AV SETE 100 ANOS: 14 Becos cortam a AV do São Bento ao Porto da Barra

Tasso Franco
03/02/2016 às 15:26
​   Quanto Tomé de Souza chegou a Capitania Hereditária da Bahia na Vila Velha do Pereira (hoje, Porto da Barra), em 29 de março de 1549, até escolher o local que fosse num altiplano para edificar a fortaleza da cidade do Salvador seguiu com seus homens, em maio, à frente o mestre de Obras, Luis Dias, pelo Caminho do Conselho (atual Ladeira da Barra), atingiu o Outeiro Grande (Campo Grande), atravessou a mata por três aldeamentos tupinambás no Passeio Público, Piedade e São Bento (os nomes  originais não eram esses) até alcançar a Praça Municipal onde se situa o Elevador Lacerda, ponto que escolheu para edificar a fortaleza.

   Com obras em andamento e definidas as portas da fortaleza, a Norte, na altura da Misericódia; e a Sul, na altura da boca da Praça Castro Alves a cidade nasceu aí e cresceu ao longo dos séculos, na linha Sul, até o Farol da Barra seguindo pela orla ao Rio Vermelho, na trilha desse caminho original. Havia, ainda, uma alternativa ao caminho alto pelas aldeias; o caminho de baixo - onde se situa a Av Carlos Gomes - com testada para o mar ainda tendo uma aldeia na Gamboa de Baixo.

   Em 1915, quando o governador J.J.Seabra decidiu fazer a Av Sete de Setembro já havia construções ao longo de todo esse trecho na Avenida do Estado e nas ruas, praças e becos que cortavam todo esse trecho até o Corredor da Vitória e Caminho do Conselho. 

   Vamos falar desses becos que ainda hoje existem ao longo desta avenida. O primeiro deles fica no topo da Ladeira de São Bento, lembrando que na construção da Av Sete, uma ala do Mosteiro foi derrubada, e esse beco se chama Maria Paz, o qual em tempos idos, quando trabalhei no Diário de Noticias (a sede do jornal era no atual Centro de Cultura da Caixa), em 1975, acessava-se esse local de carro para quem vinha da Ladeira da Montanha ou da Rua Chile, subindo a Carlos Gomes (hoje, área chamada Gomes de Baixo) e dobrando nele para ter acesso a Av Sete. 

   Nos carnavais dos anos 1960 e 1970, quando as familias ainda colocavam bancos na Av Sete para assistir os desfiles dos blocos e trios, esse beco era ponto de encontro da galera universitária descolada e constituia-se numa muvuca da zorra. Hoje, virou uma área comercial tipo calçadão com tendas dedicadas a roupas infantis, alguns enxovais, objetos de toucador, cama e mesa, e parte de doce e guloseimas. Não passa mais veiculos. No lado da Av Sete, quase em frente a uma Loja de Calçados, tornou-se ponto de travestis durante a noite.

   Do outro lado do Maria Paz situa-se a Rua Nova de São Bento, que tem nome de rua mas é um beco ligando a Mouraria a Sete. Adiante, na área do Relógio de São Pedro, existe a confluência de três becos dos mais movimentados da Sete: o 11 de Junho, o Coqueirinho e o Cabeça. Todos têm uma intensa movimentação comercial com pontos valorizados, o Cabeça especializado em tendas de bolsas e begs para senhoras e jovens, e uma parte de bolachinas de goma e outros; o 11 de Junho, do outro lado da rua, com tendas de serviços - amoladores de alicates e tesouras, conserto de relógios, venda de folhas, etc - e o Coqueirinho - com tendas de celulares, brinquedos e outros na direção da Estação da Lapa. 

   O centro desses becos é a Praça do Relógio, oficialmente Barão do Rio Branco, mas, ninguém a trata com esse nome. É a praça do Relógio, ponto dos jogadores de damas, prestadores de serviços de funilaria e encamento e de baianas do acarajé.

   Adiante, em frente ao prédio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia está o Beco do Mocambinho que sai na Carlos Gomes na altura do antigo Brazeiro. É o mais vazio dos becos, comercialmente. Só numa ponta, na direção da Av Sete, tem tendas de óculos. 

   Mais uma quadra e chega-se a rua da Forca que liga a Sete ao Largo 2 de Julho e divide-se em duas partes: uma entre a Sete e a Carlos Gomes; e a outra entre a Carlos Gomes e a Inocêncio Galvão (2 de Julho). 

   Na verdade é um grande beco, hoje, também sem trânsito, a primeira parte com comércio de flores de plástico, calcinhas para mulheres, viseiras, begs, sapatos, sandálias e folhas. Na outra parte, ocupado, em parte por mesas dos restaurantes populares do local. A movimentação nessas duas áreas é intensa.

   Antigamente, quem vinha das Mercês poderia entrar de carro pela Forca e sair na Carlos Gomes. Havia movimentaação de veiculos na segunda parte, saindo do 2 de Julho para a Carlos Gomes, entrando na altura da antiga La Fontana, que servia o melhor chope nos anos 1970. No outro lado da rua tinha o pastel 'mata fome' de um chinês lodento.

   Tem esse nome de Forca porque na época da Bahia Colônia revoltosos e outros desfilavam com as cordas dos pescoços para serem enforçados na Piedade, praça que dá de testada com esses becos. Os revoltosos da Revolta Baiana (dos Alfaiates) foram enforcados nesse local.

   Ainda no final da Piedade, em frente a Igreja de São Pedro Velho, existe o Beco do Mijo, hoje, Beco da Farmácia, o mais estreito dos becos da Sete ligando a Carlos Gomes. Era chamado do mijo porque a galera usava o local para fazer xixi. Nesse local está a portaria do Edf Totonha, que muitos dizem ser de João Falcão, e onde funciona salas de serviços odontológicos, contábeis, massagens sexy, vendedoras autônomos e assim por diante. Hoje está limpinho e bem conservado e tem uma placa de "costuras em geral".

   ​Em direção ao Rosário, está o beco Paulo Autram que sai da Carlos Gomes depois do prédio do Arquivo Público dobrando a esquerda com acesso a veiculos saindo em frente a igreja de N.S. do Rosário. É um beco com poucas casas comerciais, um paredão, um brechó e a tenda do Sapateiro de Irará. O beco é também chamado de rua Paulo Autram.

   Mais na frente, de testada com o Convento das Mercês encontra-se a Rua Jonas Abot, mais conhecido como Beco da Quebrança. Esse beco dá mão à esquerda quem vem para o centro saindo de veiculo em frente a Igreja Universal da Graça de Deus, no alto Gomes. Não tem comércio. Na esquina do Bradesco, na Sete, há uma senhora que faz ponto de dia, no Beco, vendendo lanches e refrigerantes. À noite, como o próprio nome diz, é da quebrança das mulheres da vida e dos travestis.

   Nessa mesma quadra tem a Travessa Salvador Pires que é um beco ao lado da sede do Sebrae, esquina do antigo palacete (dos governadores) das Mercês. No antigo Sebrae, em frente ao quartel dos Aflitos, rua Horário César, era também ponto de prostituição às noites.

   A Avenida Sete então corta o Campo Grande passando pelo Banco dos Ingleses, que é quase um beco, atinge o Corredor da Vitória, e aí, quase chegando ao Largo da Vitória, tem a Travessa Hugo Wilson, mais conhecida como o Beco do Abaixadinho, onde se situa o restaurante Abaixadinho de Sêo Alfredo, hoje comandado pela viúvia dona Lita, e onde, em tempos idos, a agência EngenhoNovo promovia a lavagem do beco, ainda no tempo de Domingos Leonelli.

   A Avenida Sete desce a Ladeira da Barra, antigo Caminho do Conselho, e no meio desta ladeira tem um beco, hoje, sem nome, onde havia uma casa de massagem de meninas salientes, hoje, beco fechado com uma placa de dona Anna Modista. Fica quase em frente da antiga Propeg.

   Antes da Avenida fiundar-se no Farol da Barra, daí em diante vamos pegar a Av Oceânica, existe ainda o antigo Beco do Leite de Camelo, rua Cézar Zama, onde se vendia uma batida de leite de camelo admirável, beco que sai do Porto da Barra em direção a Associação Atlética da Bahia.

   Finish. Esses são os becos da vida que cortam a Avenida Sete de Setembro nos seus 100 anos de existência.