O “companheiro” Otto Alencar, do Lula malufista,

Fernando Conceição
18/09/2014 às 19:33
A TESE EXISTE e está aí para ser debatida. Que Lula seja um “projeto de Golbery do Couto e Silva“, como vituperavam próceres dos tradicionais partidos “comunistas” no Brasil – a exemplo de, na Bahia, Emiliano José, Haroldo Lima, Paulo Fábio, Marcelo Cordeiro ou Sérgio Passarinho -, disso somente saberemos comprovadamente quando sair a biografia de Antônio Carlos Magalhães, prometida há duas décadas, pelo menos, pelo biógrafo Fernando Morais.

Um breve parêntesis, a favor do também “comunista” Morais: sei das dificuldades de dar conta de uma biografia que se pretende séria, porque desde 2007 tento dar conta da do geógrafo ganhador do Vautrin Lud (equivalente ao Nobel), Milton Santos. Fecha parêntesis.

Filhote do arquiteto intelectual do novo partidarismo pós-ditatorial de 64, com objetivo de minar as pretensões dos PCs históricos, quem no momento pode comprovar? Mas que há tempos Lula se converteu em um cínico na política – cínico no sentido proposto por Maquiavel – não é preciso ter a argúcia de um Leonel Brizola para o saber.

Todas as principais oligarquias que mandam e desmandam no Brasil estão de braços dados com o projeto lulista, desde que Zé Dirceu bolou a famosa carta aos mercados e aos brasileiros em 2002. Multinacionais, empreiteiras e banqueiros agradecem desde então.

Ultimamente José Sarney, patriarca do atraso, tem como esporte predileto espinafrar a reputação de Marina Silva. O mesmo faz Maluf e a campeã do agronegócio, Kátia Abreu, convertida ao dilmismo-lulismo. Entre eles e Gilberto Gil, que acaba de compor uma canção para Marina, o Brasil moderno fica com quem?

Contudo, o petismo sedutor e aderente tem obliterado a nossa percepção crítica da realidade. É um dos principais elementos do governismo dos movimentos sociais na última década.

A principal tarefa dos que querem mudança nesse estado de coisas é derrotar o PT, onde quer que seja, nessas eleições. E com essa derrota, enterrarmos esses coronéis sobreviventes da era Lula.
Nessa mesma Bahia, na qual tive de enfrentar em minha pós-adolescência aqueles referidos “comunistas”, em debates públicos acirrados, alguns no famoso “Bar-68″ no Rio Vermelho, defendendo – como fez por anos Marina Silva – Lula e o PT, tive de viver para vê-los, Lula e os “comunistas”, agora pedindo aos baianos votos para eleger senador um nanista da estirpe de Otto Alencar.

Num comercial, abraçado em cena que lembra A Revoluçao dos Bichos, de Orwell, Lula sorridente chega a dizer, com orgulho, que nas eleições para a presidência em 2002 (quando disputou o segundo turno com José Serra, PSDB), Otto Alencar votou nele, Lula.

Esquece de mencionar que a ordem do voto partiu de ACM, que engajou-se na campanha contra Serra e deu a vitória a Lula na Bahia. ACM era um prático na política. Sabia que tal opção resultaria, como resultou, na garantia da sobrevida dos coronéis nordestinos.

Essa turma embriagada pelo poder desde que o PT se tornou governo em 2003 já cacifou um outro ex-carlista, João Durval Carneiro, para o Senado, em 2006. Preterindo a candidatura à época de Olívia Santana – que, desde então, se vê jogada daqui para lá, e aceita, nas mãos desses caciques. Agora concorre à deputança estadual (PCdoB), ela cujo voto honra qualquer eleitor.

Mas Wagner quer substituir um senador narcoléptico por outro afásico. Até aí,  a meu ver, neca de catibiriba.

O problema é quando a propaganda governamental quer nos convencer que o atual vice-governador do Estado nada tem a ver com o carlismo. Que é, como diz Lula na TV, um homem trabalhador, ilibado, fazedor de coisas.

A plutocracia familiar na região do município de Ruy Barbosa o que pode nos dizer é ser Otto Alencar o protótipo de coronel de baixo coturno. As bactérias, em comparação a organismos maiores – como o lulismo -, por serem minúsculas nem por isso são menos perigosas que José Dirceu.

O DNA de Otto é carlista – como também o é o de seu principal contendor na disputa, Geddel Vieira Lima, atual dono do latifundiário PMDB.

Aliás, houvesse jornalismo forte e economicamente independente na Bahia, a família Vieira Lima mereceria passar por um escrutínio investigatório de sua ascensão nas recentes três décadas e meias, desde aquele mesma ditadura militar.

Se Geddel, junto com carlistas dissidentes, contribuiu, há oito anos, para a vitória e reeleição de Jacques Wagner, mas agora faz oposição a este, ao menos demonstra que seu carlismo, não sendo medular como o da raposa Otto, adapta-se às circunstâncias. Eleger um ou outro é trocar 6 por meia-dúzia.

Conclusão óbvia a que aqui se chega? O círculo viciado e vicioso mantido pelo projeto de poder não apresenta novidades. Por decorrência, Eliana Calmon seria a melhor e mais necessária representante da Bahia no Senado, ao contrário do modorrento “companheiro Otto” – como quer o enjoativo Lula malufista – e do desconfiável Geddel.
Somente um milagre – ocorrência descartável em política – converteria suas excelentes qualidades em vitória nas urnas dia 5 de outubro. Retifico o que disse em post anterior, de ser hora de a Bahia menstruar.

Tá complicado para Eliana. Por estar o PSB na Bahia, por Lídice da Mata e Domingos Leonelli, contaminado pela Stockholmsyndromet, em relação ao sanguinário governo Wagner/Rui Costa.

Diga-me com quem andas… e eu te direi se vou contigo, dizia o Barão de Itararé.

Tal projeto urge ser derrotado. Até para o bem da democracia, que pressupõe alternância de poder.

Ainda mais se esse poder for exercido para deixar tudo no mesmo ou para piorar a vida das pessoas (exacerbação da violência, aumento da dependência do assistencialismo de “bolsas”, tutela dos movimentos sociais), como se registra de 2006 para cá.