Cultura

LISBOA, CAP 18: IGREJA E MONASTÉRIO SÃO VICENTE DE FORA OSTENTADORES

Visita realizada apelo autor em janeiro de 2022
Tasso Franco , Lisboa | 22/06/2022 às 04:50
A história de Portugal contada em azulejos
Foto: BJÁ

  Depois de percorremos a Feira da Ladra de ponta-cabeça decidimos ir até o Panteão Nacional, onde estão sepultadas celebridades portuguesas, porém, como estava fechado apenas o olhamos por fora e decidimos subir a ladeira do Campo de Santa Clara até a Praça São Vicente para visitarmos a Igreja e o Monastério de São Vicente de Fora, conjunto arquitetônico e religioso dos mais valiosos da cidade, quer por sua dimensão, inovação arquitetônica, localização e valores em obras de arte do patriarcado da capital portuguesa. 

   Abriga, em sua monumental azulejaria a história de Portugal - no momento há uma exposição sobre as Fábulas de La Fontaine, todas as histórias em painéis de azulejos - e a história da igreja no país com painéis em óleo de todos cardeais do patriarcado de Lisboa.

  São de uma monumentalidade que impressiona com imensos corredores sustentados em arcos, peças valiosas em ouro e prata e tudo isso o visitante pode ver incluindo uma subida a torre do monastério - 210 degraus ida e volta a partir da portaria - donde se tem uma visão espetacular do rio Tejo, da sua boca de entrada na altura da ponte Vasco da Gama pagando 5 euros. O acesso à igreja ao lado do monastério - na verdade um corpo arquitetônico integrado - é gratuita.

   Minha neta puxou a fila em direção ao topo do monastério com suas pernas de ema, ágeis, próprias de uma jovem de 16 anos de idade, cheias de gás. La señora Bião de Jesus tentou segui-la, pero preferiu acompanhar minha pisada que é lenta, porém, firme. Subir mais de 100 degraus de um fôlego só não dá mais, nem que São Vicente desse um empurrãozinho. Fui portanto, cadenciando os passos e cheguei vivo e com fôlego para apreciar paisagens de Lisboa e do Tejo.

  São Vicente - santo pouco cultuado na Bahia - é o padroeiro de Lisboa quando suas relíquias foram transferidas do Algarve para uma igreja fora das muralhas, as antigas muralhas romanas, em 1173. Daí advém o nome São Vicente de Fora (de fora das muralhas) quando D. Afonso Henriques mandou erguer um templo em louvor a São Vicente. Esse santo foi proclamado padroeiro de Lisboa em 1173, quando as suas relíquias foram transferidas do Algarve para Lisboa. 

  Realmente, o observatório é fantástico. Vê-se que os frades devotos de Santo Agostinho tinha desde o século XVI um local de contemplação e meditação extraordinário. - Estamos no céu, disse minha neta fazendo pose para uma foto numa das extremidades do topo. - Quase isso, respondi, completando uma frase que me dizia Pedro Irujo: - os padres e os bascos sabem morar bem. - Ele que viesse morar aqui no século XVI para beber água de poço e congelar no inverno sem aquecedores a gás, ponderou a señora Bião.

  De fato, no mosteiro tem-se uma ideia de como viviam os frades nos séculos passados da idade média e do renascimento, as dificuldades que enfrentavam e como se viravam para conseguir fiéis às suas pregações religiosas numa cidade católica por excelência cujo santo predileto é Antônio, ainda hoje o mais querido de Lisboa, quiçá um dos mais queridos no mundo europeu e do Brasil. Ademais, manter uma igreja e mosteiro com a grandiosidade que são São Vicente de Fora precisa-se de uma dedicação extrema e intensa mão de obra. 

A história das construções remonta o pós-ocupação árabe em Lisboa.  Dom Afonso Henriques - ou Afonso I - foi o primeiro rei de Portugal cognominado "O Conquistador" responsável pela expulsão dos árabes, o qual reinou entre 1140/1143 até o Tratado de Zamora. Era filho de Henrique, Conde de Portucale e sua esposa Teresa de Leão, que, com a morte do conde Henrique, "ascende rapidamente ao governo do condado, o que confirma o carácter hereditário que o mesmo possuía". Com a ajuda dos cruzados e outros expulsa os árabes de Portugal e instala o reino.

OBRA QUE EXISTE ATUALMENTE

A construção da obra atual se inicia em 1590 pela mão do arquiteto e engenheiro Filippo Terzi (1520 - 1597) segundo um desenho do arquitecto espanhol Juan de Herrera (1530 - 1597), e o arquitecto português Baltasar Álvares. Este último leva consigo uma aprendizagem erudita do Maneirismo romano adquirida através de seu tio arquiteto e engenheiro português Afonso Álvares. Nasce assim um novo estilo arquitetónico em Portugal que viria a servir como modelo nas seguintes construções religiosas. A obra foi concluída em 1627.

Na igreja é possível identificar nesta igreja a presença dos estilo Góticos e Barroco. Devido à forte presença militar e religiosa a arquitetura portuguesa, em certa medida terá sido censurada, mantendo os princípios de estilos anteriores.

É considerada a grande obra arquitetônica da Dinastia Filipina (espanhola) e serviu como modelo nas seguintes construções religiosas. Foi mandada construir fora das muralhas, e por esse motivo surge o nome de São Vicente de Fora.

A igreja e o mosteiro contam com um notável recheio artístico do século XVII, época de D. Pedro II e de D. João V, reconhecido por um período que foi rico para as artes. Contém peças de azulejaria barroca com mais de 100 mil azulejos do período barroco, fábulas de La Fontaine e algumas pinturas de renome desde Século XVII até finais do século XVIII.

Toda a história de Portugal está contada na azulejaria e cada painel - incluindo os das ladeiras das escadas - revelam cenas da vida portuguesa no campo e na cidade, as vinhas, a lavoura do trigo, as tabernas, as carruagens com gente da corte, os pobres, os artesãos, enfim, o cotidiano português. Saímos do Monastério como monges orando aos céus e penitentes. Iriamos enfrentar a Calçada de São Vicente para chegar a Baixa Pombalina.