Cultura

AS MIDIAS DA FRANÇA E DO BRASIL E O TEMOR DA GUERRA DA UCRÂNIA (TF)

O maior temor dos franceses (e da Europa de uma forma geral) é uma III Guerra Mundial com uso de armas nucleares
Tasso Franco , PARIS | 02/06/2022 às 04:46
Ontem, manobras da Rússia com armas nucleares na Ucrânia, mostradas pela TV francesa
Foto: REP
      Há uma distinção substancial entre o noticiário da midia francesa e da brasileira, o que é natural diantes das diferenças culturais entre os dois países, mas, ainda assim, ouso fazer algumas observações que considero relevantes uma vez que sendo jornalista brasileiro de longo curso e passando uma curta temporada de 90 dias em Paris, tenho visto esses comportamentos diferenciados estando na capital francesa há apenas 30 dias, porém, acompanhando pare-passo as duas midias.

    O noticiário geral nos veiculos franceses - jornais impressos, veiculos on-line e TV (não assisto rádio porque meu francês é ralo) dá destaque prefencial, diário, a Guerra da Ucrânia, assunto que é muito comentado em todas as camadas da sociedade, uma vez que a comunidade europeia teme uma terceira guerra mundial. 

    E essa foi uma das preocupações do presidente Emmanuel Macron, na última campanha à sua reeleição (eleito em 24 de abril para mais 5 anos de mandato), ele que é jovem, apenas 44 anos de idade (nascido, portanto, muito depois da II GM), o qual disse que jamais pensaria que isso pudesse acontecer, porém, diante do que se passa na Ucrânia tudo é possivel.

    E os europeus, em pesquisa recente, muita destacada na TV francesa, mais de 70% dos adultos temem o uso das armas nuclearas e a Rússia exibiu, ontem, na sua TV, imagens de um poderoso missil nuclear capaz de parcorrer 1.000km e atingir um alvo onde a programação computadorizada indica. 

   Esse temor de um conflito com proporções nucleares é real, muito comentado, pois, a tragédia da II Guerra na comunidade francesa está viva, permanentemente, e a TV, no momento, exibe um documentário extenso sobre a invasão da Normandia e a expulsão dos nazistas com imagens dolorosas.

  Ou seja: esse é um tema (não restrito a França) que está está sempre no ar, efervescenete, para que as novas gerações tomem conhecimeno e as pessoas assistindo agora a Guerra na Ucrânia com aviões supersônicos russos bombardeando e destruindo cidades, uso de armas semi-nucleares, tudo isso causa muito temor. 

   Até mesmo, nós, os esrrangeiros, somos contaminados por esse clima. Ontem, a TV francesa mostrou manobrs militares com 1000 soldados russos (vide foto rep) e a utilização de armas nucleares (foguetes) montados em caminhões. Isso aumenta  pavor na população.

  Essa, talvez, seja a gande diferença do noticiário na França e no Brasil uma vez que, no Brasil, esse assunto fica num terceiro ou quarto plano, a midia nacional centralizando suas forças no bombardeio ao governo Jair Bolsonaro, esse o tema preferencial, considerado o algoz de todas as demandas.

  Um outro tema muito abordado na França - e aí temos uma semelhança com o Brasil - é sobre a inflação, o aumento do custo de vida, a moradia e a deficiências na saúde pública.

   A premier Elisabeth Borne, que assumiu recentemente o cargo nomeada por Macron, estabeleceu como meta principal deste segundo mandato de Macron, recuperar o poder de compra dos franceses.

   Isso significa, em miudos, uma operação ampla que envolve o fortalecimento da agricultura, da indústria, um programa de habitação, melhorias no salários, fortalecimento do euro e uma série de ações paralelas incluindo a ecologia (a França pretende ser potência ecológica) ações que serão tomadas em médio e longo prazos.

  Nada fácil porque (voltando a guerra da Ucrânia) a Rússia detém o poder de gás e petróleo para parte da Europa e com a anexação da Ucrânia (já ocupou uma boa parte do pais) tende a controlar o trigo e áreas que são celeiros agricolas e abastecem, também, parte da Europa. 

   Vê-se, que a missão é árdua e todo mundo torce pelo fim da guerra, mas, Putin, o ditador da Rússia, não dá a mínima bola para o que a comunidade europeia fala e se mantém firme na conquista da Ucrânia, pelo menos em boa parte do seu território. Até o papa Francisco já apelou para o todo poderoso 'czar' russo que o trigo não deve ser moeda de troca na guerra. E, o rei Pelé, também fez seu apelo ao ditador.

  Na França, a gasolina e o óleo diesel já subiram para patamares acima de 2 euros (2.15 a 2.20) e isso a madame Borne não tem como controlar. 

  O país está em campanha para o Parlamento (Câmara e Senado) com eleições previstas para 10 de junho e os partidos da esquerda e da direita bombardeiam Macron (cenrista) dizendo que ele governa para os ricos e o presidente, só recentemente, (hoje foi a Marselhe) entrou nesta campanha para tentar derrotar, mais uma vez, Marine Le Pene (a lider da direita) e Jean-Luc Mélenchon, atual líder da esquerda do movimento França Insubmissa e que agregou os partidos socialista e o verdes. A expectativa é de que o partido de Macron vença com maioria apertada.

   A abordagem em relação ao Brasil é, também diferenciada, uma vez que Bolsonaro - o culpado de tudo mesmo reduzindo a taxa de desemprego para 10.5% - é da direita e as forças de oposição são da esquerda e da centro esquerda (Alckmin-Lula) e os espaços dados a Bolsonaro na midia são pequenos, uma vez que, o presidene sequer tem uma Secretaria de Comunicação atuante. Na França, os espaços são iguais.

   Outros temas muito abordados pela midia francesa são a ecologia, a saúde pública, o esporte - futebol, ciclismo, tênis e futebol americano, pela ordem - agora, em especial, o esporte com mais destaque diante do fiasco que foi o jogo final da UEFA Liverpool x Real Madrid, em Paris, com invasões ao estádio e falsificação enorme de ingressos. A imprensa, agora, questiona até se a França tem condições de sediar os Jogos Olimpicos de 2024, com sede em Paris.

   Os programas esportivos nas TVs são exaustivos, longos, com muitos comentários até parecidos com os programas brasileiros. Nisso se assemelham. 

   A diferença é que, na França, os esportes são mais diversificados e o torneio de tênis Roland Garros, realizado em Paris, tem uma destaque enorme com transmissões ao vivo e eventos em vários pontos da cidade. Os franceses também destacam muito o ciclismo, uma paixão nacional, e há circuitos por todo país com calendário anual.

   No  mais - também assemelhados ao Brasil - há os programas de música, de auditório, documentários e os importados. Bem, novelas, por aqui, não as vi. E programas evangélicos, muitos menos. (TF)