E a "compaêrada" abraçou o coronel
No dia 16 de maio a invasão do prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) completou dez anos. Triste aniversário. De domingo para cá, alguns veículos de comunicação entrevistaram vítimas daquele confronto que manchou a recente História da Bahia. Naquele dia de 2001 policiais militares, fora da lei, invadiram o prédio da faculdade e agrediram estudantes e professores (19 ficaram feridos) que protestavam pela cassação do então senador Antonio Carlos Magalhães.
A consequência de toda a confusão e agressões não gerou mais que um processo judicial, que resultou - acredite! - em uma multa de R$65,15 aplicada ao coronel Walter Leite, comandante da operação.
Era governador na época César Borges. Seu vice, também carlista de quatro costados, era Otto Alencar.
Nesses dez anos a ideologia e o sonho de muitos em tornar a Bahia livre de uma metodologia de governo que só fez mal ao Estado por décadas não existe mais. Primeiro, Lula assumiu a Presidência da República, depois Wagner assumiu o governo. E ambos cultivavam a ideia - que naquela época ninguém imaginava ser possível - de juntar no mesmo governo ex-adversários em lugar dos sonhadores.
Assim, o vice de César Borges é o vice de Wagner. E César Borges só não é senador do grupo petista porque não quis, apesar da insistência do governador Wagner em contar com ele preferiu Geddel e perdeu.
Coisa para deixar maluco quem se ausentou da Bahia por dez anos e retornou sem saber dos acontecimentos políticos.
Ao jornal A Tarde de domingo, 15 de maio, página B2, Otto Alencar disse: "Considero um erro de César Borges ter atendido ao senador (Antonio Carlos Magalhães) ao dar a ordem de impedir o direito de ir e vir de estudantes em pleno regime democrático". Na mesma reportagem consta que, por meio de sua secretária, César Borges respondeu ao jornal que não iria comentar a invasão.
Não satisfeito em acomodar velhos e novos adversários ao seu lado, o governador Jaques Wagner resolveu nomear comandante-geral da Polícia Militar o coronel Alfredo Castro (foto). Em 16 de maio de 2001, ele era major e executou a ação do Batalhão de Choque - do qual era comandante - na invasão da Faculdade de Direito da UFBA.
No documentário "Choque", de Kau Rocha, o agora comandante-geral da PM do governo petista aparece agredindo um estudante. Procurada por A Tarde, na mesma reportagem citada acima, a PM enviou nota com suas explicações "o então major Alfredo Castro e sua tropa cumpriram as determinações do planejamento da ação policial."
Os dez anos da invasão foram lembrados durante a segunda-feira, 16 de maio, na Faculdade de Direito, com mesas-redondas, exposição de fotos e lançamento de livro. O mais interessante é que a maioria dos participantes e boa de intelectuais e pseudo-intelectuais falam do assunto como se fosse algo abstrato. Não batem no governo, na criticam os equívocos e se sentem cumpridores do dever mantendo sua fúria em 2001 com ataques ao hoje defunto Antonio Carlos Magalhães, como se o governo da "compaêrada" não mantivesse em seu ninho de cobras os vilões de outrora.
Certos estão cidadãos como o Jheremmias, do Consulado Social que escreveu sabiamente em seu Twitter:
"Tive o desprazer de ver vocês na cerimônia do novo comando da PM. Vocês que apanharam desse moleque de recados da força opressora da Bahia".
"Tenho receio de vocês que hoje bajulam os opressores do passado. Tenho o desprazer de conviver com vocês".
No excelente blog À Queima Roupa você vê mais detalhes sobre a covarde ação policial contra estudantes e professores naquele 16 de maio de 2001, já devidamente esquecido pelos petistas que abraçaram e deram afetuosos tapinhas no ombro do coronel Alfredo Castro.(POor Bonfim Brown)