Colunistas / Filosofia Popular
Rasta do Pelô

RASTA "MANGA" DA GARÇONETE MÁRCIA DENDÊ E SUA SUSTENTABILIDADE

Chega de tanta sustentabilidade
25/07/2012 às 08:05

Foto: DIV
Moqueca de dendê com pimentão e cebola da sustentabilidade e coentro sustentável
   Até a garçonete da Cantina da Lua, a gloriosa Márcia Dendê, veio com esse papo de sustentabilidade para o meu lado ao me servir uma gelada e a moqueca de tilápia que é a minha preferida nas terças-feiras das bançãos, onde se reza de menos; e se bebe de mais.

   Ora, disse com meus botões, será o benedito, onde quer que se vá entra esse papo de sustentabilidade e terceiro setor como se a gente, nós do povo, que batalha pelo sustento do dia-a-dia soubesse o que diabo isso significa.

   E Dendê, cuja sustentabilidade maior, no meu modo de ver é a sua volumosa bunda, tanto que minha senhôra detesta quando faço ponto na Cantina com mais demora achando que estou a dizer algum galanteio a glamurosa e respeitosa garçonete, assim como me considero ingualmente respeitador e não sou de fazer essas coisas, veio me sugerir que, de agora por diante, coma a muqueca sem deixar resto algum no prato, e se algo sobrar que leva para o próximo, arguindo que eu devo, de agora por diante, "não desperdiçar nada, reciclar tudo e tomar pouco emprestado".

   Agora veja você se sou pessoa de despediçar nada, se reclamo todo dia com os meninos lá de casa pra assistir televisão com a luz da sala apagada, que oriento minha senhôra a abrir a geladeira o menos possível para não gastar energia, que reciclo tudo, que o couro do meu tamborim é reciclado, que a baqueta do meu tamborim é de material reciclado, e que detesto tomar emprestado qualquer coisa de alguém, mesmo um punhado de açúcar da vizinha naquela hora que faltou em casa e não dá mais para ir na venda, vou comer esse lero de Dendê.

    Então, Dendê você vá com seus ensinamentos de sustentabilidade para outros, porque de ecochatos estou por aqui (fez sinal com a mão a altura do pescoço) e se tem uma pessoa que valoriza a transparência, que planeja tudo sistematicamente, que participa de grupos de debates, que analisa cada compra na venda, esse camarada sou eu.

    Daí que, se tem uma pessoa que pratica a sustentabilidade sou eu e não esse papo dos ecochatos e dos políticos, porque eu pratico, eu sinto na pele a sustentabilidade, não uso combustível nem biocombustível porque ando de bicicleta, as toucas que vendo na Ladeira do Pelô são fabricadas pela minha senhôra de material reciclado, os quadros que pinto são com tintas a base d'água, conforme me ensinou Ed Ribeiro, pincéis com fios de plásticos de garrafas pet reciladas, então sou, na pratica a própria sustentabilidade.

   É claro que não iria dizer essas coisas todas a minha amiga Márcia Dendê porque não cairia bem, ainda assim, liberei liberou nos seus ouvidos uns dois leros de filosofia popular para que a mesma não fale mais na sustentabilidade de minha moqueca e enchi minha pança sem maiores delongadas tomando minha gelada na maior sustentabilidade, entendendo que pimentão vem da terra e é sustentável, assim como cebola e coentro.

   E mais não disse nem consultei meu amigo Badu, o intelectual de bigode, porque não iria incomodá-lo diante de pouca coisa e fui rezar meu terço para São Domingos.