uma conindência. Mas são os fatos.
    
   Mais surpreendente de tudo, ainda, o que só corrobora de que Pedro Irujo nunca encarou a Comunicação com uma área empresarial para o seu foco principal foram as vendas para a IURD, a Igreja Universal do Reino de Deus, da Tv Itapoan e da Rádio Sociedade, duas pérolas, dois diamantes, mas que, na direção de Irujo nunca foram superavitárias como deveriam ser.
    
   Minha última conversa com Pedro foi em 2015, em frente ao Hotel Mar Azul, de sua propriedade, no bairro da Barra. Estava fazendo cooper e avistei-o na porta do hotel. Ficamos muitos minutos papeando, lembrando das nossas andanças, só coisas boas, e não triscamos no assunto Bahia Hoje. É a vida. Pedro partiu para outra esfera espiritual e eu estou ainda aqui contanto essa e outras histórias.